A tridimensionalidade inquieta Penithencia. O artista plástico tem predileção pelas esculturas, desde quando começou a fazê-las em giz, ainda criança, durante as aulas no colégio Maria Ortiz, em Vitória. Do giz, passou para o gesso e, posteriormente, para a madeira, que o pai, tratorista, trazia de seu trabalho.
O bronze, material pelo qual Penithencia é reconhecido, apareceu por acaso em sua vida em 1987. Apesar da resistência de trabalhar com o metal, pela dificuldade da fundição e pelo alto custo da matéria-prima, Penithencia se rendeu a sua brutalidade. Primeiramente atendendo a uma demanda do próprio mercado, que começou a encomendar a ele peças institucionais; posteriormente, como arte autoral, com preferência assumida pelas figuras humanas repletas de significados, que se vinculam e desvinculam formando esculturas que fogem do comum.
“Com o bronze é sempre uma expectativa. Toda vez que faço uma fundição e verto o bronze derretido dentro do molde, não sei o que vai sair dali de dentro. Até hoje, 40 anos depois, as incertezas são as mesmas. Se a cera não queimou bem, o bronze terá defeitos, que eu considero efeitos, já que são únicos. Essa surpresa é que me estimula a fazer mais e mais”, revela o artista.
Penithencia é autor do primeiro troféu do Prêmio Líder Empresarial, há 20 anos. Neste ano, uma releitura da primeira peça foi feita para ser entregue aos vencedores do prêmio. Com cerca de metade do tamanho do primeiro, o troféu atual carrega o mesmo significado, que resume bem o propósito da premiação. Um globo simboliza a universalidade da liderança, que é elevada, continuamente, o que está representado pelos arcos que compõem o corpo da peça.
No caso de esculturas institucionais, como o troféu do Prêmio Líder Empresarial, Penithencia cria o conceito a partir de um briefing, desenha a peça e faz um molde em massa de modelar ou barro. O esboço é aprovado com o cliente e a produção em série começa, num processo de muitas e minuciosas etapas que resultam em peças que alguns consideram iguais, mas que são únicas.
Processo
Depois de aprovada, a peça modelada precisa virar um molde de silicone, material que não perde a forma com o tempo e, por isso, é ideal para fazer o molde negativo em uma mistura de gesso e areia. Essa forma negativa é revestida por cera, que, depois de fria, vai gerar um novo molde positivo. Este, por sua vez, é envolto por barro e segue para a queima.
Depois de uma queima a 400 0graus de cerca de 20 horas, toda a cera se perde e a forma fica desidratada, sem nenhuma gota d’água. Esse é o espaço que vai ser ocupado pelo bronze, que foi derretido, em outro forno, a 900 graus. Bronze, na verdade, é uma mistura dos metais zinco e cobre, e a proporção de cada um deles é que define a coloração que a peça vai ter.
Mais um dia para tudo esfriar e o molde pode ser aberto. A peça em bronze já está lá, ainda rústica, com suas rebarbas e acabamentos por fazer. Vários tipos de polimento completam o trabalho, e até a peça estar totalmente pronta, o artista colocou a mão nela por aproximadamente 50 vezes.
“A técnica de fundição de metal é milenar. Sempre foi assim e sempre será. Por isso que nem defino minha arte. As pessoas podem defini-la como quiserem”, diz Penithencia.
Projetos
Estudos com novos materiais, volta para a madeira, trabalhos com sucata e arte cinética estão nos projetos de Penithencia. Em seu ateliê em Vila Velha, ele já tem realizado pesquisas e esboços do que quer produzir no futuro. Arte com som, vibração e desenho em relevo estão no radar do artista, que deseja ainda ampliar seu espaço e torná-lo de portas abertas, para quem quiser conhecer suas técnicas de trabalho.
“Não paro nunca de criar, estou sempre fazendo coisas. Agora, quero voltar para a madeira. Gosto muito desse material, é aconchegante e único. Foi em madeira que fiz o trabalho do qual mais me orgulho, o Narcizo, porque nele consegui materializar a água.”
O beijo
É de Penithencia a escultura do ecologista Augusto Ruschi beijando um beija-flor no Parque Pedra da Cebola, em Vitória. O artista fez a escultura baseada na foto tirada por Ricardo Azoury, em 1976. A peça foi uma encomenda da prefeitura de Santa Teresa para presentear Vitória por seus 450 anos, em 2001.