Fórum IEL de Gestão

Guru da liderança no ES: “Não basta ter ideias inovadoras, é preciso executá-las”

Ram Charan está no Espírito Santo como principal palestrante do Fórum IEL de Gestão 2024; veja a entrevista completa

Edu Kopernick

Redação Folha Vitória
Foto: Edu Kopernick

O guru mundial de liderança e gestão, Ram Charan, tem uma mensagem clara para o empresário, de que é preciso ter ideias, mas elas não adiantam de nada se não forem corretamente executadas. E, segundo ele, cada líder precisa ter esse compromisso de execução.

O pensamento é só uma parte da entrevista exclusiva concedida pelo renomado escritor ao Folha Vitória. Ele está no Estado como conferencista principal do Fórum IEL de Gestão 2024. Durante o evento, líderes empresariais, gestores e especialistas debatem as principais tendências e desafios na área de gestão e liderança.

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O evento é promovido pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e está na 7ª edição. O tema deste ano é "Leadership: Inovação, Influência e Resultados". Inicialmente, Ram Charan falou para um grupo fechado de 40 empresários capixabas na manhã desta quarta-feira (30). Já à noite ele fala para a audiência geral, momento em que também serão apresentados os números do anuário das 200 Maiores e Melhores empresas do Estado.

Ram Charan nasceu em Uttar Pradesh, na Índia, em 1939, e é um autor best-seller, palestrante renomado e consultor de gestão. Entre as principais obras estão: Pipeline da Liderança; Execução, a disciplina para atingir resultados; e outros.

Confira abaixo a entrevista exclusiva:

Pela sua experiência, o que diferencia as empresas que se destacam na execução daquelas que têm dificuldades? E como os líderes podem fomentar uma cultura de execução?

O ponto principal aqui é que podemos ter muitas ideias, ideias inovadoras, mas, é preciso executá-las. E cada líder precisa ter esse compromisso. Então, o líder que executa bem é o ponto-chave. E existem cinco elementos, que estão em meu livro, Execution, com 4 milhões de cópias vendidas. Esses cinco elementos são testados e comprovados há séculos em todos os países:

Primeiro, o líder deve ter uma meta clara. Muitas metas não são claras. Precisa ser uma meta que as pessoas acreditem que pode ser atingida. Então, você pode desafiá-las a ir além. Na Índia, o Primeiro-Ministro Modi anunciou metas. Sua primeira meta, quando se tornou primeiro-ministro, foi atingir um PIB de US$ 5 trilhões. Ele não conseguiu atingi-la. Ele está bem com isso e afirma que avançaram muito mais rápido e muito mais alto do que imaginavam, mas não chegaram a US$ 5 trilhões. Agora, ele tem uma meta para 2030 e 2047. E essas metas foram bem recebidas, consideradas não apenas como tiros no escuro. Esse é o primeiro ponto.

Segundo, o líder deve dividir os problemas em partes menores e definir quais são as prioridades mais críticas para serem realizadas primeiro. Muitos líderes falham em fazer isso.

Terceiro, para cada prioridade, você designa um responsável e uma equipe. Se não fizer isso, elas nunca serão realizadas.

Quarto, você constrói um sistema de feedback e revisões.

E, quinto, você fornece recursos e recompensa as pessoas.

É uma coisa aparentemente muito simples, mas é uma das coisas mais difíceis de se fazer. Aqueles que o fazem, têm sucesso. Cada pessoa é fundamental para o sucesso das corporações, e os líderes fazem com que tenham sucesso se fornecerem as ferramentas necessárias.

Foto: Edu Kopernick

Como o senhor vê toda a evolução da transformação digital e quais estratégias as organizações devem adotar para se manterem competitivas no futuro?

Todos nós aqui somos consumidores de dados. Todos nós. E não há dúvida de que todas as empresas, todos os governos, todos precisam. A Índia fez alguns bons avanços, desenvolveu uma estrada digital onde qualquer pessoa pode se conectar, e agora estão vendendo essa infraestrutura para países vizinhos. Portanto, a transformação digital é essencial.

