Economia

Ciência do cultivo de florestas, a silvicultura transforma comunidade quilombola capixaba

A silvicultura de espécies nativas é uma agenda ambiental importantíssima, mas também de negócios

Foto: Reprodução TV Vitória
Quilomboladas da Cooperativa São Domingos, no Norte do Estado, trabalham na Silvicultura

As florestas plantadas têm contribuído expressivamente para o desenvolvimento e crescimento econômico do Brasil, mostrando ser a Silvicultura uma grande promessa para o país. A área estimada de florestas plantadas no Brasil totalizou, em 2020, 9,3 milhões de hectares, dos quais 70,6% concentrados nas regiões Sul e Sudeste. 

As áreas com cobertura de eucalipto corresponderam a 80,2% das florestas plantadas para fins comerciais no país. Enquanto 44,3% das áreas de eucalipto concentraram-se na região Sudeste, no Sul observou-se predominância de florestas de pinus, correspondentes a 84,6% do total. Os dados são da pesquisa Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Foto: Divulgação
Cooperativado usa equipamento de proteção para atuar no combate às formigas

A silvicultura é sustentável por definição, pois seu objetivo é criar florestas com árvores que possam suprir as necessidades da economia, mas que também ajudem a preservar e manter as espécies originais. De todos os segmentos produtivos do setor florestal, os de celulose e papel têm maior expressão, contribuindo de forma relevante para o desenvolvimento do Brasil. A cadeia produtiva deste setor abrange as etapas de plantio, produção, colheita, comércio, distribuição e transporte.

O Espírito Santo é um dos maiores polos nacionais de florestas plantadas . Em 2019, o estado do Espírito Santo contava com 231.421 hectares de florestas plantada, sendo que destes, 225.055 hectares eram de florestas de eucalipto e os 5.486 hectares restante correspondem a outras espécies como pinus, seringueira, entre outros. 

Responsável por 30% do PIB do agronegócio capixaba e por 7,5% do PIB estadual, o setor base florestal do Espírito Santo tem importante papel no desenvolvimento de comunidades no Norte do Estado. Com cerca de 330 mil hectares de florestas cultivadas, a maior parte delas concentradas nos municípios de São Mateus, Conceição da Barra e Aracruz, a silvicultura faz parte da fonte de renda da Cooperativa Quilombola de São Domingos (CTRA).

A cooperatia funciona em Conceição da Barra e conta 32 famílias. Marcos Célio Valentim Serafim é encarregado de campo e explica que o controle de pragas é um dos trabalhos mais importante da CTRA.

“Atuamos na roçada, limpeza de cepa e também no combate às formigas. O combate a formigas cortadeiras é fundamental, pois elas limitam o desenvolvimento dos plantios florestais, provocando a redução do crescimento das árvores e também causando baixa resistência ao ataque de outras pragas. O combate às formigas cortadeiras é realizado basicamente com a aplicação de iscas formicidas. Recomenda-se o controle pré-plantio, realizado antes do preparo do solo e uma inspeção 30 dias após o plantio, para uma possível segunda intervenção.”, diz.

Desde 2017, o Incaper atua na Política de Incentivo à Cadeia Produtiva de Base Florestal do Espírito Santo, o Mais Floresta Produtiva, que tem por objetivo construir de forma sustentável uma nova política da cadeia produtiva de base florestal. O objetivo é expandir a área de plantio com florestas produtivas e adequação ambiental de propriedades agrícolas, por meio de parcerias púbico-privadas e uma administração baseada na governança interinstitucional.

Segundo Pedro Arlindo Oliveira Galveas, pesquisador do Incaper, as regiões com maior conservação de solo e água no Estado são aquelas onde têm concentração de florestas, sejam elas plantadas ou não.

