Desde que a maioria das atividades comerciais foi proibida de funcionar no Espírito Santo, há cerca de 40 dias, como medida para conter o avanço do novo coronavírus, o movimento intenso das lojas deu lugar a calçadas vazias. No entanto, esse cenário deve mudar a partir da semana que vem. As portas de aço voltarão a abrir na próxima segunda-feira (4).
Para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo (Fecomércio-ES), o prazo já está até esticado demais para a saúde financeira das empresas. Entretanto, a federação destaca que apoia a reabertura, desde que sejam observados rigorosos protocolos de segurança.
“Nós temos um levantamento do faturamento diário do Estado do Espírito Santo, em vendas, em torno de R$ 25 milhões, em tempos normais. Se você fizer uma conta desses 40 dias parados, isso vai dar uma fortuna. Então não tem condições mais de postergar essa não abertura. Ao contrário, nós já sonhávamos a partir desta semana [voltar a abrir]. Aliás, até nos pegou de surpresa de postergar mais uma semana”, destacou o presidente da Fecomércio, José Lino Sepulcri.
O secretário de Estado de Governo, Tyago Hoffmann, explica, no entanto, que o período foi necessário para readequar a rede pública de saúde do Estado, aumentando a capacidade de atendimento aos casos graves da covid-19.
“Para a sociedade ter uma ideia, nós hoje temos 177 leitos separados de UTI para covid e chegaremos ao final desta semana com pouco mais de 360 leitos. Isso dá uma margem maior de segurança que o nosso sistema de saúde suporta com um pouco mais de atividades econômicas”, ressaltou o secretário.
Restrições
O comércio reabre, mas com restrições. Além das regras básicas, como funcionários e clientes de máscara, oferta de lavatórios e álcool em gel, haverá horários alternados de funcionamento. Alguns setores abrirão pela manhã, outros à tarde.
Além disso, os turnos serão de seis horas e cabe ao empresário controlar o número de consumidores dentro dos estabelecimentos. A permissão dada pelo governo é de um consumidor a cada 10 metros quadrados.
Os shoppings também devem voltar a abrir na próxima segunda-feira, mas com regras e horários diferenciados, que ainda serão definidos nesta semana. Já academias, cerimoniais, bares e locais que provocam aglomeração continuarão fechados.
Mesmo com todas as regras, caso haja uma aceleração do número de casos da covid-19, o governo não descarta retroagir. A taxa de isolamento social deve permanecer acima de 50%, caso contrário, o comércio considerado não essencial deverá ser novamente fechado.
“O importante é manter um nível de isolamento num processo de corresponsabilidade. Se cada um fizer a sua parte, nós podemos ter o comércio aberto. Se o cidadão entender que, para aquilo que não é essencial, ele precisa ficar em casa, se o comerciante entender que ele precisa tomar as medidas de segurança, seguir determinados protocolos, e o governo também fazendo a sua parte, com a fiscalização, nós podemos manter um nível maior de atividades econômicas acontecendo”, destacou Tyago Hoffmann.
Em pronunciamento realizado na noite desta segunda-feira (27), o governador Renato Casagrande também abordou esse assunto, ressaltando a necessidade das pessoas manterem um distanciamento social, mesmo com o retorno da atividade comercial.
“A gente vai ter que aprender a conviver com o vírus. E para aprender a conviver com o vírus, nós vamos ter que compreender o que é isolamento social. Isolamento social não é só você ver uma pequena loja da sua rua fechada, enquanto a gente está indo para a praia, para o calçadão ou para um encontro de amigos em algum restaurante. É um conceito que induz a uma responsabilidade individual, que se transforma em uma responsabilidade coletiva e que mantém esse distanciamento social amplo, que tem que ultrapassar os 50% da sociedade. Significa que a sociedade tem que estar com menor interação, com menor deslocamento das pessoas”, afirmou o governador.
Especialistas divididos
Entretanto, a reabertura total do comércio no Espírito Santo e o consequente aumento da movimentação das pessoas nas ruas que essa medida deve gerar tem dividido opiniões em toda a sociedade, inclusive entre os especialistas em doenças respiratórias.
A médica infectologista Rúbia Miossi afirma ser a favor da reabertura do comércio. “É claro que é esperado que, assim que haja a reabertura do comércio, as pessoas saiam mais, porque praticamente todo mundo já está saturado de ficar dentro das residências, presos. Então, com o comércio aberto, é bem provável que as pessoas tenham mais essa iniciativa de sair para a rua. Mas é fundamental que a gente continue recomendando que os grupos de risco, que são as pessoas que têm um risco maior de adoecer mais, que essas pessoas ainda continuem em casa, para a segurança dela”, ponderou.
Já o também infectologista Crispim Cerutti afirmou ser contra a medida. Ele lembra que a reabertura ocorrerá justamente no período mais crítico de transmissão, de acordo com a própria Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
“Nossa expectativa é que, a partir do fim da primeira quinzena de maio, se possa haver uma tendência de declínio no número de casos. Mas a circulação adicional de pessoas pode impedir que isso aconteça. E se continuar havendo aumento, se a curva se mantiver em situação de crescimento, por mais que sejam organizadas as atividades de assistência à saúde, haverá problemas”, alertou.
Por meio de nota, o Sindicato dos Comerciários do Espírito Santo (Sindicomerciários) informou que acompanha com preocupação a reabertura total do comércio capixaba. O sindicato diz ainda que acredita que o momento exige a prorrogação do período de isolamento até pelo menos até o próximo dia 10, e não a volta do funcionamento de atividades não essenciais.
Com informações da jornalista Andressa Missio, da TV Vitória/Record TV