ARTIGO IBEF

Jiu-jítsu, filosofia e mercado: dos tatames para a vida profissional

A resiliência e a coragem, desenvolvidas no jiu-jítsu ao enfrentar desafios e superar derrotas, são igualmente importantes na vida profissional

IBEF-ES

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução
*Artigo escrito por Teuller Pimenta Moraes, advogado, jurídico interno da empresa Ghisolfi Logística e Transporte, diretor de Relacionamentos do IBEF Academy e membro do Comitê Especial de Tributação Empresarial do IBEF-ES.

O jiu-jítsu, uma arte marcial profundamente enraizada na disciplina, no respeito e autoconhecimento, oferece ensinamentos valiosos que transcendem os limites do tatame. Além de proporcionar o equilíbrio entre "mente sã e corpo são", os princípios da “arte suave” promovem tanto a força física quanto a mental.

Quando combinados com fundamentos filosóficos, esses ensinamentos incutem nos praticantes o desenvolvimento de uma vida virtuosa, estratégica e resiliente, aplicável tanto na vida pessoal, quanto no ambiente de trabalho.

No jiu-jítsu, o praticante aprende desde o início a importância do respeito e da humildade. No tatame, respeitar mestres, colegas e adversários é fundamental, e a humildade é essencial para reconhecer que sempre há mais a aprender. 

Esses valores encontram eco na filosofia aristotélica, que enfatiza a importância da virtude e do caráter moral. Aristóteles, em "Ética a Nicômaco", discute que "somos o que fazemos repetidamente. A excelência, então, não é um ato, mas um hábito”. 

Isto é, a busca pela excelência profissional, ou areté, é um caminho de constante aprendizado e autodescoberta, muito semelhante à jornada de um artista marcial.

Ainda nesse sentido, outro pilar de sustentação no jiu-jítsu é a disciplina. 

A prática constante e a preparação meticulosa são essenciais para o sucesso, o que está em sintonia não somente com Aristóteles, mas com aquilo que ensina Miyamoto Musashi em "O Livro dos Cinco Anéis": 

“O verdadeiro Caminho da estratégia é a arte de derrotar o inimigo em batalha, e essa habilidade deve ser adquirida através do treinamento e da prática constante”.

Esse princípio é igualmente aplicável no mercado de trabalho. Profissionais que se dedicam a aprimorar suas habilidades, planejar estrategicamente e se preparar para desafios estão mais bem posicionados para alcançar o sucesso. 

Flexibilidade e adaptabilidade, tão cruciais no jiu-jitsu, também são essenciais para a vida pessoal e profissional. 

Em paralelo aos ensinamentos de Sun Tzu: “Evite o que é forte e ataque o que é fraco”. 

Aplicando isso no ambiente de negócios, a lição se traduz na capacidade de ajustar estratégias conforme as circunstâncias mudam, aproveitando oportunidades e mitigando riscos.

A filosofia aristotélica complementa essa ideia ao valorizar a prudência (phronesis), a virtude da tomada de decisão prática e bem ponderada. 

Nas palavras do filósofo: "A prudência é uma virtude, e ela é de fato a que nos capacita a deliberar corretamente sobre o que é bom e benéfico para os seres humanos."

A implicação é direta na liderança e no trabalho em equipe, aspectos estes destacados tanto no jiu-jítsu, quanto no ambiente de trabalho. 

No tatame, os praticantes avançados assumem papéis de liderança, ajudando iniciantes e promovendo a colaboração. 

No mundo corporativo, bons líderes inspiram e guiam suas equipes, enquanto a colaboração fortalece a unidade e a eficácia do grupo. 

Aristóteles também valoriza a amizade (philia) e a colaboração como elementos essenciais para uma vida plena e bem-sucedida.

A resiliência e a coragem, desenvolvidas no jiu-jítsu ao enfrentar desafios e superar derrotas, são igualmente importantes na vida profissional. 

Sun Tzu ensina que a rapidez e a decisão são cruciais para aproveitar oportunidades e vencer adversidades. Manter-se firme e decidido diante de obstáculos é fundamental para o sucesso.

O autocontrole e a disciplina são virtudes ensinadas no tatame, principalmente para que seus praticantes saibam manter a calma sob pressão. 

A temperança no comportamento é igualmente bem vista no profissional competente, que não se permite levar pelas emoções, ressaltando a importância do controle emocional para tomar decisões racionais e estratégicas. 

Aristóteles, por sua vez, destaca a temperança (sophrosyne) como a virtude do autocontrole e da moderação: "A temperança é o meio-termo adequado entre excesso e falta de ação."

Na mesma linha de raciocínio, Miyamoto Musashi reforça a importância do autoconhecimento, do conhecimento do adversário e da aplicação estratégica das habilidades para alcançar o sucesso em diversas áreas da vida, seja no combate, nos negócios ou no crescimento pessoal.

Finalmente, em um mercado de trabalho cada vez mais voraz e competitivo, a inovação e a criação de novos espaços de atuação são elementos imprescindíveis. 

Essa ideia pode ser vista tanto no livro "A Estratégia do Oceano Azul" de W. Chan Kim e Renée Mauborgne, quanto nos combates do jiu-jitsu. 

Muitas vezes, nos negócios e na luta, a única maneira de vencer a concorrência é parar de tentar vencê-la pelo ataque direto, mas sim criando oportunidades.

Por tudo isso, a prática do jiu-jitsu, além de seus inegáveis benefícios físicos, também oferece profundos benefícios mentais e filosóficos que são aplicáveis à vida profissional. 

Dos tatames para o mundo exterior, são transmitidos valores e lógicas indispensáveis para o destaque, tanto em lutas, quanto na vida pessoal e no ambiente de trabalho.

Ao integrar os ensinamentos do jiu-jitsu, de Sun Tzu, de Aristóteles e de outros pensadores, obtém-se uma abordagem abrangente e poderosa para o desenvolvimento pessoal e profissional. 

Os princípios promovem a construção de um caráter forte, resiliente e estratégico, capaz de enfrentar desafios e alcançar objetivos com eficiência e sabedoria. 

Ao internalizar e aplicar esses ensinamentos, qualquer pessoa pode aprimorar suas habilidades, tornar-se um líder mais eficaz, um profissional mais resiliente e um indivíduo mais equilibrado e bem-sucedido.

*Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo