Economia

Planejamento financeiro frente as altas de preços puxadas pela inflação

A boa notícia é que planejar a empresa financeiramente não é uma tarefa difícil, mas que exige o domínio de alguns conceitos sobre gestão e finanças

Foto: Freepik

* Artigo escrito por Renan do Amaral, contador especialista em controladoria, finanças, investimentos e membro do comitê Qualificado de Conteúdo de Finanças do IBEF – ES.

Um negócio pode até nascer em campo fértil e totalmente favorável para que o segmento se torne altamente lucrativo, mas sua morte é quase certa se faltar um planejamento financeiro empresarial adequado. 

O empreendedor pode ter ótimas ideias, montar um negócio com capacidade de gerar bons retornos, porém, erros básicos como a falta deste instrumento acabam minando os negócios a doses homeopáticas. 

A boa notícia é que planejar a empresa financeiramente não é uma tarefa difícil, mas que exige o domínio de alguns conceitos sobre gestão e finanças.

O planejamento financeiro empresarial é uma projeção da futura situação financeira de um negócio. Trata-se de um guia programático criado a partir de informações financeiras, contábeis e administrativas consolidadas em um só documento. 

Quando feito a partir de dados confiáveis, ele serve como base para a tomada de decisões estratégicas sobre o futuro da empresa, e é extremamente importante que esteja alinhado com o planejamento estratégico empresarial. 

Essa ferramenta é o que diferencia uma empresa que sabe aonde quer chegar daquela que se deixa levar à própria sorte – essas ficarão no caminho, principalmente em cenários de crise.

Inflação e a alta dos preços

A inflação é um conceito econômico associado diretamente ao consumo e, consequentemente, ao preço final de produtos e serviços, logo afeta à capacidade de compra e negociação. 

Ela impacta também nos valores de aluguéis, imóveis, automóveis, cursos de capacitação, nos reajustes de salários-mínimos, equilíbrio de contratos. A inflação está diretamente ligada às práticas econômicas estabelecidas pelos países e vinculada ao sistema financeiro global.

A principal consequência da inflação está associada à perda do poder de compra à médio e longo prazo, com o aumento dos preços das mercadorias e desvalorização da moeda. 

Um efeito que também pode ser sentido é o rendimento real de investimentos. Se tivermos, por exemplo, um retorno de um investimento de 6% ao ano, porém a inflação do período for de 2%, o seu retorno real será de 4%. Contudo, se um investimento render 6% ao ano, mas a inflação do período for de 7%, a sua rentabilidade real foi negativa, ou seja, mesmo que a aplicação ou algum outro investimento realizado tenha dado algum tipo de retorno, o investidor precisará analisar seu ganho real.

Por isso, em um período de inflação instável, faz-se necessário planejar financeiramente um negócio, por exigir adequações nos preços praticados, bem como os custos envolvidos, partindo do pressuposto que só vale a pena ter e continuar em um negócio se ele der um retorno real para seus sócios e investidores.

Etapas do planejamento financeiro empresarial

O primeiro passo para um planejamento financeiro empresarial é identificar a situação financeira atual da organização. 

Nessa etapa é preciso aprender, conversando com seu contador, a interpretar um balanço patrimonial e uma demonstração de fluxo de caixa, pois é essencial saber como está seu endividamento de curto e longo prazo, a sua capacidade de geração de caixa e demais ativos, quanto é o custo operacional real do seu negócio.

Além disso, vale lembrar que dinheiro em caixa não significa lucro. Muitos empresários acreditam que o volume de dinheiro em caixa (conta bancária) significa que está sobrando dinheiro na empresa, enquanto, na verdade, pode ser só um momento de sobra de caixa, em que esse saldo em algum momento será necessário para pagar parte de sua operação ou realizar algum investimento futuro.

O segundo passo é desenvolver metas financeiras de acordo com a realidade econômica e com o que foi verificado nas análises financeiras do primeiro passo. 

O empresário, bem como seus gestores, podem ser mais conservadores ou colocarem metas mais arrojadas, isso não importa agora, o que realmente deve ser enxergado é que precisam ser metas reais e alcançáveis, que não fiquem fáceis demais, de forma tal que a empresa não se desenvolva, ou nem que fique distante demais da realidade, para que não haja uma desmotivação da equipe.

Os objetivos financeiros podem variar de acordo com a situação real do negócio. É necessário que seja enxergada a hora de fazer um investimento, uma nova parceria, lançar um novo produto ou serviço, ou reduzir a produção de outro para focar no que gera mais retorno, contratar mais pessoas.

Desenvolver metas financeiras significa planejar, pensar no futuro, por isso é necessário transformar em números onde a empresa quer chegar, e os indicadores mais usados são: margem de lucro, ticket médio, ponto de equilibrio, margem de contribuição, custo da mercadoria vendida, EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), ROI (retorno sobre o capital investido), TIR (taxa interna de retorno), dentre outros.

O terceiro passo é criar um plano de trabalho com o envolvimento de todos os setores para que as metas financeiras estabelecidas sejam alcançadas. 

Nessa etapa o dono do negócio vai tornar suas metas operacionais. Por exemplo, se no planejamento foi considerado que a empresa deve aumentar o número de vendas em 30%, vai exigir um planejamento de marketing, para tornar o produto mais atraente e chamar a atenção do público-alvo. 

Também precisa verificar se a equipe comercial está preparada e capacitada para lidar com esse aumento de demanda. 

Se for uma indústria é preciso verificar se a empresa pode lidar com esse aumento de produção com todo maquinário que possui ou se terá que adquirir novos. Então, aqui estamos falando da implementação, de fato, do planejamento, da execução.

O quarto e último passo é revisar e ajustar esse planejamento à medida do que estiver sendo executado. 

Essa etapa significa observar e controlar processos, pessoas, vendas, produção para que sempre a empresa mantenha o foco de onde se quer chegar. Nessa fase, fazer reuniões periódicas é crucial.

Não arrisque em começar ou em dar continuidade a um negócio sem fazer um bom planejamento financeiro pois ele mantém o empresário focado e no caminho certo à medida em que a empresa cresce e surgem novos desafios. 

O plano serve para guiar as tomadas de decisão, e se não estiver embasado em premissas consistentes poderá induzir todos os envolvidos a erros, e caso a empresa não faça, ela estará destinada simplesmente à sorte, e não moldada na racionalidade.