O ambiente escolar pode muitas vezes dividir opiniões. Há os alunos que adoram estar no colégio, jogar conversa fora com os amigos, aprender. Por outro lado, existem os estudantes que não veem a hora de agarrar o diploma e ganhar o mundo.
O mesmo vale para os educadores: estejam eles na sala de aula ou na direção da escola, existem aqueles que simplesmente nasceram para estar na escola. A educadora mais antiga do ES que o diga.
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Todo mundo conhece aquele profissional da educação que está em um mesmo colégio há tantos anos que já se tornou parte essencial dele. Ex-estudantes que se conhecem ou não, têm histórias para contar sobre aquele profissional. Este é o caso da educadora Ofélia Corrêa, de Conceição da Barra.
Mas quem é morador da cidade do Norte capixaba pode agora estar pensando: quem é Ofélia? De acordo com ela, no município, ela é conhecida mesmo por outro nome: Lindona. E aí, ligou o nome à pessoa?
Educadora mais antiga do ES: paixão pela educação
Para quem nasce com poucos recursos financeiros, o esforço e o suor são as formas mais realistas de manter um sonho vivo. Sem tanta grana no bolso, é preciso ralar para conseguir alcançar os objetivos.
Essa história poderia ser de muitos profissionais, das mais variadas áreas, mas é de Ofélia, que em 1978 agarrou o diploma de Magistério.
“Eu fiz o Magistério para professora, porque sempre foi meu sonho. Sou de uma família muito humilde e estudei muito para isso. Em 1980, houve o concurso público do Estado e das 40 alunas que se formaram, eu fui uma das que passei, mas não fui para a sala de aula. Em 1982, Deus me deu a oportunidade para escolher uma cadeira de coordenação de classe, e consegui em Conceição da Barra, no distrito de Braço do Rio. Fui convidada pelo finado deputado Gerson Camata”, contou.
Diretora “Lindona”
A estadia em Braço do Rio durou pouco, um ano e lá se foi ela para outro desafio. Em 1983, houve eleição para assumir o cargo de diretor da Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Deolinda Lage, em Conceição da Barra.
Surgiu a oportunidade e pensei: vou encarar esse desafio. Concorri com outros três candidatos e acabei ganhando. Nessa escola, eu fiquei até 2009, onde fui sendo reeleita a cada dois anos. Sempre que me candidatava conseguia ganhar de novo, porque viam o quanto levava meu trabalho a sério e como sempre tentei ajudar a comunidade, contou.
Do barro ao concreto
Para quem nasceu de 2000 para cá é difícil imaginar salas de aula sem recursos como computadores, projetores, sem algum tipo de tecnologia que torne mais fácil o dia a dia escolar.
Nos anos 1980 e 1990, a história era bem diferente, principalmente quando o assunto era uma cidade de interior.
Naquele tempo, a Deolinda Lage era uma escola que sofria com os desgastes do tempo, especialmente nas estruturas. O barro ainda era a cola que sustentava os alicerces do colégio.
As turmas também eram limitadas. Ali só podia se estudar da 1ª à 4ª série, o que mudou com a gestão de Ofélia. Para isso foi preciso juntar dinheiro, o que aconteceu por meio de arrecadação com jogos e sorteios, além de conversas com gente da capital.
Derrubei uma escola muito antiga e construí uma nova. Ela era de barro, não tinha carteiras, era só de 1ª a 4ª série. Fizemos toda a arrecadação por meio de rifas, bingos, levantamos dinheiro em festas juninas. Eu sempre ia a Vitória atrás dos deputados. Com isso conseguimos construir. Sou nascida e criada em Conceição da Barra, tenho verdadeira paixão por esse lugar e pela comunidade.
A escola foi municipalizada em 2005, mas mesmo sendo uma profissional estadual, a diretora continuou cedida ao município e seguiu por mais quatro anos na instituição, até seguir um novo rumo.
Formadora de gerações de estudantes
Após uma senhora temporada na Deolinda Lage, era hora de alçar novos voos. Atualmente, Ofélia está na Escola de Ensino Fundamental Professor Joaquim Fonseca, no mesmo município.
Por lá já teve a alegria de encontrar ex-estudantes, mas eles aparecem agora é mãos dadas com pequenas pessoinhas, filhos que agora também seguem a coordenação da tia “Lindona”.
“Meus alunos no Deolinda Lage já estão formados e bem encaminhados, formei muitos alunos. Hoje em dia, os próprios ex-alunos trazem os filhos e dizem ‘olha, dona Lindona, esse é seu novo neto’ e sempre colocamos a conversa em dia, é uma satisfação e a uma realização enormes”, se diverte.
Aposentadoria? Sai para lá
E nestes 43 anos de dedicação, há espaço para muita gente. Desde os pequenininhos até quem já passou dos 60 e não perde o ímpeto para buscar conhecimento. É o caso de idosos que fazem parte da Educação de Jovens e Adultos (EJA), na Joaquim Fonseca.
De acordo com a coordenadora, que não revela sua idade, estar entre os estudantes é o que ela realmente de gosta. Por conta disso, a aposentadoria sequer passa pela cabeça.
Sou bem querida na comunidade e na cidade, todo mundo sabe quem é a Lindona. Me sinto extremamente realizada, tanto é que nem penso em aposentadoria, já até ultrapassei os anos para pedir. Eu gosto de lidar com crianças, com jovens, a noite tenho os alunos do EJA, alguns até senhores. Tenho jeito para lidar com eles, a rebeldia deles faz com que se tornem meus amigos. É aqui onde eu amo estar, com os alunos.