Como vieses comportamentais afetam decisões de investimento
Compreender esses vieses e seus impactos é crucial para quem deseja aprimorar a tomada de decisões de investimento
*Artigo escrito por Erika Carvalho Almeida, assessora da Valor Investimentos e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Finanças do IBEF-ES.
Os vieses comportamentais são desvios sistemáticos da racionalidade que influenciam as decisões financeiras dos investidores, levando-os a agir de forma inconsistente com seus próprios interesses econômicos de longo prazo.
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Esses desvios decorrem de limitações cognitivas, influências emocionais e pressões sociais. Compreender esses vieses e seus impactos é crucial para quem deseja aprimorar a tomada de decisões de investimento.
Aversão à perda
Um dos vieses mais comuns entre investidores é a aversão à perda, em que o medo de perder dinheiro é mais intenso do que o prazer de ganhar.
Um estudo clássico de Daniel Kahneman e Amos Tversky mostra que, em média, as pessoas sentem o impacto emocional das perdas duas vezes mais do que o dos ganhos equivalentes.
Na prática, isso significa que um investidor pode manter ações em queda, esperando por uma recuperação que talvez nunca ocorra, em vez de vendê-las e realocar o capital.
Por exemplo, durante a crise de 2008, muitos investidores seguraram ações em declínio, prolongando suas perdas em vez de tomar decisões mais racionais baseadas em dados econômicos.
Excesso de confiança
Muitos investidores acreditam que têm habilidades especiais para prever o mercado. Essa confiança exagerada frequentemente resulta em um excesso de transações, aumentando os custos com corretagem e diminuindo os retornos.
Um estudo da Universidade da Califórnia revelou que investidores excessivamente confiantes realizaram 67% mais transações, mas obtiveram resultados significativamente piores do que investidores mais cautelosos.
Um exemplo notório foi o estouro da bolha das empresas de tecnologia no início dos anos 2000, quando muitos investidores superestimaram suas capacidades de identificar as "próximas grandes ações".
Comportamento de manada
Quando o mercado se torna volátil, muitos investidores seguem as decisões da maioria, sem avaliar adequadamente os fundamentos econômicos.
Esse comportamento pode causar bolhas especulativas, como a bolha das pontocom no final dos anos 1990, em que empresas de tecnologia viram seus preços dispararem muito além de seus valores reais. Quando a bolha estourou, milhares de investidores perderam fortunas.
Ancoragem
A ancoragem ocorre quando os investidores se apegam a uma informação inicial, como o preço de uma ação, e permitem que ela distorça sua avaliação de novos dados.
Um exemplo clássico é quando um investidor compra uma ação a R$ 50, mas, mesmo com as condições da empresa se deteriorando, ele reluta em vender por menos do que o preço de compra, esperando uma "recuperação" que pode nunca acontecer.
Durante a crise do petróleo de 2014, muitos investidores ancoraram seus preços em um valor anterior, mantendo ações de empresas de energia em queda por tempo demais.
Disponibilidade
Esse viés leva os investidores a tomarem decisões com base em informações facilmente acessíveis ou lembradas, em vez de realizarem uma análise mais detalhada.
Após o crash da bolsa em 1987, por exemplo, muitos investidores passaram a acreditar que quedas bruscas do mercado eram comuns, e se retraíram do mercado, mesmo em condições mais estáveis.
Essa lembrança vivida de um evento raro distorceu suas percepções e afetou negativamente seus retornos nos anos seguintes.
Status quo
A preferência por manter as coisas como estão faz com que os investidores evitem mudanças, mesmo quando novas informações indicam que ajustes são necessários.
Um estudo da Harvard Business School mostrou que os investidores que mantêm suas carteiras inalteradas por longos períodos, por medo de mudanças, frequentemente perdem oportunidades de melhorar seu desempenho.
Um exemplo clássico é o investidor que se recusa a reequilibrar sua carteira, mesmo diante de mudanças econômicas significativas, como aumentos nas taxas de juros, que poderiam exigir uma mudança na alocação entre renda fixa e variável.
Uma forma de mitigar esses vieses é adotar uma abordagem disciplinada de investimento, baseada em dados sólidos e objetivos, é fundamental para evitar esses vieses.
Estudos mostram que os investidores que seguem uma estratégia passiva de longo prazo, como o uso de ETFs, muitas vezes superam aqueles que tentam cronometrar o mercado.
Além disso, contar com a ajuda de um assessor financeiro pode ser uma medida eficaz.
Um estudo da Vanguard revela que o aconselhamento financeiro adequado pode aumentar o retorno do investidor em até 3% ao ano, principalmente por ajudar a mitigar vieses emocionais.
Entender esses vieses é o primeiro passo para superá-los. Com uma abordagem racional e disciplinada, é possível tomar decisões mais eficientes, evitando as armadilhas emocionais que tanto afetam os resultados financeiros.
*Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo