Economia

"Jovens saem da escola sem saber o que querem da vida", diz especialista no Data Business

Bartira Almeida participou do terceiro painel do Data Business Educação, que aconteceu na Escola Americana de Vitória, na última quarta-feira (19)

Guilherme Lage

Redação Folha Vitória
Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

Os caminhos da educação precisam ser transformadores e isso significa também propiciar um norte para que estudantes saibam o que querem fazer com suas vidas. De acordo com Bartira Almeida, presidente e fundadora do Instituto Ponte, este é um dos maiores desafios a serem enfrentados pelo segmento, já que segundo ela, jovens saem da escola sem saber o que querem fazer de suas vidas. 

A fala da empresária fez parte do terceiro painel do Data Business Educação, que aconteceu na Escola Americana de Vitória, na última quarta-feira (19). 

Com o tema "O impacto social da educação", Bartira, acompanhada de Isabela Lana, diretora da Vertical Educação, falou sobre as necessidades de transformar a vida de jovens por meio do ensino. 

LEIA TAMBÉM: 

Educação além da tecnologia lidera debates no Data Business

Novos radares são instalados na Rodovia das Paneleiras; veja pontos

Igreja e prefeitura no ES brigam na Justiça por terreno de R$ 7,8 milhões

De acordo com Bartira, a fragilidade da educação no ensino médio se deve principalmente à dificuldade de fazer com que os jovens encontrem um propósito, uma área com que realmente se identifiquem. 

"O jovem não consegue fazer a conexão durante o tempo de escola com o que ele vai trabalhar. O Brasil conseguiu colocar todo mundo na escola, o que não conseguimos foi dar qualidade", disse. 

Isso faz com que cada vez mais se crie uma geração de pessoas "nem-nem", ou seja  jovens que não estudam e nem trabalham. 

"Tem um dado que me chama muito a atenção: um terço dos jovens no Brasil de 18 a 24 anos são nem nem, ninguém fala sobre isso. Que futuro estamos construindo? Um terço entre 18 e 24 anos não trabalha e nem estuda. Eu acho que hoje temos uma desconexão muito grande entre a escola e o mercado de trabalho", afirmou. 

É preciso ter objetivos 

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

O trabalho do Instituto Ponte, de acordo com Almeida, é fazer com que jovens em situação de vulnerabilidade social frequentem e interajam em universidades e centros de ensino geralmente destinados a pessoas mais favorecidas financeiramente. 

Isso é alcançado por meio de programas de capacitação e reforço escolar. Além disso, a independência financeira dos estudantes também é um ponto focal do trabalho do Instituto Ponte. 

Para ser contemplado o aluno precisa ter renda familiar per capta de até um salário mínimo e meio. A intenção é além de capacitar, fazer com que o jovem tenha sua própria renda multiplicada. 

"O resultado que eu mais gosto é que 28% dos nossos jovens em seu segundo ano de universidade já ganham 2,3 vezes mais do que sua renda familiar. Selecionamos alunos com no máximo um salário mínimo e meio per capita. Nossos alunos estão fazendo estágio ganhando em média de R$ 2500 a R$ 3500 de bolsa estágio, mais ou menos R$ 1 mil de bolsa alimentação", disse.  

Ainda segundo Almeida, este tipo de profissionalização ajuda a transformar não somente a vida dos alunos, mas de toda a família do estudante. 

"Quando um aluno meu vira médico, não mudei a vida desse aluno, mudei a vida de toda a geração para frente", afirmou. 

Brasil tem produtividade reduzida comparada a outros países emergentes

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

A produtividade média dos estudantes do Brasil também é motivo de preocupação, de acordo com Isabela Lanna. Segundo ela, o país tem índice de produtividade escolar bem abaixo do esperado quando comparado com outras nações emergentes. 

Quando comparado a potências como os Estados Unidos o cenário se torna ainda pior, uma vez que a produtividade média brasileira é quatro vezes mais baixa do que a norte-americana. Este tipo de problema afeta diretamente na qualidade da qualificação profissional dos estudantes após deixarem a escola. 

"Temos uma produtividade média quatro vezes menor que a americana, quando pensamos em países emergentes, o Brasil também tem produtividade menor. Investir no Brasil é muito difícil, porque não há mão de obra qualificada. Os RHs mostram a dificuldade de se contratar e ter pessoas qualificadas para trabalhar no dia a dia", afirmou. 

Ainda segundo ela, é preciso que os jovens sejam estimulados a continuar os estudos depois de saírem da escola, isso passa também por incentivos para o ingresso no mercado de trabalho. 

"E os 'nem nem' estão aí também para mostrar a importância do incentivo para continuar os estudos e a inserção no mercado de trabalho e a sua evolução ao longo tempo", disse. 

Falar de mercado de trabalho é falar do futuro

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

Mão de obra qualificada e educação adequada não são problemas para serem solucionados apenas a curto prazo. A empresária destaca que é preciso pensar no futuro para garantir uma boa geração de novos profissionais. 

Segundo ela, é preciso que a sociedade em geral se preocupe com uma educação de qualidade, não apenas o governo ou a iniciativa privada. 

"Ao falar de mercado de trabalho, estamos falando de futuro e do quanto a sociedade de uma forma geral, não só o governo, precisa de fato olhar a educação como um problema nacional para atuar de forma sistêmica e cirúrgica", disse. 

Lanna garante ainda que reformas na educação são urgentes,  não apenas em infraestrutura, mas também na grade curricular dos alunos. Mais do que apenas começar, é preciso dar continuidade a esses programas, segundo ela. 

"Estamos em uma toada de chegar em reformas que são importantes, como a reforma do ensino médio. Vemos que currículo conectado às necessidades do mercado, avaliação para entendermos o que está funcionando o que não está. Se temos continuidade nas políticas públicas vemos grandes resultados", afirmou.