Economia

Pé-de-Meia: Governo aposta em derrubada de bloqueio de verbas no TCU ou vai ao STF

Ministros entram em campo para articular desbloqueio de recursos do programa de bolsa para estudantes do ensino médio

Lula corre o risco de ver um dos principais programas do governo ficar sem verbas em 2025. Crédito: Foto: Ricardo Stuckert/PR
Lula corre o risco de ver um dos principais programas do governo ficar sem verbas em 2025. Crédito: Foto: Ricardo Stuckert/PR

O governo federal trabalha com o cenário no qual o bloqueio de recursos do programa Pé-de-meia pelo Tribunal de Contas da União (TCU) será derrubado a tempo de o pagamento de fevereiro ser efetuado. O ministro da EducaçãoCamilo Santana, entrou em ação para reverter a decisão, e tem conversado com membros do tribunal. Além dele, o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU)Jorge Messias, também atua para mudar o quadro.

O TCU bloqueou os recursos de fundos privados que foram direcionados para o Pé-de-Meia e não passaram pelo Orçamento. O entendimento da Corte de Contas é de que o governo não poderia ter operado o programa dessa forma, pois se desviou da Lei Orçamentária Anual e dos limites fiscais ao pagar a bolsa para os estudantes. O uso dos fundos foi autorizado por lei, mas os gastos em si ocorreram por fora do Orçamento – o que foi criticado por especialistas em contas públicas.

O tema tem sido acompanhado de perto pela Secretaria Especial de Assuntos Jurídicos (SAJ) da Casa Civil. Caso sofra derrota no recurso oferecido ao TCU, o governo vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em um cenário como esse, o único receio é de que a relatoria do tema caia com ministros alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, como André Mendonça e Nunes Marques.

O Ministério da Educação e o Ministério de Planejamento e Orçamento foram procurados para falar sobre o que será feito, mas ainda não responderam.

Um dos principais programas do governo Lula 3, o Pé-de-Meia é uma bolsa criada pelo governo federal para beneficiar estudantes de ensino médio com R$ 200 por mês e uma poupança adicional de R$ 1 mil ao fim de cada ano da etapa.

No momento, o Ministério da Educação (MEC) não trabalha com a hipótese de não conseguir pagar o benefício em fevereiro. A principal aposta do governo é a reversão na Justiça. Há uma visão de que ninguém quer ter na conta a paralisação de um programa que chega a cerca de 4 milhões de jovens de baixa renda.

Em caráter reservado, integrantes do governo afirmam que o caso do Pé-de-meia “é muito diferente” de qualquer insinuação de pedalada. O argumento é de que todos os trâmites do benefício foram aprovados no Congresso, incluindo a criação do fundo utilizado para financiar o programa e a liberação dos repasses.

A derrota no plenário do TCU já era esperada pelo governo, uma vez que o colegiado tende a confirmar decisões tomadas individualmente pelos ministros e indicadas pela equipe técnica.

Na quarta-feira, a AGU entrou com recurso contra a decisão do TCU. O governo pede a suspensão imediata da medida que proíbe o MEC de destinar recursos dos fundos para o Pé-de-Meia.

A AGU sustenta que não há ilegalidade no programa e pede que, caso a decisão do TCU seja mantida, ela tenha validade somente em 2026. A União pede ainda um prazo de 120 dias para que o governo apresente um plano para cumprir a decisão sem prejudicar o programa.

Governo precisará de R$ 3,6 bi para cumprir decisão do TCU

Em caso de derrota nos tribunais, o governo precisará de mais R$ 3,6 bilhões para cumprir a decisão do TCU, colocar o Pé-de-Meia no Orçamento e não parar o programa em 2025, de acordo com o economista e pesquisador do Ipea Camillo Bassi. Segundo ele, o Executivo tem de onde tirar esse recurso.

O Pé-de-Meia tem um custo aproximado de R$ 5,7 bilhões por ano. Há uma sobra de R$ 1,1 bilhão no fundo do programa que o TCU autorizou o governo a gastar, pois não vem dos fundos privados questionados pela decisão, mas de um dinheiro colocado pela União e que passou pelo Orçamento. Além disso, há R$ 1 bilhão proposto pelo governo no Orçamento de 2025, que ainda não foi aprovado no Congresso Nacional. Faltariam, portanto, R$ 3,6 bilhões. Esse dinheiro tem de sair de algum lugar.