Economia

Economista do ES explica como guerra em Israel afeta a inflação e os combustíveis

Ouvida pelo Folha Vitória, Flávia de Oliveira Rapozo explica como o conflito atinge diretamente a economia global e eventuais reflexos para o Espírito Santo

Erika Santos

Redação Folha Vitória
Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

A guerra entre Rússia e Ucrânia recentemente ensinou ao mundo que conflitos regionais têm o poder de ecoar por todo o cenário econômico global, afetando a vida de todos nós. Os preços dos fertilizantes dispararam, e isso reverberou no aumento dos custos dos alimentos em nossos supermercados. 

Diante disso, a pergunta que não quer calar: quais serão os impactos econômicos da guerra declarada entre Israel e o grupo terrorista Hamas?

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Segundo dados da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz), os valores exportados para Israel foram 0,08% das exportações totais do Espírito Santo em 2022 e 0,079% em 2023 (de janeiro a setembro). Já os valores importados de Israel corresponderam a 0,473% das importações totais do Espírito Santo em 2022 e 0,381% em 2023.

Ainda de acordo com a secretaria, os números mostram que Israel não está entre os principais parceiros do Estado no comércio exterior. 

"Importante ressaltar que também não há, até o momento, informações sobre interrupção nas relações comerciais de Israel com outros países. A Sefaz seguirá monitorando a situação e atuando preventivamente para minimizar a possiblidade de impactos que possam ser gerados com a continuidade do conflito internacional", informou a secretaria.

Para analisar o cenário de forma global, o Folha Vitória conversou com a economista Flávia de Oliveira Rapozo, membro do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo (Ibef), que compartilhou suas perspectivas sobre as consequências desse conflito.

A guerra da Ucrânia nos mostrou que mesmo conflitos regionais podem afetar a economia no mundo. Os preços dos fertilizantes dispararam e isso impactou no preço dos alimentos. Quais as consequências que o conflito entre Israel e Hamas podem trazer num cenário global?

Flávia de Oliveira Rapozo – Os últimos acontecimentos envolvendo conflitos entre a nação de Israel e o Hamas trouxeram à tona, novamente, o estopim que é aquela região, que há décadas está envolvida em guerras por conta do domínio de territórios. 

Com a economia globalizada, porém, é esperado que conflitos locais alcancem proporções mundiais, alguns de efeito maior do que outros. 

No caso em específico, as economias mundiais podem ser afetadas pela elevação do preço do petróleo, trazendo em seu bojo o risco de aumento da inflação global. Esse risco será potencializado se a guerra se alastrar pelo Oriente Médio, principalmente se o Irã se posicionar a favor do Hamas.

Foto: Divulgação / Ibef-ES
Flávia de Oliveira Rapozo é economista

Quais são as áreas que podem sofrer com uma eventual alta nos preços?

A maior parcela da atenção está voltada à questão do petróleo. Porém, ainda é cedo para estimar o quanto esse impacto será sentido em outras áreas, uma vez que conflitos dessa natureza tendem a gerar ainda mais incertezas no mercado, afetando o apetite a riscos e inibindo investimentos. 

Esses impactos poderão ser maiores ou menores a depender do quanto o conflito vai se alastrar para outros países do Oriente Médio.

O petróleo pode subir e forçar novos aumentos nos combustíveis?

Arábia Saudita e Irã têm um papel importante nesse xadrez. O movimento dessas nações e o envolvimento delas na guerra poderá trazer prejuízos ao fornecimento de petróleo, elevando preços dos combustíveis no curto prazo.

De alguma forma esse conflito pode ter algum impacto para os negócios realizados por empresas do ES na região?

Sim, em especial por conta do aumento dos preços dos combustíveis, a depender dos cenários pontuados acima.

Essa guerra pode forçar uma alta na inflação brasileira?

Existe um temor do mercado de que essa guerra possa impactar no aumento da inflação global. Mas, novamente, reforço que dependerá do quanto a guerra vai envolver outras nações. 

Se o conflito se mantiver entre Israel e o Hamas, e as forças israelenses conseguirem neutralizar os ataques na Faixa de Gaza, é possível que a situação seja mantida sob certo controle, não gerando impactos além daqueles que envolvem a perda das vidas e as constantes ameaças à segurança local, o que por si só, já é para se lamentar.

Esse é o tipo de guerra em que os países devem pisar em ovos e não assumir um lado para evitar impactos na economia? Por quê?

O ideal é que as nações se posicionem por meio da ONU, e num sentido de buscar sempre um discurso conciliador e de paz. A solução para o conflito do Oriente Médio está longe de ser trivial.

As partes envolvidas têm suas razões enraizadas em questões milenares que envolvem inclusive divergências religiosas, e opinar sobre isso, além da conta, é mexer num vespeiro. 

Por isso, o Brasil e demais países devem se ater a se posicionar por meio das instituições, em especial da ONU, e ter muita cautela.

Qual o impacto para o turismo religioso na Terra Santa?

O local atrai turistas cristãos, mulçumanos e judaicos, provenientes de vários locais do mundo, mobilizando milhões de pessoas. 

Nessa modalidade de turismo, a Terra Santa é o destino escolhido pela maioria dos brasileiros, geralmente organizados em caravanas de peregrinos formados por igrejas locais. 

A pandemia já havia trazido um impacto desastroso para o turismo mundial, e no último ano a retomada estava deixando o setor mais otimista. Apesar dos conflitos naquela existirem há décadas, havia uma sensação de que eles estariam restritos ao local conhecido como Faixa de Gaza. 

Assim, os turistas que visitavam Jerusalém Antiga, e Tel-Aviv, tinham a percepção de que a situação estava sob controle. 

Com o conflito atual, em que civis, inclusive mulheres e crianças, foram sequestrados, é esperado que a região seja menos procurada por turistas tanto do Brasil quanto de outras nações.

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