Economia

Saca do café conilon ultrapassa os R$ 2.000 pela primeira vez e estimula novos investimentos no Espírito Santo

Saca do café conilon ultrapassa os R$ 2.000 pela primeira vez
Saca do café conilon ultrapassa os R$ 2.000 pela primeira vez

Os preços do café robusta atingiram uma nova máxima histórica nesta sexta-feira, 17, com o Indicador CEPEA/ESALQ superando a marca de R$ 2.000 por saca de 60 quilos – feito inédito na série iniciada em 1996. O robusta tipo 6, peneira 13 acima, fechou o dia cotado a R$ 2.015,66, alta de 2,64% em relação ao dia anterior, enquanto o tipo 7/8 registrou valorização de 2,23%, alcançando R$ 1.981,12 por saca – preços à vista e a retirar no Espírito Santo.

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Demanda aquecida e oferta limitada têm elevados os preços do grão

O café arábica também apresentou elevação nos preços. O Indicador do tipo 6, bebida dura para melhor, posto em São Paulo, subiu 1,3%, encerrando a R$ 2.316,15 por saca. Na Bolsa de Nova York (ICE Futures), o contrato de março/24 avançou 120 pontos (0,37%), fechando a 328,35 centavos de dólar por libra-peso.

A alta segue atrelada às incertezas em relação à oferta global de café, influenciada por adversidades climáticas ocorridas em 2024. O dólar manteve-se estável, cotado a R$ 6,062.

O café conilon tem enfrentado uma combinação de fatores altistas. No cenário internacional, a baixa oferta no Vietnã e na Indonésia, somada aos ataques de rebeldes no Mar Vermelho entre o fim de 2023 e o início de 2024, prejudicou os embarques asiáticos para a Europa. No Brasil, a severa estiagem que atingiu o Espírito Santo impactou negativamente a safra local, ampliando o cenário de escassez global.

Com esse contexto, o Brasil fortaleceu sua posição no mercado internacional de café robusta, com as exportações de conilon capixaba disparando. Até o final de 2024, o país exportou 9,3 milhões de sacas dessa variedade.

Marcus Magalhães, especialista em mercado de café, destacou em entrevista que o Brasil soube aproveitar as condições favoráveis e expandiu sua presença em mercados como Europa e Estados Unidos. “Isso consolida o Espírito Santo como referência na produção de conilon”, afirmou. Ele alertou, no entanto, que os estoques nacionais estão em níveis historicamente baixos, o que pode sustentar os preços elevados por mais tempo.

A valorização histórica do conilon em 2024 – com o preço da saca ultrapassando R$ 2.000 – reflete uma convergência de fatores globais e locais. Esses resultados reforçam a relevância do Espírito Santo, responsável por cerca de 70% da produção nacional, na liderança da cultura do café robusta.

Os preços recordes trouxeram benefícios para a economia local, especialmente para os produtores que não sofreram perdas severas na safra. “Muitos produtores aproveitaram os bons preços para modernizar equipamentos e diversificar investimentos, contribuindo para o desenvolvimento do interior do estado. Contudo, os ganhos poderiam ter sido ainda maiores se não fosse a seca”, avaliou Magalhães.

Carlos Augusto Pandolfi, superintendente geral da Cooabriel, ressaltou que o aumento expressivo nos preços compensou parte das perdas causadas pela quebra de safra. “Embora seja cedo para previsões definitivas, os indicadores sugerem que os preços possam se manter em alta, enquanto há expectativas de que a safra 2025 seja mais produtiva, caso o clima seja favorável.”

A Cooabriel, maior cooperativa de café conilon do Brasil, localizada em São Gabriel da Palha, no Noroeste do Espírito Santo, recomendou aos produtores que avaliem o momento ideal para negociações, priorizando planejamento e qualidade.

“É essencial realizar os investimentos necessários, aprimorar os processos de pós-colheita e se preparar para atender às crescentes demandas por sustentabilidade e excelência no mercado”, concluiu Pandolfi.

2024 foi positivo para a cafeicultura capixaba

Em 2024, os cafeicultores celebraram importantes conquistas: recordes nos preços do café conilon, inclusão do grão na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e equiparação da alíquota do ICMS ao café arábica em regiões estratégicas.

A entrada do conilon na B3 trouxe maior previsibilidade e transparência às negociações de contratos futuros. No campo tributário, o Governo do Espírito Santo reduziu a alíquota do ICMS para 7% nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, promovendo maior competitividade para o café capixaba no mercado nacional.

O Espírito Santo também brilhou em qualidade. Na premiação “Coffee of the Year 2024”, realizada durante a Semana Internacional do Café, produtores capixabas conquistaram as principais posições nas categorias arábica e canéfora.

Carlos André Santos de Oliveira, diretor-executivo do Sistema OCB/ES, ressalta a importância da cafeicultura como um dos pilares da economia capixaba. Segundo ele, é essencial investir no avanço desse setor.

“Ganha o produtor, que obtém mais retorno sobre a sua produção, e ganha também toda a sociedade capixaba, que sente o impacto positivo na economia e na geração de riqueza. O cooperativismo celebra esses resultados. Com uma atuação forte na cafeicultura capixaba, com grande destaque para o café conilon, as cooperativas vêm trabalhando muito para garantir o suporte aos produtores cooperados e seguir mostrando a riqueza que temos aqui no estado”. 

Stefany Sampaio
Stefany Sampaio Colunista
Colunista
Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.