
* Artigo escrito por Rafaela Secato, comunicóloga, especialista em Marketing, Governança, Risco e Compliance, consultora em GRC e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Governança, Risco e Compliance do IBEF-ES.
Quando falamos em transformação digital para as organizações, remetemos a um processo estratégico e contínuo vivenciado por meio do uso de tecnologias digitais, a fim de impulsionar a inovação, reinventar negócios, aprimorar a eficiência operacional e a experiência dos públicos.
Neste contexto, o Centro de Pesquisa Global da Harvard Business School iniciou uma jornada de pesquisa sobre o tema há 3 anos, por meio da realização de mesas redondas e entrevistas, com executivos de empresas de todo o mundo, desde líderes de mercado até startups.
As oportunidades trazidas pela transformação são vistas como sem precedentes, e 97% dos participantes acreditam que a aderência a esta jornada os fará permanecer competitivos.
Apesar de reconhecerem a importância da velocidade, ao planejar os recursos, finanças e outros, se lançam sobre desafios em manter a constância e a capacidade da organização.
Diante das descobertas, Harvard enumerou sete princípios orientadores para as organizações que estão em qualquer estágio, seja nascente, em desenvolvimento ou estagnado.
São todos princípios relevantes e, por vezes, relacionam-se entre si. Na sequência, a necessidade de trazer o olhar para o lado emocional da jornada; alinhar a narrativa centrada no cliente; criar uma cultura informada por dados e o desenvolvimento de talentos; gerir a dinâmica da energia que acompanha os dados; criar design para a solução de problemas de maneira próxima, inclusiva e ágil, como também incentivar um ecossistema colaborativo de fora para dentro da organização. Além desses seis enumerados, o tema deste artigo quer dar destaque ao último deles, que diz sobre a capacidade da organização em proteger a ética e adotar uma abordagem proativa para governança e conformidade.
Se, por um lado, apenas 18% dos entrevistados reconhecem a ética e as boas práticas em governança e compliance como críticas para o sucesso, por outro, este seleto grupo se mostrou significativamente mais avançado no processo de transformação digital em relação aos demais.
Neste sentido, o que a ética, a governança e o compliance favorecem estas organizações em vantagens competitivas na jornada pela transformação digital?
É possível mencionar boas práticas adotadas por essas organizações, tais como criar núcleos, internos ou externos, para serem guardiões em supervisionar as políticas, as práticas éticas e definir o plano de ação frente aos desafios complexos.
Buscam ficar à frente das novas regulamentações e responsabilizam os líderes quanto a este prisma, local e global, na tomada de decisões de investimento.
Marcas como Patagônia, Salesforce, Unilever e IBM têm se mostrado pautadas por princípios éticos.
A IBM, por exemplo, engaja uma comunidade de acadêmicos, pesquisadores e cientistas de dados junto ao projeto IBM AI Fairness 360, que consiste em um kit de ferramentas de software de código aberto que pode ajudar a detectar e remover o viés em modelos de aprendizado de máquina.
As lideranças desempenham papel fundamental, fortalecem os valores orientadores e uma cultura de trabalho a engajar as ações desejadas.
Essas práticas vão além da mitigação de danos, e, à medida que os avanços tecnológicos abrem novos casos de uso inimagináveis, os líderes devem estar preparados para responder à pergunta: “devemos fazer algo, só porque podemos?”.
A transformação digital íntegra trata essencialmente das pessoas e do gerenciamento de informações relacionadas a elas.
Proteção de dados, privacidade, transparência, prestação de contas, equidade, inclusão, responsabilidade social, ambiental e confiança são elementos fundamentais para uma transformação digital responsável e inclusiva.
Os benefícios incluem confiança, reputação, mitigação de riscos, atração e retenção de talentos, e resiliência para lidar com desafios e crises. As escolhas, os caminhos e os objetivos definidos pelas lideranças determinam o resultado dessa jornada em termos de perenidade e sustentabilidade.
Líderes que conduzem a transformação digital devem considerar como isso agregará valor para a organização, para o projeto, para suas carreiras e para as pessoas que adotam essas condutas. Embora não haja uma receita única para o sucesso, a responsabilidade e a ética são fundamentais para alcançar resultados positivos.
Nesse cenário, em qual estágio da IA se encontra e por qual caminho deseja seguir?