ARTIGO IBEF

Jogos de azar no Brasil e a cultura do otimismo financeiro

Só o tempo dirá se o economista ganhador do Prêmio Nobel de economia, Milton Friedman, estava errado quando disse que “Não existe almoço grátis”, ou se certo

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Foto: Thiago Soares/Folha Vitória
* Artigo escrito por Luana Nandorf, gerente da Agência Sicredi Santa Teresa, proprietária da Nandorf Cafés Especiais, membro do IBEF Academy e do Comitê Qualificado de Conteúdo de Finanças do IBEF-ES.

Curioso como a economia é cíclica, já reparou? Existem ciclos de inflação, de crédito, de investimento e, mais recente, o ciclo dos jogos de azar tendo um novo ápice. É a cada dia mais comum pessoas assumirem que jogaram alguns reais ou abrirmos o jornal – que agora é eletrônico – e haver notícias sobre jogos de azar.

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Dentre elas, títulos que trazem alertas: “Empresa diz que vício em jogos on-line faz funcionários pedirem adiantamento de salário para cobrir dívidas”; que demonstram as evoluções nesse novo ciclo: “Como as apostas online estão se reinventando com ferramentas IA”, e outras ainda que falam como aproveitar melhor esse momento: “Melhores cassinos on-line: conheça as opções em 2024”. Tudo isso disponível com dois ou três cliques.

No Brasil, de acordo com a Lei nº 13506/17, os jogos de cassino, bingo e similares são considerados ilegais. 

Essa legislação proíbe expressamente a realização de jogos de cassino, bingo e similares no território nacional, mesmo que sob a forma de jogos eletrônicos ou não, pela Internet ou por outros meios de comunicação eletrônica.

Johann Goethe certa vez disse que “Ideias ousadas são como as peças de xadrez que se movem para a frente; podem ser comidas, mas podem começar um jogo vitorioso” e a cada dia vemos mais pessoas entrando nessa ousadia em busca de um xeque-mate, mas que podem ter suas peças fora do tabuleiro.

De acordo com a pesquisa “Pulso 2023” da Ipsos, 61% dos brasileiros não conseguem guardar dinheiro para investir, 34% conseguem fazer uma reserva e 5% dos participantes não souberam ou não responderam à questão. 

Dentro dessa pesquisa, quanto ao otimismo em relação à situação financeira, 60% das pessoas expressaram confiança de que seu padrão de consumo será melhor ou muito melhor nos próximos 12 meses. 

Além disso, 85% dos entrevistados manifestaram, de modo geral, a expectativa de que suas vidas serão consideravelmente melhores em 2024 em comparação com o ano anterior.

Reunindo essas informações, percebemos em parte o porquê dos brasileiros, esse povo que não tem mentalidade poupadora, mas que é bastante otimista, também terem aderido tanto aos jogos de azar: se eu não poupo e acredito que posso estar melhor neste ano mesmo sem isso, preciso que haja uma forma de “almoço grátis”. 

Por momento ainda é preocupante a situação, uma vez que contar com a sorte não é algo mensurável. 

Só o tempo dirá se o economista ganhador do Prêmio Nobel de economia, Milton Friedman, estava errado quando disse que “Não existe almoço grátis”, ou se certo. 

Talvez seja arriscado e caro demais arriscar contra uma premissa comprovada há quase 150 anos.

*Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo