Economia

Quais os impactos da redução das atividades da Vale para a economia do Espírito Santo?

Produção de pelotas de minério de ferro deve diminuir e impactar na arrecadação de prefeituras e do Governo do Estado. Mineradora representa 13% do PIB capixaba

Foto: Reprodução

A tragédia em Brumadinho (MG) pode trazer consequências para a economia do Espírito Santo. Após o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, anunciou na noite da última terça-feira (29) a redução de 10% de sua produção de minério de ferro, diminuindo em 11 milhões de toneladas a produção de pelotas de minério de ferro, a principal operação da Vale desempenhada no Espírito Santo.

Representando 13% do PIB do Estado, e com uma arrecadação de R$ 113 milhões por ano para prefeituras e o governo estadual, segundo dados da própria mineradora, a redução das atividades deve gerar um impacto inicial nas contas públicas do Espírito Santo, mas está longe de representar as mesmas perdas causadas em 2015, com a tragédia em Mariana (MG) e a consequente paralisação das atividades da Samarco.

O Folha Vitória conversou com profissionais considerados referência no setor de mineração; analisou relatórios da companhia e ouviu economistas para mensurar como a economia capixaba  pode ser impactada.

O que a Vale vai mudar?

A mineradora vai paralisar as atividades em todas as 10 barragens construídas a montante, mesma técnica utilizada em Mariana (MG) e Brumadinho (MG), que têm maior risco de rompimento. 

Foto: Divulgação/ Klabin
Fabio Schvartsman, presidente da Vale

Com isso, a mineradora vai reduzir, nos próximos três anos, em 40 milhões de toneladas a produção de minério de ferro e em 11 milhões de toneladas a produção de pelotas de minério de ferro, que é a principal operação desempenhada no Espírito Santo. 

O minério de ferro é o ferro extraído das rochas nas minas, que é vendido para siderúrgicas. A pelota de minério de ferro são bolinhas de minério de ferro produzidas pelos resíduos de minério, aquilo que não era aproveitado, e é utilizada na fabricação de aço.

O que muda no Espírito Santo?

Foto: Vale
Complexo industrial da Vale em Tubarão

Segundo relatórios internos da Vale, foram produzidos no estado 30,8 milhões de toneladas de pelotas de minério em 2017, o que representa 61% das 50 milhões de toneladas produzidas pela mineradora naquele ano.

No entanto, a Vale ainda não detalhou de onde será feito o corte das 11 milhões de toneladas de pelotas. Um executivo ligado ao setor, que que prefere não se identificar, conversou com o Folha Vitória e acredita que a pelotização no Espírito Santo não será fortemente impactada, já que, segundo ele, nenhuma das barragens fechadas alimentam a produção de pelotas nas oito usinas de Tubarão, em Vitória.

“Haverá, sim, impacto, mas não acredito que haverá uma grande queda de produção. O que pode acontecer é a redução do fluxo de caixa da Vale, por conta de tudo que aconteceu em Brumadinho, que pode comprometer alguns investimentos da Vale aqui no Estado”, conta o executivo.

Samarco

Com a queda de fluxo de receita, a Vale também pode adiar os investimentos para a retomada das atividades da Samarco, da qual é acionista. O retorno é previsto para janeiro de 2020.

Pó preto

Outro investimento que pode ser comprometido é o das obras para a redução da emissão de pó de minério, o pó preto, em Vitória. O valor do projeto é de R$ 1,27 bilhão. “Contudo, esse investimento está firmado em um acordo de compensação ambiental junto ao Governo do Estado. É algo que pode acontecer, mas é mais difícil”, comenta.

Sobre lucro e empregos

Como uma queda forte na capacidade de produção em Tubarão é vista com pouco provável,  não devem ocorrer demissões ou corte dos 10.300 funcionários da Vale no Espírito Santo. No entanto, para aqueles que recebem participação nos lucros, o famoso PL, a renda em 2019 deve ser menor, já que a previsão é que o lucro da companhia seja bem menor este ano.

Arrecadação: Governo diz que análise é prematura e descarta cortes

Foto: Divulgação / Governo

Em 2017, a Vale pagou R$ 113 milhões em ICMS e ISS para prefeituras e para o Governo do Estado. O montante, contudo, pode ser muito maior, já que a empresa movimenta R$ 613 milhões em compras com fornecedores capixabas, que também podem sofrer impactos com uma possível redução da capacidade.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Espírito Santo (Sedes), elenca pelo Governo do Estado para comentar o tema, disse que é “prematura análises econômicas neste momento”. 

“É preciso compreender que a empresa em questão não está retirando investimentos do Estado. Portanto, ainda se faz necessária análise junto à própria Vale para que sejam especificados os possíveis impactos. Todos os desdobramentos serão acompanhados pelo Governo. A realização de investimentos por parte do Governo do Estado seguirá as diretrizes definidas em planejamento, respeitando a lei orçamentária”, diz a nota da Sedes. 

Análise: “Não se compara à crise da Samarco”

Foto: Divulgação
Economista Eduardo Araújo

Para o economista Eduardo Araújo, os efeitos da redução da capacidade na Vale não são comparáveis aos impactos causados pela paralisação da Samarco, em 2015, após a tragédia em Mariana:

“não teremos o mesmo impacto que se teve com a paralisação da Samarco. Contudo, a Vale deve apresentar um faturamento menor e operar em um volume mais baixo este ano, após a tragédia. Considerando que é uma grande companhia, a repercussão disso nas contas públicas é relevante, ainda que seja prematuro quantificar estes impactos. Além do Governo do Estado, a Prefeitura de Vitória também pode ser impactada, já que recebe diretamente o ISS da produção da mineradora. Ainda assim, o impacto maior e mais difícil de mensurar é o das vidas perdidas com a tragédia”, analisa.

Nota Findes

A Findes informou por nota que apoia a decisão anunciada pela Vale nesta terça-feira (29) de realizar o descomissionamento das dez barragens a montante localizadas em Minas Gerais. A Federação acredita na estratégia apresentada pela empresa e na capacidade de análise dos órgãos fiscalizadores para encontrar soluções que preservem a vida e o meio ambiente na atividade industrial. Em relação ao Espírito Santo, a Findes consultou especialistas dos principais setores ligados à cadeia produtiva e afirma que o descomissionamento causará impactos mínimos na economia capixaba.