*Artigo escrito por Tito Dias Kalinka, empresário e administrador formado pela Universidade Federal do Espírito Santo. Cofundador do grupo societário 21vinte7, que comanda 7 empreendimentos de destaque no ramo do entretenimento capixaba. Defensor do livre mercado e da liberdade e membro do IBEF Academy.
“Absurdo”, “ninguém deveria ir”, “boicote”, “o estado deveria fazer alguma coisa”. Essas foram algumas das frases encontradas em diversos meios, quando os ingressos para o jogo entre Flamengo e Madureira começaram a ser comercializados.
Em tempo, o jogo aconteceu em Cariacica, no estádio Kléber Andrade, em 18/01/2023. Os ingressos foram disponibilizados por R$ 400 a inteira e R$ 200 a meia-entrada, com um quilo de alimento não perecível.
Qual a dinâmica de mercado de um jogo como esse? Explico. Uma empresa trouxe o jogo para terras capixabas, combinou um valor que cada time receberia, e partiu para o mercado em busca da imensa torcida do Flamengo por aqui, sempre carente por ver seu time ao vivo ao lado de sua casa.
Os ingressos foram vendidos perto da lotação do estádio? Sim! Houve boicote? Claro que não! E as pessoas, mais uma vez, foram apresentadas à lei da oferta e demanda.
Quando certo produto ou serviço é escasso – nesse caso, a chance de ver o seu time de coração jogando na sua cidade – e a procura por isso é enorme, fatalmente o valor por esse bem ou serviço irá aumentar.
Ponto para o empresário que conseguiu trazer o jogo e lucrar com isso. Gera-se imposto para o estado e município, aquece a economia de todo um ecossistema de mercado ao redor e dentro do estádio e traz uma experiência diferente para o Espírito Santo.
A ideia da “mão invisível do mercado” foi cunhada por Adam Smith, o qual afirmava que o mercado é capaz de se autorregular por uma força invisível e intrínseca, resultando em preços maiores para produtos que geram valor ao indivíduo.
John Stuart Mill, outro expoente do liberalismo, defendia o laissez-faire, termo originado na França que defende a liberdade individual e as leis naturais do mercado como suficientes para assegurar o bom funcionamento da economia.
O ponto-chave é que a lei da oferta e demanda está conosco desde sempre, mas normalmente não somos apresentados a ela durante a formação da nossa educação básica. Ou até mesmo as pessoas que já possuem tal conhecimento, ao se deparar com ela em pleno funcionamento, se assustam. Por isso, as pessoas se sentem exploradas pelo empresário, mas isso nada mais é do que a primeira lição de economia de mercado que já existiu. Chegam ao ponto, pasmem, de pedir a regulação do estado em casos como esse.
Dias depois, no mesmo estádio, ocorreu o jogo entre Fluminense e o mesmo Madureira, com entrada 50% mais barata em relação ao jogo do Flamengo. “Ah, esse empresário é bonzinho”, poderiam pensar.
Entretanto, para surpresa de muitos, trata-se da mesma empresa que organizou o jogo anterior. Por razão da torcida do Flamengo ser muito maior em relação à torcida do Fluminense, simplesmente a lei da oferta e demanda entrou em cena novamente.
Sempre, invariavelmente, quando a oferta de determinado bem ou serviço for menor que o número de pessoas com desejo de obtê-lo, o preço se elevará e nada poderá ser feito em relação a isso.