Imagine um modelo de produção muito mais avançado do que a automatização de funções. Autonomia e eficiência em todos os setores e segmentos, com impacto direto nas relações comerciais, trabalhistas e na cadeia produtiva. Para quem ainda acha que tudo isso é o futuro, saiba que, assim como no resto do mundo, setores da economia brasileira já são afetados pela nova realidade, onde fábricas serão dotadas de Sistemas Cyber-físicos, em que o mundo real de máquinas robotizadas se integra ao mundo virtual do software. A Internet das Coisas (IoT), Big Data Analytics e a Inteligência Artificial são tecnologias para integrar produtos, equipamentos, clientes, fornecedores, logística…. Agilidade, flexibilidade, níveis altíssimos de produção…já estamos, de fato, vivendo a 4ª Revolução Industrial.
E a Indústria Capixaba, como está se preparando para isso?
Para responder a esta pergunta, o Senai e a Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) firmaram um convênio de cooperação para apoiar projetos na área, tendo base a pesquisa *Adoção de tecnologias da manufatura avançada por pequenas e médias empresas – meios e diretrizes para a migração para a Indústria 4.0*. O objetivo é estudar essa nova Industrialização e os impactos sobre a competitividade das empresas capixabas, principalmente as de pequeno e médio portes. E com o resultado desse estudo, definir caminhos para as empresas capixabas. “A maior parte do PIB está concentrada em poucas empresas, como Petrobras, Vale, Arcelor Mittal, Suzano, Samarco…Apenas dez empresas, entre as 200 maiores do estado, concentram 57% do PIB do Espírito Santo. Precisamos entender que todo o nosso parque industrial precisa sair do nível convencional e migrar para a indústria 4.0”, alerta o professor doutor da Ufes, Luciano Raizer, responsável pela pesquisa.
Essa pesquisa visa a análise comparativa das fábricas capixabas com as alemãs em relação ao nível de maturidade na Indústria 4.0. O projeto envolveu a participação de 49 indústrias capixabas, em seis workshops, para apresentar o que é a Indústria 4.0, seus impactos e como migrar para essa realidade. Para tanto, a análise comparativa com a Indústria alemã usou o mesmo modelo para avaliar o nível de aderência ao conceito da Indústria 4.0. O modelo VDMA, que estabelece seis níveis de maturidade na Indústria 4.0, de 0 a 5, sendo os dois primeiros considerados iniciais. A partir do nível 3 que, de fato, a empresa passa a ser chamada de Indústria 4.0.
E em que nível se encontra a indústria capixaba?
Os resultados da pesquisa mostram que, na média, a Indústria Capixaba e a Alemã estão no mesmo nível, com resultado de 0,9 em escala de 0 a 5, sendo consideradas como iniciantes. Mas essa primeira visão pode levar a enganos, de que estamos iguais aos alemães, ainda no começo da corrida para Indústria 4.0. Ocorre que nos níveis de 3 a 5, onde realmente interessa, já tem 5,6% das empresas alemãs e nenhuma empresa capixaba. E as empresas alemãs que estão no nível de Indústria 4.0 são as desenvolvedoras de tecnologia, como Simens, Festo, Kuka ou Bosch. São elas que irão vender tecnologias de manufatura avançada para as brasileiras, consolidando ainda mais a posição da Alemanha como grande exportador de tecnologia, de alto valor agregado.
Estamos atrasados?
É um novo estágio de desenvolvimento tecnológico. E alguns especialistas já alertam para o risco do Brasil não encontrar espaço nesse novo mundo e se tornar o que alguns chamam de ‘colonialismo tecnológico’ . “O momento é de desafio e não há espaço para o ceticismo. Não temos alternativa a não ser unir esforços – unir Academia e Indústria é a nossa única chance. A briga é grande e as novas posições já estão sendo tomadas. Não é hora de ser cético e, sim, de encarar esse desafio”, diz o professor Luciano Raizer, que tem a pesquisa como parte do programa de pós-doutorado desenvolvido no Instituto Fraunhofer, na Alemanha.
O Instituto alemão é considerado a maior organização mundial de tecnologia industrial aplicada e um dos líderes da Indústria 4.0. O projeto foi a forma encontrada pelo Senai e pela Ufes para buscar informações e conhecimento diretamente com quem está fazendo a revolução na manufatura, e trazer todo esse conteúdo para as empresas capixabas. Isso porque o estudo definiu um modelo de transição das empresas convencionais para a Indústria 4.0 considerando a agregação de tecnologia nas fábricas atuais e adequação do modelo de negócio em cinco estágios. Esses estágios vão da melhoria do controle das operações, pelo “Controle Inteligente”, até a “Empresa Inteligente”. A pesquisa mostra, ainda, um caminho a ser seguido pelas empresas que buscam modernidade e atualização.
O custeio das atividades de pesquisa, envolvendo viagem e estadia da equipe na Alemanha, foi do Senai e a Ufes, conforme definido no convênio e plano de trabalho aprovado por ambas as instituições, com geração de relatórios e prestação de contas. Indicado pela Ufes, o professor doutor Luciano Raizer tem uma longa atuação em gestão empresarial, desenvolvimento de metodologias e ampla vivência na indústria capixaba, além de ser o responsável pelas cadeiras de Organização Industrial, Gestão Estratégica e Gestão da Qualidade.
Educação, antes de tudo!
Modelos educacionais ultrapassados, falhas e, consequentemente, inadequações à Sociedade 4.0. O Brasil ainda sofre em pontos como a remuneração e formação dos docentes; estratégias que retenham os alunos na sala de aula; transmissão de conhecimento.
Neste novo mundo, a educação é ainda mais necessária para o empreendedorismo e a inovação. Para escapar à ameaça da tecnologia, o profissional precisará agregar valor para conseguir um emprego, através de competências técnicas, emocionais e sociais – e isso será apenas a base da vantagem competitiva. “O mercado mudou muito. É preciso profissionais de muito alto nível. Mas o Espírito Santo sai na frente”, acredita Luziano Raizer, que em 2019 estará à frente da disciplina “Indústria 4.0”, que a Ufes passa a ofertar, de forma inédita e pioneira no país. Essa crença está baseada em números: o Espírito Santo foi reconhecido como o melhor ensino médio do país (Ideb 2018); e na rede pública estadual obteve as maiores notas do país em Português e Matemática no ensino básico (Saeb 2017).
Para ser um estado 4.0, Luciano Raizer defende a capacitação. “A parceria entre o Senai e a Ufes cumpre o seu papel de desenvolvimento do setor produtivo, visando a aumento da competitividade da indústria capixaba. Também fizemos a capacitação da equipe do Senai e o desenvolvimento de produtos a serem ofertados às empresas capixabas para apoiá-las na migração para a Indústria 4.0. O Senai atuará como agente de mudança tecnológica da nossa indústria, levando os conceitos e modelos desenvolvidos na pesquisa *Adoção de tecnologias da manufatura avançada por pequenas e médias empresas – meios e diretrizes para a migração para a Indústria 4.0*.
E a demanda existe. Os cursos do Senai foram redesenhados para se adequarem à indústria 4.0 e os resultados já chamam a atenção: já são 739 alunos matriculados, o que significa 88% de aumento em relação às matrículas de 2018.