Revolução da governança e compliance nos Jogos Olímpicos
A história dos Jogos Olímpicos é marcada por episódios recorrentes de corrupção, desde a escolha da cidade-sede até o superfaturamento de obras
A 33ª edição dos Jogos Olímpicos, realizada em Paris em 2024, não apenas celebra o espírito esportivo global, mas também marca uma nova era na aplicação dos princípios de Governança, Riscos e Compliance (GRC) no contexto de grandes eventos esportivos.
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A crescente complexidade e incerteza no mundo contemporâneo desafiaram o Comitê Olímpico Internacional (COI) a reforçar suas práticas de governança e a adotar medidas robustas de compliance, visando garantir a integridade e transparência das competições e da organização dos jogos.
Neste cenário, Paris 2024 se destaca por implementar, pela primeira vez na história das Olimpíadas, um programa formal de compliance, estabelecendo novos padrões para a gestão do esporte mundial.
Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 ocorreram sob a liderança das reformas implementadas por Thomas Bach, presidente do COI desde 2013, em resposta a uma crise de legitimidade da instituição.
A diminuição no número de cidades candidatas e alguns ataques à ética e à integridade do COI evidenciaram a necessidade urgente de uma governança mais rigorosa e transparente.
A inclusão de cláusulas específicas de compliance no contrato para a organização dos Jogos, que agora exige que a cidade anfitriã e os comitês responsáveis se abstenham de qualquer ato de fraude ou corrupção, reflete esse compromisso renovado.
A história dos Jogos Olímpicos é marcada por episódios recorrentes de corrupção, desde a escolha da cidade-sede até o superfaturamento de obras.
Na edição de 2016, no Rio de Janeiro, o ex-governador Sérgio Cabral admitiu em depoimento uma suposta corrupção para garantir a escolha da cidade como sede dos Jogos.
A partir de 2024, a cidade anfitriã, o Comitê Olímpico Nacional e o Comitê Organizador dos Jogos são obrigados a cumprir rigorosamente as leis anticorrupção, com sanções severas previstas para violações, incluindo a possibilidade de transferência dos jogos para outra localidade.
Além do foco no combate à corrupção, o programa de compliance para Paris 2024 também enfatiza o respeito aos direitos humanos, exigindo que as operações dos Jogos estejam alinhadas com normas internacionais, como a proibição de trabalho escravo e o combate ao tráfico de pessoas.
Essa abordagem amplia o escopo do compliance, integrando questões sociais e éticas à governança dos Jogos Olímpicos.
No campo da gestão de riscos, o COI tem aprimorado suas estratégias para minimizar as incertezas associadas à organização dos Jogos.
Cada decisão, desde a escolha dos locais das competições até as medidas de segurança adotadas, envolve uma complexa análise de riscos, visando garantir a segurança e o bem-estar de todos os participantes.
Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 representam um marco na evolução das práticas de Governança, Riscos e Compliance no cenário esportivo global.
A gestão de riscos, por sua vez, continua a ser um elemento central na preparação e execução dos Jogos, assegurando que a experiência olímpica se mantenha segura e justa para todos os envolvidos.
Com essas medidas, Paris 2024 estabelece um novo patamar para a governança no esporte, servindo como exemplo para futuras edições dos Jogos e para outras competições internacionais.
*Artigo escrito por Júlia Leite Coutinho, formada em Ciências Contábeis pela Fucape e em Direito pela UFES, Especialista de Finanças da ArcelorMittal Brasil e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de GRC do IBEF-ES; e Victor Bragatto Luchi, formado em Ciências Contábeis pela UFES, gerente de Área de Controladoria Comercial na ArcelorMittal e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de GRC do IBEF-ES.
*Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo