Banners viram sacolas ecológicas e fonte de renda para artesãs de Aracruz
Artesãs no Norte do Estado criaram ecobag para superar a crise durante a pandemia do coronavírus
De uma hora para outra não tinha mais evento, feiras e nem lojas abertas. Aí ficou complicado. As artesãs de Aracruz, Norte do Espírito Santo, não tinham mais como vender tudo que produziam.
Até que uma ideia junto com algumas parcerias fez o jogo virar. De um lado, empresas que queriam trocar as propagandas e precisavam descartar os banners antigos (aquelas lonas de plástico). De outro, mulheres com talentos manuais e passando aperto por causa da redução na renda.
Foi só juntar essas duas pontas para uma nova fonte de renda surgir junto com a sustentabilidade. As empresas passaram a doar as lonas de plástico para as artesãs. Elas criaram bolsas ecológicas, mais resistentes e coloridas do que as tradicionais ecobags. Assim teve início mais um projeto desenvolvido pela Associação de Artesãos de Barra do Riacho, em Aracruz, a Criarte.
"O Portocel (porto de Barra do Riacho) doou os primeiros banners e sugeriu que as artesãs criassem um produto. Fizemos as bolsas e a aceitação têm sido muito boa, tanto que vamos fazer mais produtos com o material, como carteiras, por exemplo. Queremos também colocar à venda em supermercados. É uma forma de gerar renda e ensinar sustentabilidade à nossa comunidade, explicou a presidente da Criarte, Hildete Caliman.
Economia circular
A ideia das ecobags acabou virando uma forma de economia circular. Você sabe o que isso significa?
É assim: empresas doam as lonas usadas em propagandas, para que não tenham um descarte irregular. As artesãs da Criarte confeccionam as bolsas e revendem para as próprias empresas que doaram o material. As bolsas podem receber a logomarca da empresa e cada uma utiliza como deseja. Ou seja, vira um círculo de sustentabilidade, de reaproveitamento dos produtos.
As bolsas feitas com as lonas são resistentes e decoradas, o que pode ser o diferencial de outras ecobags. Cada bolsa é vendida em média por R$18,00 e as artesãs já criaram três modelos.
- A bolsa capixaba que é mais comprida e pode ser usada para levar material como notebooks, por exemplo.
- A bolsa de compras, usada em supermercados e feiras
- A bolsa óleo, que vem com uma garrafa pet dentro e é usada para descarte de óleo de cozinha
As artesãs já venderam 400 ecobags, tiveram retorno financeiro para as famílias e a Criarte utilizou parte do dinheiro para a compra de duas máquinas de costura industriais para que o trabalho ´seja ampliado.
Incentivo e crescimento
O apoio de empresas e também do Sebrae têm sido fundamental nesse e em outros projetos da associação. A Suzano, maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo, já tem uma parceria de mais de nove anos com a Criarte, com orientação, organização em associações e redes, além da gestão e comercialização dos produtos.
"Na pandemia, a Suzano encomendou 25 mil máscaras às nossas artesãs. E com as ecobags não seria diferente, a empresa nos orientando e apoiando o trabalho para que a gente consiga expandir a produção e a venda das bolsas", contou Hildete.
A consultora de Desenvolvimento Social da Suzano, Vanessa Ronchi, ressalta que as artesãs da Criarte já resgatam a fauna e flora do ES por meio do artesanato. E agora, também estão envolvidas na economia circular. Com o olhar de transformar aquilo que ia para o lixo, elas estão gerando renda para esse grupo de mulheres.
“Acho que fecha um ciclo bacana quando pensamos na agenda do ESG, em que olhamos tanto a questão ambiental quanto a econômica. É uma transformação do resíduo e também desse grupo de mulheres”.
Social + meio ambiente + economia
Quando incentiva projetos como esses em comunidades locais as empresas conseguem unir essas três ferramentas, que fazem parte do conceito ESG (Environmental, Social and Governance ou Meio Amibiente, Social e Governança).
Quer ver como o conceito se encaixa de forma clara no apoio ao trabalho feito pelas artesãs?
Social: A empresa apoia e incentiva a comunidade local a trabalhar e gerar renda.
Meio Ambiente: Com o apoio e orientação da empresa, as artesãs buscam fazer as peças utilizando material que seria descartado, como as lonas de caminhão e banners.
Economia: Ao ajudar as comunidades com todo o processo de organização de finanças e de vendas, os moradores passam a ter uma fonte de renda mais sólida e podem até gerar emprego dentro e fora da família. Ou seja, a região, tem um ganho financeiro.
Lucros com agenda ESG
As empresas que já entenderam a importância de adotar a agenda ESG estão alguns passos a frente das outras. Ganham valorização maior do mercado e uma lucratividade baseada na sustentabilidade.
O doutor em Ciências Contábeis e Administração e professor da Fucape, Poliano Bastos da Cruz, explica que as empresas devem aderir o mais rápido possível ao conceito ESG, já que o retorno financeiro acontece de forma clara.
"A Suzano conseguiu captar 1 bilhão de dólares com o primeiro título da América Latina, voltado à diversidade e ao uso da água. Esse tipo de iniciativa tem tendência a ser um requisito que as empresas tenham a médio e longo prazo. Quando antes as empresas aderirem às práticas ESG, mais rápido vão conseguir ter lucro com esse tipo de ação."
Confira a fala completa do professor:
Menos plástico, mais vida
A confecção das ecobags é uma das formas de reduzir o plástico no meio ambiente. Você sabia que aquela sacolinha plástica que a gente leva do supermercado para casa, demora até mil anos para desaparecer do meio ambiente? Já parou para pensar quantas sacolas a sua família usa em cada compra?
Cada brasileiro leva para casa mais de 60 sacolas ao ano, sendo mais de uma por semana, ou seja, são 13 bilhões de sacolinhas plásticas por ano, no Brasil. Os dados são do Instituto Socioambiental dos Plásticos, Plastivida, associação ligada à indústria.
Muita gente reutiliza a sacolinha como saco de lixo, por exemplo. Mas, 20% das embalagens plásticas são descartadas de forma incorreta, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Com esse descarte irregular, o plástico para os rios, mares, lixões, e matas.
Não é à toa que as ideias para diminuir o uso do plástico se multiplicam: canudinhos, bolsas e copos ganharam versões de papel e tem cada vez mais consumidores.
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