“Podemos afirmar que são florestas que oportunizam vários serviços ambientais que colaboram, e muito, na regulação e conservação do solo. Elas protegem os recursos hídricos e mantêm os ciclos de chuva, além de promover a detenção do gás carbônico. Também faz parte deste ponto toda a preservação da biodiversidade, tornando o ecossistema bastante equilibrado”, afirma Galveas.

Para desevolver o trabalho, a cooperativa Quilombola São Domingos recebe o apoio de empresas privadas, como é o caso da da multinacional Suzano, referência global na fabricação de bioprodutos desenvolvidos a partir do cultivo de eucalipto. O coordenador de Desenvolvimento Social da empresa, Douglas Peixoto, salienta que a empresa possui um time de Negócios Florestais.

“A empresa busca destinar recursos a projetos nas comunidades visa ampliar a contribuição da empresa para a construção de territórios mais resilientes e sustentáveis no longo prazo. Entendemos que o momento pede empatia e união, com essa iniciativa buscamos apoiar o desenvolvimento e proporcionar melhoria na qualidade de vida das comunidades com as quais nos relacionamos”, afirma ele

O analista de Meio Ambiente Florestal da Suzano, Tiago Pereira da Silva, explica que  a restauração ecológica contribui para oferecer maior biodiversidade e gerar diversos serviços ecossistêmicos, entre eles a disponibilização de água, conservação do solo, regulação do clima, pragas e doenças. 

“O processo de restauração gera, ainda, oportunidade de renda e emprego, pois movimenta uma cadeia que inclui atividades como a produção de mudas de espécies nativas, o plantio, atividades de manutenção e monitoramento das áreas contempladas”, observa Tiago Pereira”.

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As formigas-cortadeiras em plantios florestais só podem ser controladas com um bom plano de manejo 

A multinacional utiliza diferentes técnicas de restauração, incluindo a condução da regeneração natural, a restauração passiva ou o isolamento da área de fatores de degradação, o plantio de mudas de árvores nativas e o plantio consorciado de eucalipto e nativas, este último podendo ser empregado apenas em áreas de Reserva Legal. A restauração ambiental adota, ainda, o controle de espécies exóticas, ou seja, espécies que não são naturais da região.

“A recomposição de áreas de Reserva Legal pode ser realizada mediante plantio intercalado de espécies nativas de ocorrência regional com exóticas ou frutíferas, sendo permitido que em no máximo 50% da área a ser recuperada sejam utilizadas espécies exóticas. De acordo com o Art. 22 do Código Florestal, em Reserva Legal admite-se a exploração econômica mediante manejo sustentável, previamente aprovado pelo órgão competente desde que não se descaracterize ou prejudique a cobertura vegetal, seja assegurada a manutenção de diversidade de espécies, e se conduza o manejo de espécies exóticas com a adoção de medidas que favoreçam a regeneração de espécies nativas”, afirma Tiago Pereira.

Conheça as seis principais curiosidades do setor de florestas plantadas

 1) As florestas plantadas são responsáveis por 91% de toda a madeira produzida no Brasil para fins industriais.

2) Os plantios florestais são considerados culturas agrícolas em âmbito nacional, assim como a soja, milho, café e algodão, por exemplo. 

3) Cada 1,0 hectare de floresta plantada preserva cerca de 0,6 hectare de florestas nativas.

4) São duas as modalidades de silvicultura: a clássica e moderna. A primeira, relativa às florestas naturais, recorre a forças produtivas oriundas dos sítios ecológicos e busca preservar a estabilidade natural do ecossistema. A segunda trabalha com as florestas plantadas, mantidas artificialmente e mais autônomas em relação ao sítio natural.

5) O trabalho dos silvicultores exige precisão para intervir na floresta no momento certo, sem prejudicar o equilíbrio ecológico, e atenção a detalhes como estudo do clima local, determinação da espécie e escolha do material genético.

6)As regiões Sul e Sudeste concentram grande parte da produção florestal do país. Juntas, elas responderam por 69,6% do valor da produção nacional, impulsionadas, principalmente, pelo setor de florestas plantadas.