Economia

Apoio da União Europeia: "Atlas eólico" demonstra enorme potencial de energia limpa no ES

O atlas é o resultado de oito meses de pesquisas financiadas pela União Europeia com o Ministério Alemão para o Meio Ambiente

Foto: Divulgação/Findes

Foi lançada oficialmente na manhã desta sexta-feira (26), em evento realizado na sede da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), em Vitória, uma plataforma que mapeia o comportamento dos ventos no Estado. Chamada de “Atlas eólico”, a ferramenta é valiosa para a atração de investimentos no setor de energia limpa do Espírito Santo.

O atlas é o resultado de oito meses de pesquisas financiadas pela União Europeia com o Ministério Alemão para o Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear (BMU) no contexto da Iniciativa Climática Internacional (IKI), em parceria com diversas instituições brasileiras. O desenvolvimento ficou por conta do Instituto Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Inovação e Energias Renováveis (ISI-ER).

De acordo com o pesquisador do Senai, Ranieri Rodrigues, profundo conhecedor da plataforma, a ferramenta, que é uma importante atualização da versão de 2009, que era totalmente analógica, é valiosa para atração de investimentos no Espírito Santo, que apresentou potencial impressionante em termos de geração de energia a partir dos ventos.

“O Atlas é de acesso livre e gratuito. A partir dessa plataforma vamos nos comunicar com outros segmentos e apresentar o potencial capixaba. Nele são disponibilizadas ferramentas interativas que permitem acesso aos dados do recurso eólico onshore e offshore do Estado do Espírito Santo. A navegação principal tem formato semelhante ao Google Earth”, disse.

Foto: Divulgação / Governo do ES

Segundo o pesquisador, as áreas investigadas e apresentadas no atlas, cobrem, na área offshore (ao largo da costa), em até 250 quilômetros além da zona costeira. “Agora são necessários os refinamentos. O atlas não elimina a necessidade de cada um fazer o dever de casa: de medir, estudar, remodelar e seguir. Ele significa uma nova forma de comunicação do setor eólico com todos os outros. Agora é entregar os dados ao setor produtivo”, acrescentou.

“O atlas é uma ferramenta de comunicação do estado com as academias, instituições de pesquisa, mercado, governo e indústria. A partir desse momento, o ES tem uma forma ativa de comunicação, que vai intensificar a forma de vender os bons ventos com sustentabilidade. Nós pesquisadores nunca vamos parar de prospectar energias, porque precisamos, é claro, fornecer energia”, continuou Rodrigues.

Aumento impressionante na capacidade

Também presente no evento sediado no Findes, esteve o secretário de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação Profissional e Desenvolvimento Econômico, Ricardo Pessanha, que fez questão de ressaltar que houve um salto na capacidade de geração de energia eólica no Espírito Santo desde os dados de 2009.

“Ele efetivamente reflete todo o potencial que o ES tem em energia eólica, que é o tema que move as discussões ambientais no mundo, no tocante à mudança da matriz energética e uso de energia renovável. Reduzir a emissão de carbono e minimizar problemas ambientais são uma busca real”, afirmou.

De acordo com dados comparativos, o secretário citou a mudança do potencial de geração de 4 mil Gigawatts para 142 mil Gigawatts, para ventos iguais ou superiores a 6,5 metros por segundo na altura de torres e pás eólicas de 100 metros de altura.

“Isso é fantástico e surpreendeu até os mais otimistas pesquisadores da área. O Espírito Santo se coloca de vez na rota dos principais cenários de exploração de energia eólica do Brasil. O que conseguimos mapear é que, somando todos os cenários, conseguiríamos, em tese, produzir energia para sustentar metade do consumo do Brasil durante o ano, a depender, claro, de uma exploração plena, em 100% da capacidade, o que é muito difícil acontecer. Mas é o suficiente para demonstrar onde podemos chegar”, revelou.

Somado ao potencial gerado pelo comportamento dos ventos, o secretário explicou que a expertise que o Estado tem com óleo e gás, bem como com a atuação offshore em função do petróleo, faz com que aqui seja um local diferenciado a ser explorado.

“São números impressionantes e isso movimenta setores da economia que nem conseguimos imaginar. A cada Megawatt instalado, são gerados 15 empregos diretos e indiretos. Ou seja, estamos diante de uma matriz que muda a realidade de qualquer estado e o ES se insere de vez no mapa da energia renovável, eólica. É muito gratificante termos conseguido estar nos investimentos da União Europeia e do governo alemão. Agora trouxemos essa ferramenta maravilhosa”, disse.

“Sempre falo que o ES é parecido com o Ceará em potencial”, diz presidente da Findes

Na fala de abertura do evento, Cris Samorini, presidente da Findes, afirmou que, ao longo dos últimos anos, muito vem sendo debatido sobre a questão energética, que claramente impacta muito nas indústrias. Segundo ela, a ideia agora é pensar no futuro e a agenda apresentada nesta sexta (26) mostra o caminho para trazer a mudança.

“O Brasil já está inserido neste cenário e o Ceará é o grande exemplo. E sempre digo que o ES é bem parecido com o Ceará em potencial, é só um tonzinho de vermelho abaixo. Temos identificado nestes estudos que temos um potencial enorme”, brincou.

Samorini contou que foi feita uma escolha no início do ano para colocar como rota estratégica do Findes a energia. “Ela é transversal – envolve empresas, governos, especialistas, etc – e sabemos dos riscos que temos no momento. E queremos que o Brasil e o ES sejam uma possibilidade dentro da matriz de mudança. Em setembro vamos receber o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, que vai falar sobre a agenda de descarbonização. Será uma excelente oportunidade de mostrar o potencial do estado”, afirmou.

Segundo a presidente, o Findes foi a primeira instituição no Estado a assinar o compromisso que é a maior iniciativa voluntária de sustentabilidade corporativa do mundo, o Pacto Global da ONU. Com isso, a intenção é clara em trazer energia limpa e acessível.

Representante da União Europeia fala sobre importância da independência energética

Presente no modo online, Stephanie Horel, alemã que trabalha na delegação da União Europeia em Brasília, comentou a necessidade da independência energética e da diversificação das fontes de energia. Para ela, o atlas é um primeiro passo para ver as potencialidades e oportunidades do estado do Espírito Santo na matriz eólica.

Na fala dela, foram enfatizados dois últimos choques energéticos importantes, um que veio com a covid-19 e o outro, com repercussão ainda maior, trazido pela guerra da Rússia contra a Ucrânia.

“Nesse momento vemos a importância da independência energética e da diversificação da fonte de energia. Conhecendo a fonte eólica aqui, onshore ou offshore, que já na União Europeia conta com mais ou menos 15% da nossa matriz, significa um passo muito importante para conhecermos mais e trazermos investimentos, que são agora muito importantes porque estamos vendo que as empresas precisam de muita segurança, sobretudo no tema de energia, com todas as mudanças que temos visto no mercado mundial”, evidenciou.

“O caminho dos ventos é só para frente”, diz pesquisador

Em termos do cenário nacional, o pesquisador do Senai, Ranieri Rodrigues, brincou que “o caminho dos ventos é só para frente”. Nas palavras dele, o país saiu de 2001 com a intenção de contratar alguns poucos gigawatts e hoje já tem matriz com mais de 20 mil gigawatts de potência instalada.

“Se comparar os fatores de capacidade com o cenário mundial, que tem pouco mais de 36%, a nossa média nacional ultrapassa 40%, e, no período de bons ventos (que chamamos de safra), nós temos médias superiores a 50% de capacidade instalada. Definitivamente o Brasil tem as melhores condições climáticas do mundo para exploração da fonte eólica onshore e certamente offshore”, destacou o especialista.

Segundo ele, em termos de investimentos, nos últimos 10 anos, foram empregados, no Brasil, na fonte eólica onshore, mais de R$ 320 bilhões. Desses, R$ 110 bi são direcionados à construção de parques eólicos e, o restante, para atendimento da cadeia de energia.

“A métrica é essa: cada Megawatt gera aproximadamente 15 empregos. No contexto da exploração, temos condições excepcionais, reduzimos mais de 30% os custos de produção nesses últimos 10 anos. No cenário Brasil estamos perfeitamente consolidados. O caminho dos ventos é só para frente”, finalizou.