BC diz que não há teto para a alta dos juros. Veja como investir
Em ata divulgada hoje, Banco Central indica rigor nas próximas reuniões e que quadro inflacionário piorou no país. Especialista dá dicas sobre investimentos
Se alguém ainda tem dúvidas sobre a piora do cenário para a inflação, basta ler a Ata do Copom divulgada pelo Banco Central nesta terça-feira, 16. No documento em que explica por que subiu a Selic em um ponto na reunião da última quarta-feira, 11, para 12,25%, os nove diretores do Banco, incluindo os quatro indicados por Lula, afirmam que houve “materialização dos riscos” e que o quadro piorou tanto que ficou mais fácil saber o que fazer. No caso, subir os juros.
Na Ata, o BC reafirmou que haverá mais duas altas de um ponto nas próximas reuniões, mas não se comprometeu com o fim do ciclo. Ou seja, não há um teto para a Selic, e isso já fez com que alguns bancos e consultorias começassem a revisar para cima suas estimativas para os juros no ano que vem.
Para o Banco Central, a inflação de serviços está mais forte - em função do desemprego baixo e do crescimento mais acelerado do PIB -, há repasses de preços por causa da alta do dólar e as expectativas de inflação estão “desancoradas”, em parte porque a política fiscal do governo não transmite confiança para os agentes econômicos. Para completar, há o quadro externo mais adverso, com a eleição de Donald Trump que pode fazer a inflação nos EUA ficar mais alta do que se esperava.
“Em função da materialização de riscos, o Comitê avalia que o cenário se mostra menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior. Riscos à alta da inflação, tais como a resiliência da inflação de serviços, a desancoragem das expectativas e a depreciação cambial se materializaram. Assim, um cenário que até então se mostrava bastante incerto tornou-se mais adverso”, diz a Ata.
Para o BC, o pacote fiscal anunciado pelo governo frustrou as expectativas do mercado, e isso se transformou em aumento do dólar e piora das expectativas de inflação. Na visão do banco, a política fiscal do governo Lula é “expansionista”, ao contrário do que diz o Ministério da Fazenda. O Copom afirma que há “impulsos” fiscais mais fortes do que o antecipado, e por isso pede que as duas políticas, fiscal e monetária, sejam harmoniosas.
O BC quer ajuda do governo para combater a inflação, do contrário, haverá aumento de gastos, de um lado, e Selic mais elevada de outro. Em outras palavras, o governo federal vai apertar o pé no acelerador, enquanto o Banco Central pisará no freio. Tudo para o carro derrapar na curva.
Análise do especialista
E para quem tem aquele dinheirinho guardado ou quer redirecionar suas economias, o que deve ser feito a partir de agora? O especialista em investimentos e professor universitário Érico Colodeti Filho dá um panorama geral e aponta os caminhos.
"O BC divulgou a Ata da 267ª reunião do Copom, e os principais pontos a serem considerados são os seguintes:"
1. Alta da Selic: O Copom decidiu elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, levando-a para 12,25% ao ano. A sinalização é de novos ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões, caso o cenário esperado se confirme.
2. Cenário de Inflação: A inflação apresenta deterioração adicional, com elevação nas projeções para 2024 (4,9%) e 2025 (4,5%). A desancoragem das expectativas preocupa o Comitê, exigindo uma política monetária mais firme.
3. Economia Resiliente: A atividade econômica e o mercado de trabalho continuam acima das expectativas, impulsionados pelo crédito amplo e política fiscal expansionista, apesar do aperto monetário.
4. Riscos no Cenário Externo: O ambiente global segue desafiador, com incertezas sobre o ritmo de desaceleração nos EUA e volatilidade no câmbio, que impactam os preços domésticos.
5. Taxa Neutra Elevada: O Copom ajustou a estimativa da taxa de juros real neutra de 4,75% para 5% a.a., refletindo as incertezas fiscais e estruturais.
O que isso significa para seus investimentos?
- Renda fixa pós-fixada: Ativos como Tesouro Selic, CDBs e LCIs/LCAs pós-fixados se beneficiam diretamente da alta da taxa Selic.
- Ativos indexados ao IPCA: Tesouro IPCA+, debêntures incentivadas e CRIs/CRAs atrelados à inflação ganham atratividade ao oferecer proteção contra a deterioração do poder de compra.
- Diversificação internacional continua relevante, dada a volatilidade do cenário externo.
*Com informações da Agência Estado