Modelo 50 + 1 valoriza a torcida e a gestão na liga alemã de futebol
Um dos principais fatores do sucesso da Bundesliga é o modelo de gestão que não permite que um único acionista tenha mais de 50% do poder decisório num clube
*Artigo escrito por Eric Alves Azeredo, professor, executivo, advogado, CEO da AZRD e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Empreendedorismo e Gestão do IBEF-ES.
A liga profissional de futebol na Alemanha, conhecida como Bundesliga, é, juntamente com a Premier League na Inglaterra, La Liga na Espanha, Ligue 1 na França e Serie A na Itália, uma das cinco principais ligas de futebol da Europa e que teve a maior média de público, com quase 40 mil torcedores, na temporada 2023-2024.
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Um dos principais fatores do sucesso da liga alemã é o modelo de gestão conhecida como 50 + 1, que não permite que um único acionista tenha mais de 50 % do poder decisório num clube.
Nesse tipo de gestão, o torcedor é valorizado, e nenhuma empresa ou investidor terá direitos majoritários no clube e, com isso, descarta-se a possibilidade de criação de Sociedades Anônimas de Futebol (SAFs).
No entanto, há exceções nos casos de clubes fundados por grandes empresas que superem 20 anos de parceria, como é o caso do Bayer Leverkusen e Wolfsburg, clubes majoritariamente dirigidos respectivamente pela Bayer, empresa química e farmacêutica com atuações nas áreas de saúde, agricultura e materiais de alta tecnologia, e pela Volkswagen.
Ainda como exceção, há o caso do Hoffenheim, cujo proprietário é o empresário alemão Dietmar Hopp, co-fundador da empresa de software SAP AG, líder mundial de aplicações e softwares para gestão empresarial e registrado na lista das pessoas mais ricas do mundo.
Inegavelmente, a regra 50 + 1, instituída em 1998, permitiu que a Bundesliga crescesse com amplo envolvimento do torcedor com o clube.
Esse envolvimento é tão marcante que, no início de 2024, após aprovação pela assembleia da Liga Alemã de Futebol (DFL) da possibilidade de venda de 8% dos seus direitos comerciais para um investidor externo, nos moldes de “private equity”, houve uma série de protestos contra esse tipo de investimento nos jogos do campeonato alemão.
O principal motivo dessas manifestações foi o argumento de que os novos investidores poderiam acabar com a regra 50 + 1, que torna os clubes alemães propriedades dos seus sócios.
Porém, alguns clubes já encontraram formas de “driblar” a 50 + 1, como é o caso do Red Bull Leipzig, ou simplesmente RB Leipzig, que possui 51% dos votos do clube, sendo os votantes todos funcionários da empresa.
Se essa é a melhor forma de não entregar totalmente o clube para os investidores, é um ponto que merece discussão, já que o Bayer Leverkusen pertencente a uma empresa, sem a participação majoritária dos seus sócios, foi a grande sensação da temporada 2023/2024 do futebol europeu, conquistando de forma invicta o título do campeonato alemão.
O time ostentava a marca de 51 jogos sem qualquer derrota, maior invencibilidade da história da Europa, superando a marca do lendário time do Benfica de Portugal que ficou 48 jogos invictos, entre os anos de 1963 e 1965, até ser derrotado pelo Atalanta da Itália na decisão da Europa League.
Esse é um claro exemplo que demonstra que o fato mais importante para o sucesso de um clube não é o modelo de gestão adotado, mas a forma competente como ela é feita.
*Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.