Economia

De sobrevivente a empresária: capixaba transforma vida com bolos

No Dia da Mulher Empreendedora, o Folha Vitória conta a história de Cida Admiral, que sobreviveu à violência e hoje é dona do próprio negócio em Rio Novo do Sul

Guilherme Lage

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Cantinho do Bolo

A vida muitas vezes não é fácil para quem decide empreender, principalmente quando o sonho de ser o próprio chefe surge junto com a necessidade de colocar comida na mesa. Essa é a realidade de muitas mulheres brasileiras, mas uma capixaba tem se destacado no caminho do empreendedorismo. 

Aparecida Thomaz Admiral, de 48 anos, geralmente atende por um nome bem mais curto: Cida. Há seis anos, a capixaba de Rio Novo do Sul se dedica ao seu sonho: levar para frente o "Cantinho do Bolo", loja que produz bolos artesanais de sua autoria. 

E como nesta terça-feira (19) se comemora o "Dia da Mulher Empreendedora", nada melhor do que uma história inspiradora. 

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Cida não teve uma infância fácil. A história de vida foi marcada por abusos e pelo abandono. De acordo com ela, na família era possível contar apenas com o pai, e na ausência dele, chegou a passar fome junto dos cinco filhos. 

Foto: Reprodução/Cantinho do Bolo
"Houve abandono familiar. O único vínculo familiar que eu tive foi meu pai, quando ele faleceu, eu me vi sozinha. Também fui abandonada pelo pai dos meus filhos, me vi sozinha novamente, com 5 filhos. Passei fome. Na infância sofri abuso sexual. Eu não tenho contato com minha família materna e nem paterna, eu só tinha sonho e fé", relatou. 

Empreender era um sonho antigo

Foto: Reprodução/Cantinho do Bolo

A empresária conta que sempre quis empreender, mas por conta da realidade financeira, esse desejo era difícil, quase impossível de sair do papel. 

Apesar das dificuldades, o período de aperto extremo com os filhos foi o empurrão que precisava para dar "start" nos negócios. 

"O Cantinho do Bolo nasceu na cozinha da minha casa Diante das dificuldades que eu vinha passando com meus filhos. Comecei a vender bolo de porta em porta, oferecendo para os meus amigos. Tive ajuda de alguns deles", contou. 

Como ela relata, tudo começou com apenas R$ 50 e duas formas de bolo. Tudo aconteceu com o apoio do segundo marido, que a incentivou e ajudou a começar a empreender. 

As voltas que o mundo dá 

Foto: Reprodução/Cantinho do Bolo

Durante os períodos de dificuldade, Cida e os filhos precisaram contar com a ajuda das pessoas. Foi nesse tempo que necessitaram de auxílios imediatos, como cestas básicas. 

E um local específico, onde ficava a casa do então prefeito da cidade, onde a empresária foi buscar sua primeira cesta básica, se tornou o ponto comercial da loja física da "Cantinho do Bolo". 

Aliás, além de comercial, o local também se tornou ponto turístico e parada obrigatória para quem visita a cidade. 

"E hoje, somos ponto de referência na cidade, somos ponto turístico, no ponto comercial onde era a casa do prefeito, onde eu peguei minha primeira cesta básica", diz Cida, orgulhosa.

Além dessas conquistas, Cida já adquiriu um terreno onde será erguida uma segunda confeitaria. Com a renda do Cantinho do Bolo foi possível tirar vários sonhos do papel. 

Como ela mesma conta, hoje é dona de confeitaria. A filha cursou Farmácia, já o filho tem uma oficina. O neto, um xodó, hoje pode estudar em uma escola particular. Privilégios que ela não pôde usufruir quando era mais jovem. 

"Hoje, me sinto preenchida, ainda faltam alguns sonhos para realizar, mas só de olhar para atrás e ver tudo que eu conquistei, todas as coisas que eu não podia ter e consegui dar aos meus filhos e netos, me deixa feliz e preenchida. Olhando para atrás, de onde eu vim, de tudo que passei, chegar onde eu cheguei, realizar o sonho da minha família, me deixa alegre e feliz, sei que estou no caminho certo", afirmou. 

Hoje, a Cantinho do Bolo conta com quatro funcionárias e, segundo Cida, é importante poder dar oportunidades para pessoas que são como ela. 

Ajuda para empreender

Foto: Reprodução/Cantinho do Bolo

No começo da caminhada, todo empreendedor precisa de ajuda. Isso não foi diferente para Cida, que contou com apoio da Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes).

O objetivo da agência é elaborar políticas públicas que estimulem o desenvolvimento do Espírito Santo a partir dos pequenos negócios, tendo seus setores de atuação voltados para as micro e pequenas empresas e microempreendedores individuais. 

Foto: Kleber Amorim/Aderes

Para a gerente de Formação Empreendedora da Aderes, Stela Rosseto, o empreendedorismo é uma forma de transformar a vida de mulheres não apenas de forma profissional, mas garantir sua autonomia financeira. 

Este é o caso de Cida, por exemplo, que foi criada e sofreu por muito tempo em um contexto de violência e falta de oportunidades. 

"Temos a missão de fortalecer sonhos como o da Cida, de montar seu negócio e assim conseguir a liberdade financeira que a tirou do ciclo de violência doméstica. Ela participou do festival Juçara em Rio Novo do Sul, que a Aderes apoia. O festival, como a maioria das feiras que a agência apoia em todo Estado, os expositores são mulheres, como foi o caso da Cida", contou. 

Stela relata que cursos de empreendedorismo oferecidos pela Aderes, como também o microcrédito para mulheres são  iniciativas que contribuem para as mulheres terem sua emancipação financeira e assim conseguirem sair do ciclo de violência doméstica.

"A independência financeira faz com que a mulher tenha a possibilidade de realizar sonhos. A segunda coisa importante é ela não ter que se submeter a situações de violência. Muitas mulheres passam por isso e se submetem por estarem uma situação de dependência emocional ou financeira. A partir do momento que ela tem sua independência, pode sair do ciclo", disse.