São Paulo – O Brasil tem um problema grave de ordem fiscal, defendeu nesta segunda-feira, 7, o presidente do Insper, Marcos Lisboa, em palestra a empresários ligados à Câmara de Comércio França-Brasil (CCFB). “Não é porque temos um déficit neste ano ou porque temos um gasto público muito alto que estamos fazendo a reforma tributária. O problema do Brasil não é o nível de gasto público, não é o déficit primário. O problema do Brasil é que o gasto público vai continuar aumentando”, disse.
De acordo com o economista, a dificuldade é a trajetória do gasto público, que vem aumentando nos últimos 20 anos e continuará crescendo nos anos a frente. “Não adianta novos impostos, não adianta uma nova CPMF, não adianta imposto sobre grandes fortunas, não adianta Lei de Repatriação”, afirmou Lisboa. Para ele, seja qual for o ajuste atual, no ano que vem será preciso um outro ajuste e, em 2017, um terceiro ajuste, porque os gastos públicos no Brasil crescem mais que a renda.
A cada governo, apontou Lisboa, é preciso aumentar a carga tributária em 1 ponto porcentual do PIB por várias razões. Entre elas, o fato de o Brasil ter envelhecido, com o número de idosos crescendo 4% ao ano, enquanto o total de pessoas que trabalham cresce 1% ao ano.
“Nós temos essa disseminação de políticas públicas e desonerações sem nenhum controle de avaliação. A Fazenda acabou de soltar uma avaliação do Pronatec. Pessoas parecidas se inscreveram no Pronatec, uma parte fez e uma parte não fez. Qual foi o resultado do Pronatec? Nenhum, zero. Não teve impacto sobre o emprego. Talvez, programas que não têm impactos devessem ser fechados”, sugeriu.
Para ele, o Brasil tem uma quantidade alta de programas sem metas claras de resultados, sem avaliação e sem o debate claro e democrático sobre a eficácia. “Essa agenda tem que ser enfrentada”, disse Lisboa.
Depressão
Lisboa defendeu também que o Brasil não vive uma recessão cíclica. Segundo ele, numa recessão cíclica tradicional a economia desacelera por estar com problema de inflação. Se os juros são elevados, o mercado de trabalho se ajusta e a economia volta a crescer. “Se faz o ajuste de curto prazo para preservar o emprego de longo prazo”, disse Lisboa.
Para ele, o dilema não é ajuste ou emprego. “O dilema é: mais emprego hoje ou muito mais emprego amanhã? Para se preservar o crescimento de longo prazo há que se fazer ajustes de curto prazo. É isso que manda a boa política econômica. Não é isso que manda a demagogia de plantão”, disse o presidente do Insper.
De acordo com Lisboa, não subir juros é escolher o atalho, o controle de preços de combustíveis, a intervenção no setor elétrico que destrói o emprego no futuro. “O Brasil poderia ter feito o ajuste em 2011, com uma pequena inflação, mas ficou refém de um discurso de campanha em que os juros eram o vilão, um compromisso de juro real de 2%. Esse era o caminho do crescimento e deu errado”, criticou o economista.
Segundo Lisboa, a sorte é que houve recessão porque, caso contrário, faltaria energia no País. “Intervenções desastradas a pedido do setor privado, com aplausos do setor privado”, disse o presidente do Insper, que não poupou também criticas aos empresários. Recessões cíclicas, disse ele, duram alguns meses com queda de salários e ajuste do emprego. Depois, a economia volta a crescer.
“Não é isso que o Brasil vive. O Brasil vive o começo de uma depressão, quando a recessão não traz o retorno do crescimento. É como se depois de um ano de recessão a gente vai ter outro ano de recessão. A recessão começou em 2014, ficou em 2015 e vai continuar em 2016. Esse é o resultado de nossas escolhas”, disse.