As famílias brasileiras estão cada vez mais endividadas, sendo que em dezembro de 2021 atingimos o maior índice de endividamento dos últimos 11 anos. O alto endividamento é inimigo número um quando o assunto é tranquilidade financeira, uma vez que esta pressupõe sobra de dinheiro para investimento e utilização no bem-estar da pessoa e da família, ou seja, situações diametralmente opostas, afirma nosso articulista Pedro Simmer, que juntamente com o economista Tiago Roque, escrevem o artigo da coluna de hoje. Veja abaixo:
Finanças
Uma vida sem dívidas não pode ser privilégio de poucos
No artigo de hoje vamos tratar de um assunto que é um problema e, ao mesmo tempo, realidade para grande parcela da população brasileira: o endividamento.
Quando o assunto é investimento e alocação de recursos pensando em tranquilidade financeira, especialmente para longo prazo, a barreira que geralmente surge é relacionada à saúde financeira das pessoas, pois, tendo elas que arcar com os compromissos firmados, não sobram recursos para investir. Além do que, em muitos casos, há gastos maiores do a sua renda permite, gerando assim a necessidade de empréstimos para suprir essa carência financeira.
A vida financeira pessoal deve ser encarada como a de uma empresa. Se na empresa existe receita e despesa e o objetivo desta é o lucro, na vida pessoal temos a entrada de recursos, em forma de salário na maioria das vezes, e a saída em forma dos gastos cotidianos existentes e outros compromissos assumidos.
Ocorre que da mesma forma que a empresa, caso haja despesa maior que receita, recorre-se a empréstimos para honrar seus compromissos e caso essa situação se perdure a falência é certa. Assim, as pessoas físicas também ficam sem condições de arcar com compromissos assumidos, tornando-se inadimplentes e muitas vezes sem perspectiva de solução.
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) o nível médio de endividamento das famílias brasileiras no ano de 2021 foi o maior em 11 anos apresentando recorde do total de endividados, encerrando dezembro de 2021 com 76,3% das famílias nesta condição.
Além do nível histórico de endividamento a pesquisa também revela que 26,2% das famílias estão inadimplentes, sendo que esse percentual sobe para 29,5% para as famílias com renda de até 10 salários mínimos, a grande maioria das famílias brasileiras. Nesse grupo, segundo a pesquisa, quase 22% das famílias comprometem mais de 50% de sua renda somente para o pagamento de dívidas e quase 35% dessas famílias tem endividamento com prazo superior a um ano.
Um dado que chama atenção na pesquisa realizada é o tipo da dívida contraída pelas famílias brasileiras em que mais de 82% das famílias com algum tipo de dívida devem Cartões de Crédito, justamente a dívida com uma das maiores taxas de juros cobradas no mercado, por volta dos 12% mensais segundo dados do Banco Central.
Por outro lado, a taxa de juros média cobrada pelo crédito pessoal não consignado é de aproximadamente 3% ao mês, também de acordo com dados do Banco Central, sendo que é ainda menor se for na modalidade consignada, modalidade em que o desconto é feito direto do salário da pessoa.
Com um endividamento tão elevado é compreensível que não sobre dinheiro no final do mês para se pensar em poupar e investir, muito menos buscando uma melhor perspectiva financeira futura de longo prazo.
Fator essencial para mudar a situação de endividado é conhecer a própria realidade financeira, descobrindo os principais itens que consomem os recursos financeiros disponíveis, ou seja, os gastos existentes, verificando a possibilidade de reduzir ou mesmo acabar com estes e ainda quais tipos de dívidas possuímos com os respectivos custos das mesmas. Nesse momento, um bom planejamento financeiro é fundamental.
Outro ponto importante é pesquisar e trocar as dívidas existentes acabando com as de custos mais elevados, substituindo estas para uma de menor custo, reduzindo-se, assim, as despesas com juros e possibilitando a quitação em menor tempo.
O fato é que o processo de educação financeira pode ajudar muito para reverter o quadro acima. A missão de disseminar a boa gestão das finanças pessoais é grande, afinal, uma vida sem dívida não pode ser privilégio de poucos.
Pedro Simmer é Administrador, Mestre em Gestão Pública pela UFES, especialista em Finanças, Servidor Público Estadual atuando nas áreas de Planejamento, Orçamento e Gestão e Professor de Planejamento Estratégico e Finanças.
Tiago Roque é Economista, especialista em Finanças e Controladoria, com certificação CPA-20, Diretor de Investimentos da Fundação de Previdência Complementar do Estado do Espírito Santo – PREVES, Servidor do Tesouro Estadual.