Boom imobiliário no ES: conheça os impactos ambientais e ações de mitigação
Atualmente, 15.117 unidades comerciais e residenciais estão em execução em Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana, conforme os dados do Sinduscon-ES
O Espírito Santo tem sido território expoente para o crescimento imobiliário, principalmente na região metropolitana. Não só para empreendimentos comerciais, mas também para residenciais e mercado de luxo.
Na capital Vitória, por exemplo, dos anos de 2012 a 2022, a média de valorização foi de 101% do mercado imobiliário na cidade, de acordo com dados da Associação das Empresas em Mercado Imobiliário do Espírito Santo (Ademi-ES).
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Atualmente, 15.117 unidades comerciais e residenciais estão em execução em Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana, conforme os dados do Sindicato da Construção Civil do estado (Sinduscon-ES). Para se ter uma ideia, só no primeiro semestre de 2024 foram lançados 25 novos empreendimentos e 20 foram entregues.
Greg Repsold, vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo, explica que o crescimento do setor vai além de resolver a questão habitacional das cidades.
"A construção civil é um dos setores mais importantes da economia brasileira. Ela é um motor de desenvolvimento e ela busca, também entre outras coisas, resolver o nosso problema da habitação. Ao longo dos anos, a indústria da construção civil se desenvolveu, em tecnologia, em processos, e com isso, nós temos esse aumento na produção de edifícios. E isso não se reflete apenas nos edifícios novos. Nós temos cada vez mais pessoas reformando com mais frequência as suas casas, o seu local de trabalho para buscar qualidade em suas vidas", disse.
A valorização do setor traz novas perspectivas econômicas para o estado, porém, carrega também preocupações sobre poluição e qualidade do ar. A construção civil, segundo o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), é um dos responsáveis por emitir material particulado no ar.
Na definição pelo instituto, material particulado pode ser sólido ou líquido e de tamanhos diferentes. Surgem, principalmente, de pilhas de estocagem de material granulado e atividades da construção civil, além de ser proveniente também de processos de pelotização e siderurgia e de veículos automotivos.
De acordo com a professora do Departamento de Engenharia Ambiental e do Núcleo de Pesquisa em Qualidade do Ar da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Elisa Valentim Goulart, são três momentos durante a construção civil que podem ser mais prejudiciais para a qualidade do ar.
"São três grandes momentos em que acontece isso: quando executa a fundação, quando executa a estrutura da edificação e na fase final de acabamento. É uma emissão grande de material particulado", explicou.
Em 2017, a Ufes publicou um experimento nas estações de monitoramento da qualidade do ar do Iema espalhadas pela Grande Vitória. A pesquisa consistia em um coletor instalado nas estações para apontar a contribuição de cada fonte poluente.
No bairro Jardim Camburi, a construção civil teve impacto significativo na coleta de poluentes, assim como a ressuspensão no ar dessas partículas emitidas.
No ambiente, esses poluentes podem causar, de acordo com o Iema:
- Alteração da visibilidade;
- Alteração no balanço de nutrientes de lagos, rios e do solo;
- Danificação da vegetação e alteração na diversidade do ecossistema;
- Danos estéticos (manchas e danificações de rochas e outros materiais).
Inovação e sustentabilidade
André Mendes é engenheiro civil há mais de 30 anos e, nos últimos três anos, montou a própria empresa, quando começou a utilizar alternativas mais sustentáveis para a construção.
Uma das alternativas foi a produção de um revestimento de fachada feito com polipropileno que reduz 20% de água para a produção e 70% a menos de caminhão para transporte do material, além de diminuir o número de trabalhadores para manusear o revestimento.
"Uma das coisas que mais me incomodava nas empresas era a geração de entulho. A gente se preocupava muito com isso porque era demais o número de caçambas. Eu ficava calculando quantas caçambas e quantos reais eu gastava, quanto estava sendo desperdiçado. Será que não dá para aproveitar o material?", comentou.
Além disso, o engenheiro também implementou outras atitudes sustentáveis no processo de construção civil, como reuso de água de chuva para limpeza e instalação de fotovoltaicas na cobertura para ter geração de energia própria.
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo monitora as construções e os impactos para o meio ambiente, em busca de fiscalizar se a construção civil atende as legislações ambientais.
"Nós sabemos que a construção civil, apesar de ser a maior geradora de resíduos em volume, os resíduos da construção civil são de baixa periculosidade. Então, o principal desafio da construção civil é conseguir que todas as obras, façam a separação correta dos resíduos e dos entulhos. Isso não diz respeito só a grandes construtoras, mas também aquelas pequenas reforma. Para que esse entulho seja descartado de forma correta em aterros sanitários, seguindo a legislação vigente", explicou Greg Repsold, vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do estado.
No site do Iema, a população pode acompanhar a qualidade do ar de acordo com as estações de monitoramento espalhadas pela Grande Vitória, bem como obter informações de quais são as fontes poluentes e pesquisas recentes sobre o tema.