O que quero destacar aqui é que fazer a digitalização requer alguns passos muito simples. Quero que todos os líderes, incluindo o presidente, aprendam o básico da digitalização. Os especialistas estão à sua disposição. Ele precisa usar, ele precisa levar o governo a fazer isso. O Sr. Modi faz isso na Índia.

O senhor disse que visita o Brasil há 40 anos. Durante esse tempo, o senhor já veio ao Espírito Santo?

Não, a este estado, não.

Qual foi sua impressão sobre este Estado? Sobre os executivos daqui?

Primeiro, fiquei muito impressionado com os executivos das empresas. Eles são visionários, são agressivos, estão construindo.

Segunda coisa, fiquei ainda mais impressionado com a excelente relação entre os executivos, líderes e os funcionários do governo. O progresso depende da parceria entre o setor público e o privado. Minha percepção é que há uma boa parceria aqui no Espírito Santo.

Está em uma trajetória de crescimento. Sua taxa de desemprego é de cerca de 4%, o que é muito bom. Mas também me diz que você precisa de mais pessoas aqui para crescer mais rápido e melhor. Então, você precisa de algumas novas ideias para pensar sobre isso.

Como um líder pode fazer a diferença?

Duas coisas fazem a diferença. A cultura em que um líder foi criado desde a infância. Essa parte da vida do líder incorpora crenças e comportamentos que ele aprendeu com seus professores, com seus pais, com as pessoas para quem trabalhou. Isso condiciona como ele chegou até aqui, como ele realmente lidera. Mas alguns deles, ou uma pequena porcentagem, começam a ir cedo para outros países. E essas crenças começam a ser modificadas. Suas limitações mentais começam a se abrir.

No caso da China, o presidente não passou muito tempo fora. Seu sucessor, Deng Xiaoping, passou tempo na França. O presidente Xi Jinping passou muito tempo nos Estados Unidos. No Brasil, eu sei que vários dos presidentes do país passaram um tempo fora daqui. Aqui, temos vários líderes empresariais que foram educados nos Estados Unidos, na Europa. Assim, toda a liderança agora é mais ampla, melhor, diversificada. E você tem a oportunidade de acompanhar mais rapidamente o que está acontecendo no mundo. E é isso que determina como os líderes deixam de ser provincianos e se tornam mais amplos.

O senhor sempre diz que é muito importante que os líderes foquem nas pessoas. O senhor acha que os líderes têm tido dificuldades para se adaptar à diversidade?

Acho que a primeira coisa, a verdade universal, é que os líderes constroem uma nação. Líderes nos negócios, líderes no governo, líderes religiosos, líderes no trabalho social, líderes na defesa. Então, a liderança e a população de líderes guiam o país.

Então, estamos dizendo aqui: o que é liderança? Precisamos realmente definir o que é liderança. A liderança tem três pontos em comum, suficientes para alguns, mas não para todos.

O primeiro é liderar as pessoas, mostrar o caminho, conquistar seu comprometimento e motivá-las. Isso faz parte da liderança, seja você o diretor-executivo de uma empresa, o presidente de um país ou o líder de uma igreja. A primeira parte é mostrar uma visão positiva, liderá-los, inspirá-los, mostrar-lhes o que ainda não imaginaram e que podem fazer.

O segundo ponto é que eles devem estar muito comprometidos com a melhoria do bem-estar, das habilidades e das aspirações das pessoas.

E o terceiro é que eles precisam conduzir a nação em relação ao que está acontecendo no contexto mundial.

Qual conselho você daria aos jovens que estão tentando crescer nas corporações?

É uma verdade universal. A transição de liderança é um fato da vida. Teremos pessoas mais jovens que se tornarão grandes líderes. Os grandes líderes se tornarão líderes seniores e, em algum momento, eles partirão. Então, os fundamentos, a verdade universal, não mudam. Lidere as pessoas, mostre o caminho. Descubra onde focar e crie a mudança certa. Movimente a nação, movimente seu país, movimente sua indústria. Movimente sua empresa. No mínimo, acompanhe a velocidade da mudança. Essa verdade universal é importante.