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Inteligência artificial na educação básica: como usar de forma orientada

A inteligência artificial pode ser aliada poderosa no processo de aprendizagem quando usada com propósito e orientação adequada

Foto: Pexels
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Vivemos em uma época de transformações aceleradas, e a educação não pode ficar para trás. As inteligências artificiais já fazem parte do cotidiano dos nossos jovens, estão nos smartphones, nos videogames, nas redes sociais e em praticamente todos os cantos da internet.

Diante dessa realidade, proibir o uso dessas ferramentas nas escolas é como tentar segurar água com as mãos – simplesmente não funciona.

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Inteligência artificial: desafio é orientar os alunos

Em vez disso, precisamos encarar de frente o desafio de orientar nossos alunos sobre como usar as IAs de forma consciente e produtiva.

Muitas escolas brasileiras ainda encaram as IAs com desconfiança, e não é difícil entender o porquê. Existe o medo de que os estudantes “trapaceiem” em suas tarefas, delegando todo o trabalho intelectual para o ChatGPT ou outras ferramentas similares.

Há também a preocupação legítima de que os alunos se tornem dependentes dessas tecnologias, perdendo habilidades fundamentais como a escrita autônoma e o raciocínio crítico.

Mas será que a solução é realmente banir essas ferramentas do ambiente escolar?

Oportunidade de repensar a educação

Penso que estamos diante de uma oportunidade única de repensar a educação. As IAs podem ser aliadas poderosas no processo de aprendizagem quando usadas com propósito e orientação adequada.

Imagine um estudante com dificuldade em matemática que pode receber explicações personalizadas, adaptadas ao seu ritmo e estilo de aprendizagem.

Ou uma criança curiosa que pode explorar temas que vão além do currículo escolar, fazendo perguntas a uma IA que tem paciência infinita para responder e aprofundar assuntos. Essas possibilidades não são futuristas – estão disponíveis agora mesmo.

Para escolas com recursos limitados, as IAs representam uma democratização do conhecimento sem precedentes.

Tutor virtual em áreas remotas

Um aluno de uma escola pública em uma região remota pode ter acesso a um “tutor virtual” 24 horas por dia, algo que antes seria privilégio apenas de quem pudesse pagar por aulas particulares.

Textos em outros idiomas podem ser traduzidos instantaneamente, ampliando o acesso a materiais educacionais de qualidade.

Essas ferramentas podem ajudar a diminuir a distância entre os que têm mais e menos recursos, desde que implementadas com cuidado para não aprofundar a exclusão digital.

Claro que existem riscos e desafios. Não podemos ser ingênuos. Se deixarmos os estudantes à própria sorte com essas tecnologias, muitos vão optar pelo caminho mais fácil – pedir para a IA fazer todo o trabalho por eles.

É aí que entra o papel fundamental dos educadores. Precisamos ensinar nossos alunos a usar as IAs como ferramentas de apoio, não como substitutas do seu próprio pensamento.

Um bom exemplo: em vez de proibir o uso do ChatGPT para redigir textos, que tal pedir aos alunos que escrevam um primeiro rascunho, usem a IA para receber sugestões de melhoria, e depois reflitam criticamente sobre essas sugestões, aceitando algumas e rejeitando outras?

Professores precisam se adaptar à realidade

Os professores também precisam se adaptar a essa nova realidade. Não dá mais para passar aquele trabalho de pesquisa genérico que pode ser resolvido com um único prompt para uma IA.

Os educadores precisam criar atividades que valorizem o processo de aprendizagem, não apenas o resultado.

Avaliações que envolvam reflexão pessoal, aplicação prática do conhecimento e criatividade são muito mais difíceis de serem “terceirizadas” para uma máquina.

A formação dos professores é outro ponto crucial. Muitos educadores se sentem perdidos diante dessas novas tecnologias, o que é perfeitamente compreensível.

As escolas precisam investir em capacitação, mostrando aos professores como as IAs funcionam e como podem ser incorporadas de forma produtiva ao processo pedagógico.

Um professor que entende as possibilidades e limitações dessas ferramentas está muito mais bem equipado para orientar seus alunos.

Alfabetização em IA para os próprios estudantes

Outro aspecto importante é a alfabetização em IA para os próprios estudantes. Eles precisam entender, em um nível básico, como essas tecnologias funcionam, quais são seus vieses e limitações.

Uma IA não é uma fonte de verdade absoluta – ela reflete os dados com os quais foi treinada, com todos os preconceitos e lacunas que esses dados possam ter.

Ensinar os alunos a questionar e verificar as informações fornecidas por IAs é tão importante quanto ensiná-los a usar essas ferramentas.

As escolas também precisam estabelecer políticas claras sobre o uso de IAs. Quando é aceitável utilizá-las?

Como os trabalhos que envolvem assistência de IA serão avaliados? Quais informações dos alunos podem ser compartilhadas com essas plataformas?

Essas questões precisam ser discutidas abertamente com toda a comunidade escolar, incluindo pais e os próprios estudantes.

Tornar o aprendizado mais divertido e engajador

No ensino fundamental, as IAs podem ser usadas para tornar o aprendizado mais divertido e engajador.

Imagine crianças criando histórias em colaboração com uma IA, ou explorando temas científicos, através de perguntas que talvez um professor sozinho não teria tempo de responder para cada aluno individualmente.

No ensino médio, os estudantes podem usar IAs para organizar seus estudos, criar resumos personalizados ou praticar para o vestibular com exercícios adaptados às suas dificuldades específicas.

O mundo para o qual estamos preparando nossos jovens será profundamente moldado pela inteligência artificial. Praticamente todas as profissões serão impactadas de alguma forma por essas tecnologias.

Negar aos estudantes a oportunidade de aprender a trabalhar com IAs é como ter proibido o uso de calculadoras ou computadores no passado – uma resistência que, olhando em retrospecto, parece absurda.

Há muito mais em jogo nesse debate

No fundo, o que está em jogo não é apenas a adoção de uma nova ferramenta tecnológica, mas uma mudança na forma como encaramos a educação.

O valor de um bom educador nunca esteve na simples transmissão de informações – algo que as IAs podem fazer muito bem – mas na capacidade de inspirar, orientar e formar cidadãos críticos e éticos.

Essas habilidades humanas se tornam ainda mais valiosas em um mundo onde as máquinas assumem tarefas mais mecânicas.

A educação básica tem a missão de preparar os jovens não apenas para o mundo de hoje, mas principalmente para o de amanhã. E esse futuro, querendo ou não, será cada vez mais permeado por inteligências artificiais.

Abraçar a realidade de forma crítica e consciente

Em vez de resistir a essa realidade, podemos abraçá-la de forma crítica e consciente, transformando as IAs de potenciais ameaças em poderosas aliadas no processo educacional.

O desafio está lançado para educadores, gestores escolares e toda a sociedade: como vamos orientar nossos jovens para que se tornem não apenas consumidores passivos, mas usuários críticos e criadores ativos nesse novo mundo potencializado pela inteligência artificial?

A propósito… esse texto foi escrito 100% por uma IA, com a minha curadoria.

Michel Batista

Colunista

Coordenador de currículo brasileiro na Escola Americana de Vitória. Sócio-proprietário do Mendel Cursos. Professor de Biologia do Ensino Médio com ampla experiência no preparo de alunos para a entrada na universidade, em especial nos cursos da área biomédica.

Coordenador de currículo brasileiro na Escola Americana de Vitória. Sócio-proprietário do Mendel Cursos. Professor de Biologia do Ensino Médio com ampla experiência no preparo de alunos para a entrada na universidade, em especial nos cursos da área biomédica.