Juros altos: entenda o impacto na economia brasileira
Por um certo ponto de vista, parece não fazer sentido manter juros elevados, mas é necessário ter uma visão mais ampla para falar desse assunto
*Artigo escrito por Zeller do Valle Bernardino, sócio da Valor Investimentos e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Economia do IBEF-ES.
Atualmente tem-se visto o surgimento de um movimento cada vez mais presente nas rodas de boteco, o dos especialistas em juros. Com a facilidade de acesso rápido à informação, julgar as decisões do Comitê de Política Monetária (COPOM) se tornou quase que um dever daqueles que gostam de acompanhar o noticiário econômico.
Afinal, ninguém gosta de juros elevados, tendo em vista que gera desaceleração da economia, prejudica as empresas, dificulta acesso ao crédito e derruba a bolsa de valores.
Portanto, por um certo ponto de vista, parece não fazer sentido manter juros elevados, mas é necessário ter uma visão mais ampla para falar desse assunto.
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Primeiramente, é preciso entender que juros é o preço do dinheiro. Como todo preço, ele é definido pelas condições de mercado.
Tentar controlar os preços, contrariando as condições de mercado, pode gerar distorções para a economia.
Nos anos 80, por exemplo, por conta da hiperinflação, o governo tentou controlar o preço dos alimentos.
O resultado disso foi a escassez de produtos, com prateleiras vazias nos supermercados. Não existe almoço grátis.
No caso dos juros de longo prazo, seu preço é definido através da gestão da dívida pública, isto é, o resultado do que os poupadores cobram para adiar suas decisões de consumo de acordo com a percepção de risco.
Com isso, se forma a expectativa de mercado para a taxa de juros. Se esta for ignorada, pode colocar em risco a credibilidade da autoridade monetária do país.
Um Banco Central que não prioriza trazer a inflação para a meta e manter a solvência do país, perde sua credibilidade e coloca o país em risco.
Em um passado recente, o Brasil teve um Banco Central que ignorou as expectativas de mercado e reduziu juros para “estimular a economia” e agradar o eleitorado. Isso ocorreu em um cenário de deterioração das contas públicas.
O resultado foi a pior recessão da história brasileira recente (- 7,2% entre 2015 e 2016, segundo o IBGE) e uma inflação de mais de 10% em 2015. Uma catástrofe econômica que demorou anos para estabilizar.
Portanto, é notório o descontentamento com o momento atual de juros elevados. Entretanto, essa é só a consequência, não a causa dos problemas. É preciso que se tenha um cenário propício para isso.
Enquanto não houver uma melhora na trajetória de crescimento da dívida, volta da inflação para a meta ou mesmo queda dos juros no exterior, dificilmente teremos um ambiente propício para uma melhora.
O importante é que o Banco Central não perca sua credibilidade, mantendo o foco em trazer a inflação para a meta.
Um país com uma política monetária sem credibilidade é um país que afasta os investimentos e prejudica seu futuro.
*Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo