Capitalização da paixão: uma análise das finanças do Flamengo
A capitalização do clube foi possível graças a um trabalho sério e árduo de um grupo profissional que tomou medidas difíceis na gestão
*Artigo escrito por Lucas Reis dos Santos, engenheiro mecânico, especialista em Gestão pela FGV e Fundação Dom Cabral, diretor comercial na Casa do Serralheiro e membro do IBEF Academy.
Quando 6 jovens remadores se reuniram no Café Lamas, no Largo do Machado, para a fundação de um clube de regatas, jamais passou pela cabeça deles um cenário onde, anos depois daquele 6 de outubro de 1895, com o lançamento do barco Pherusa, mas que somente em 1912 se tornaria um clube de futebol, eles teriam criado o que se tornaria o maior clube de futebol do continente e um dos maiores do mundo.
A geração de ouro do Clube de Regatas Flamengo, com Zico e cia, veio a sacramentar e consolidar o Flamengo como o maior clube do Brasil, com números avassaladores e recordes de público, o que se esperaria que refletisse na gestão, ao capitalizar toda essa paixão com arrecadação, venda de jogadores e ingressos.
O que se viu foi o inverso desse cenário: endividamento, atrasos de salários e um amadorismo total nas décadas seguintes.
Até que, em 2012, um grupo liderado por Wallin Vasconcelos, até então diretor do BNDES, que continha outros membros relevantes, como entendedores de processos de gestão de alta performance, a exemplo do Luiz Eduardo Batista, presidente da SKY no Brasil, do Rodolfo Landim, portador de uma forte experiência em gestão no ramo do petróleo, entre outros membros com uma visão voltada para profissionalização do clube de regatas do flamengo.
Esse grupo estruturou um plano de gestão e de reestruturação, o qual envolvia desde uma auditoria de uma big four, para entender a real situação do Flamengo, até a definição de cargos e da estruturação de governança, palavras até então desconhecidas pelo flamengo desde a sua fundação em 1895.
Por uma questão burocrática no estatuto do clube, Wallin não pode assumir, e assim convidou Eduardo Bandeira de Melo a tocar o projeto, já bem definido pelo grupo, chamado “Flamengo campeão do mundo”.
Quando, em 2013, o grupo assume o flamengo, o primeiro passo é mensurar a saúde financeira do clube que, naquele momento, se encontrava em estado grave, respirando por ajuda de aparelho, como todos os clubes do Brasil.
Quando a Ernst & Young, depois de longos 3 meses, entrega o relatório e mostra a dívida do Flamengo numa soma total de R$ 750,7 milhões, o que resultou num valor 300% acima do esperado, deram a dimensão do tamanho da divisão de gestão que o grupo teria.
Excelente gestor de finanças, Rodrigo Tostes, o qual importa mencionar, pois colaborou para um avanço considerável de setores comercial e de marketing fortes, com o intuito de vender a marca Flamengo para toda sua nação.
Considerando atuações fortes em duas frentes, na perfeita harmonia entre responsabilidade nos gastos, no período de 2013 a 2018, o Flamengo não fez grandes investimentos em futebol nem trouxe jogadores badalados com altos salários. pelo contrário, liberou jogadores do elenco que tinham salários prejudiciais.
Um episódio que define bem esse momento é a dispensa do então ídolo Vagner Love, por receber valores que não condiziam com a realidade do clube no momento.
O projeto criado pelo grupo foi bem tocado pelo Bandeira de Melo, mas a austeridade e a responsabilidade financeira demoraram muito tempo para refletir em campo. Quando o clube começou a respirar, com contratações equivocadas e um amplo conhecimento em gestão, mas zero conhecimento em futebol, a glória que tantos rubro negros sonhavam veio somente com o lendário time de 2019, comandado pelo brilhante e marcante treinador Jorge Jesus.
Isso refletiu, nos próximos anos, num faturamento recorde para um clube da América do Sul, ao passar a marca de 1 bilhão de reais em faturamento, como mostrado em detalhes abaixo.
Balanços do Flamengo em 2019
Balanços do Flamengo em 2022
A capitalização do Flamengo foi possível graças a um trabalho sério e árduo de um grupo profissional que tomou medidas difíceis na gestão que, até então, nunca haviam sido tomadas.
Isso possibilitou colocar o Flamengo em outro patamar diante dos clubes nacionais, o que elevou suas receitas com negociações mais agressivas, além de vender melhor os jogadores da base, com uma melhor negociação do contrato de televisão e com a marca esportiva responsável pela produção dos mantos sagrados, além da construção de um moderno e europeu centro de treinamento, o que deu melhores condições aos atletas para desenvolverem seu trabalho.
Tudo isso reflete em campo, sendo o resultado o fator principal para capitalizarem essa paixão nacional, o que envolve 40 milhões de torcedores espalhados pelo mundo e que colocou o clube de regatas do flamengo como o 26º clube de maior faturamento do mundo.
Esse êxito não seria possível sem uma gestão séria e sem a magnética torcida rubro -negra.