Língua Portuguesa

"Pilota" existe? Professora de Português explica se a palavra está correta

A dúvida surgiu entre leitores após matéria especial sobre uma pilota de navio do ES. Veja o que diz uma especialista na Língua Portuguesa

Palavra pilota
Foto: Acervo Pessoal/Freepik

Uma reportagem feita pelo Folha Vitória para celebrar o Dia Internacional da Mulher, no último dia 8 de março, deu o que falar. Além da história inspiradora, muitos leitores do jornal online se manifestaram em relação a uma palavra usada na matéria.

Foi o caso da reportagem “Pilota de navio do ES coleciona histórias dos mares e quebra barreiras”, que destacou a trajetória de sucesso de Carolina Natali Halász, que é supervisora de serviço de tráfego de embarcações. A função dela é controlar as embarcações que entram e saem do Complexo Portuário de Vitória e Vila Velha.

O questionamento dos leitores e dos seguidores das redes sociais do Folha Vitória foi sobre estar certo ou não o emprego da palavra pilota no feminino e não no masculino, como normalmente é falado.

LEIA TAMBÉM:

ES quer instalar ar-condicionado em todas as escolas estaduais até o final de 2026

Ifes abre mil vagas para cursos preparatório de graça em todo o ES

Educadora mais antiga do ES molda gerações há 4 décadas

Antes disso, é importante destacar que, mesmo normalmente falando “comandante de navio”, o termo “piloto de navio” está correto e se aplica a diversas áreas da navegação, como oficial de convés, apoio à navegação de entrada e saída de portos e também a quem é responsável pela direção da viagem.

No caso de Carolina, ela é oficial de náutica, profissional responsável pela navegação, manobra e segurança da embarcação, atribuições que a fazem ser “pilota”.

Dentre as funções estão: planejar e executar a navegação, controlar e estabilizar a carga do navio e supervisionar a segurança da tripulação e dos passageiros.

O que diz a Língua Portuguesa sobre “pilota”?

Com a polêmica sobre piloto x pilota, o Folha Vitória foi atrás de uma especialista para dar uma explicação a argumentos como este: “Pilota é verbo, não é substantivo, pilota não existe, é piloto. Que ignorância!”, escreveu um internauta na publicação no Instagram.

A reportagem conversou com a professora de Língua Portuguesa Beatriz Dona Peterle, licenciada em Letras-Português e mestra em Linguística pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Afinal: pilota está certo ou não?

A professora explicou que a gramática normativa do português brasileiro reconhece, atualmente, as duas formas da palavra: piloto e pilota. Ainda assim, segundo ela, há resistência dos falantes da língua em aceitar formas femininas de palavras que não eram utilizadas no feminino.

É o caso de pilota e presidenta. Chamamos essas palavras de substantivos biformes: aqueles que possuem uma forma no masculino e uma no feminino, disse a professora.

A mestra em Linguística explica que essas palavras no feminino têm ganhado espaço no vocabulário, inclusive, algumas já são reconhecidas há anos.

O registro de ‘pilota’ como substantivo biforme vem se tornando comum enquanto a profissão também se torna. Aconteceu algo semelhante com a palavra ‘presidenta’, quando tivemos a primeira mulher eleita para esse cargo no Brasil. É comum o estranhamento. O mais importante é sempre darmos lugar à informação verdadeira: a palavra presidenta para cargo ocupado por mulher está registrada desde 1956, por exemplo, destaca Beatriz.

A professora afirma ainda que muitas das palavras no gênero feminino não são polêmicas pelo fato da questão gramatical, mas, sim, pela questão ideológica.

“Presidenta, por exemplo, não é uma palavra nova, apenas não havia tido a oportunidade de aparecer por aí. Ou seja: a polêmica sobre o uso da palavra não é uma questão gramatical, mas ideológica. Acredito que sob a mesma situação esteja a palavra ‘pilota'”, avaliou. 

A professora orienta que, em caso de dúvidas sobre as palavras, as pessoas acessem o site do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), da Academia Brasileira de Letras (ABL). Lá está “pilota” como substantivo.

“Portanto, não há inadequação no uso de ‘pilota’, como biforme, ou ‘a piloto’, como comum de dois gêneros. A nossa língua registra os dois usos”, finalizou Beatriz Dona Peterle.

*Texto sob a supervisão da editora Elisa Rangel