Economia

ARTIGO | Por que os produtos importados estão tão caros?

A precificação dos produtos, principalmente os importados, depende de diversos motivos, desde uma guerra, fatores econômicos locais e até questões climáticas

Redação Folha Vitória

Foto: Freepik
*Artigo escrito por Elcio Cardozo, educador financeiro, mestre em Sociologia Política pela Universidade Vila Velha (UVV), especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital.

Desde meados do ano passado, o índice de inflação oficial do Brasil, o IPCA, vem apresentando quedas subsequentes. Em abril de 2022, o IPCA acumulado em doze meses atingiu a máxima desde 2002 e, especificamente em abril de 2022, a inflação foi de 1,06%, fato que desde 1996 não ocorria. 

Após quinze meses, a inflação registrada em agosto de 2023 foi de 0,23% e, no acumulado de doze meses, o IPCA registra alta de 4,61%.

Toda esta diminuição da inflação deveria indicar a redução dos preços de produtos para o consumidor brasileiro. De fato, verifica-se que isso ocorreu em diversos segmentos, mas, para produtos importados, isso não ocorreu.

Quando analisamos os preços de produtos importados pelo Brasil, existem diversas variações que podem impactar em sua precificação. Um deles é o câmbio: quando o dólar está mais alto em relação ao real, temos preços mais altos para o consumidor brasileiro.

Por outro lado, a valorização do real frente ao dólar torna os produtos importados mais baratos. Se verificarmos esta questão cambial nos últimos doze meses, temos um outro motivo para a diminuição dos preços de importados, tendo em vista que o dólar saiu da região de R$ 5,20 em meados de 2022 para os atuais R$ 4,85. 

Porém, conforme observado anteriormente, os preços dos importados encareceram para os brasileiros. Neste caso, entram outros fatores que também devem ser analisados.

Um dos produtos importados mais populares no Brasil, a farinha de trigo, teve uma forte valorização em 2022. O produto chegou a ficar 30% mais caro após o início da Guerra na Ucrânia. Ambos os países estão entre os maiores produtores e exportadores de trigo do mundo, sendo a Rússia a principal fornecedora de trigo para a população mundial.

Ao longo dos últimos meses de 2022 e início de 2023, os preços praticados no comércio do cereal no mercado internacional voltaram a diminuir. 

Porém, desde julho, os preços retomaram a trajetória de alta, após a Rússia voltar a atacar os portos ucranianos, destruindo armazenamentos do produto, além de suspender um acordo que permitia à Ucrânia exportar grãos pelo Mar Negro.

Outro produto bastante consumido pelo brasileiro é o azeite, que também encareceu bastante nos supermercados. 

Em um levantamento feito por empresas especialistas no tema, o preço médio do azeite subiu 50% entre 2021 e 2023. Mesmo com a redução da inflação na economia brasileira nos últimos 12 meses, o preço do azeite subiu 20% no mesmo período.

Neste caso, dois são os fatores que influenciam: questões climáticas e a economia local dos países produtores. Cerca de 66% do azeite consumido no mundo é oriundo de Portugal, Itália, Grécia e Espanha.

Em uma análise em relação à economia europeia, verifica-se que a inflação do continente em 2022 foi de 9,2%, número bastante expressivo para os níveis normais inflacionários por lá. Toda essa inflação faz com que a produção destes produtos se torne mais cara e, consequentemente, o valor final para o consumidor seja mais alto.

Já em relação aos eventos climáticos ocorridos, o período de poucas chuvas nas regiões produtoras fez com que a safra de 2022/2023 fosse quase 60% menor do que a média histórica. Com a baixa produção, o preço final para o consumidor se torna maior, conforme se verifica nos supermercados.

Neste sentido, podemos verificar que a precificação dos produtos, principalmente os importados, depende de diversos fatores: desde uma guerra, perpassando por fatores econômicos locais, até questões climáticas. A economia é bastante complexa e dispensa qualquer tipo de análise simplista.
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