Colunista social mais antigo do mundo, Helio Dórea, do Folha Vitória, faz 91 anos: "Sou plenamente feliz"
Batendo recorde mundial, o jornalista do Folha Vitória é colunista social há 66 anos, em 2022, ininterruptos. Helio viaja à Argentina com a esposa, Regina Dórea, para celebrar o aniversário nesta terça (26)
Depois de mais de 30 anos no mesmo CEP, há algumas semanas, Helio Dórea se mudou de Vitória para Vila Velha - agora, está no mesmo quarteirão em que já viviam os três filhos, Helia, Helina e Miguel.
Helio morava em andar alto de um dos prédios mais luxuosos do Clube Mata da Praia, na Dante Michelini, de frente para a orla. Ainda ajeita uma coisa ou outra no novo apartamento, que não deixa nada a desejar para o antigo. A porta da residência não tem número. Só "HRD" (leia-se: Helio Regina Dórea) em letras douradas fixadas na madeira. "Foi ideia de um bacana. Tudo meu era 'HD'. Mas eu e Regi (sic.) temos tanto um do e ao outro que passei a colocar tudo com a inicial dela também", explica.
E, de fato, eles foram feitos um para o outro: neste ano, o casal completa 62 anos de casados. "Ele foi meu primeiro namorado", conta a esposa, Regina Dórea, toda orgulhosa, que também ciceroneou o encontro do jornalista com a Coluna Pedro Permuy na tarde desta segunda (25).
Depois de apresentar a nova casa, com escritório que tem sua primeira máquina de escrever, que ele usou para redigir a primeira coluna social da carreira, e um telefone da mesma época, foi ali, em uma das mesas de jantar da sala de estar, que o papo com o pração (um dos bordões que ele usa para se referir aos figurões da alta sociedade em sua coluna no Folha Vitória) rolou solto por horas.
Nesta terça-feira (26), Helio celebra 91 anos de idade e, em 2022, 66 de profissão ininterruptos - o que o faz ser o mais antigo colunista social do mundo. Só em um dos veículos em que trabalhou foram 41 anos direto, além de ter sido ele um dos destaques do lançamento do nosso Folha Vitória, que faz 15 anos no próximo mês.
A pesquisa que o dá esse título foi realizada por Manoela Ferrari - filha do jornalista Manolo Cabral e da pianista Sônia Cabral (esta que dá nome ao palácio da cultura do Centro de Vitória) - e está publicada no Jornal de Letras, mensário do Instituto Antares de Cultura, do Rio de Janeiro.
"É uma glória. Ter vivido tudo o que vivi, celebrado as conquistas, as viagens, o que construí é glorioso. E olha que fiz muita coisa. Faço muita coisa", fala, já afivelando as malas para embarcar rumo à Argentina nesta tarde (26), onde celebrará a nova idade com a esposa em trip de uma semana.
Por esses anos de carreira e outros, Helio é nacionalmente um dos nomes mais respeitados entre as rodas das mais tradicionais e reservadas altas sociedades. Já frequentou bailes dos anos dourados das socialites mais famosas do Brasil, coleciona até hoje amizades com a elite empresarial e é reconhecido até internacionalmente. "Volta e meia alguém fala: 'Leio você do Japão, dos Estados Unidos, da Europa'. É o que a internet trouxe".
E o baiano que mora no Estado desde seus 21 anos de idade entendeu bem a força do jornal online da Rede Vitória, líder no Estado e bem prestigiado em todas as praças. "É um alcance absurdo. E tudo se transforma", corrobora o jornalista, que se adaptou muito bem ao mundo digital. "Trabalho eu, aqui, e Regina atrás de mim", mostra, apontando para um notebook de última geração em seu home office.
Além do espaço em casa, Helio também tem escritório de andar inteiro em edifício da Enseada do Suá. E ele recebe a ajuda de uma das filhas, que também assina o espaço diário com ele no jornal - Helia. Mas a família é muito maior: além dos respectivos agregados dos herdeiros, são 11 netos e 2 bisnetos ao todo. Natural de Feira de Santana, na Bahia, o também empresário já vem de família grande: foram 8 irmãos (Helio é o mais novo). Mas nenhum outro saiu das redondezas dos pais, como o colunista social fez quando decidiu se mudar para Vitória.
"Vim estudar Odontologia, curso em que sou formado. Tentei vestibular para Medicina na Bahia, não passei, e um amigo me indicou tentar começar o curso aqui e depois pedir transferência, que não achei má ideia. Na primeira semana no Espírito Santo, já tinha feito amizade, ido a uma festa no palácio do governo do Estado e virado amigo do governador", relembra, com o fôlego entusiasmado.
E o que mais tem são histórias para lá de divertidas com personalidades que já foram manchete em algum período da vida. Helio foi amigo de Ibrahim Sued, o segundo colunista mais antigo até agora, com 41 anos de atividade no social, que morreu aos 71 em 1995; conheceu a fundo Jorginho Guinle, "o maior playboy do Brasil", da família que já foi dona do Copacabana Palace; tem fotos com ministros de vários dos governos federais e até artistas mundiais; era chegado também de Lily Marinho, socialite esposa de Roberto Marinho; Mariza Coser e o marido, Jair Coser, "o rei do café do mundo"; e por aí vai.
De lá para cá, o network de Helio foi desse nível para cima e suas conexões o acabaram levando a escrever para O Diário, antigo jornal que funcionava na Rua Sete, no Centro de Vitória - já em uma coluna social. "Depois descobri a publicidade e descobri que eu ganharia com aquilo. Naquele ponto, meu pai havia montado consultório em que eu já atendia como dentista, mas comecei a ganhar muito mais dinheiro com o jornalismo".
Aos poucos, mesclando notícias de amenidades de salões de beleza e furos jornalísticos, o colunista social se tornou o que é´ hoje: a maior referência do segmento no Estado e uma das maiores do Brasil.
"Com orgulho eu falo de coisas que consegui. Coluna social não é só foto de gente bonita. Já fiz campanhas que resultaram em resoluções sérias". Helio, por exemplo, viabilizou encontro do então reitor da Ufes com o ministro da Educação que culminou na criação do curso de Comunicação Social, quando foi fundado. Também já fez reabrir o Museu Solar Monjardim, em Vitória, com notas provocativas. "É o que estou fazendo agora com o Cais das Artes, que é um absurdo que esteja abandonado".
"Hoje sou uma pessoa plenamente feliz" - Helio Dórea, colunista social do Folha Vitória
E depois de tanto empenho, que continua até hoje, já que aposentadoria é quase uma ofensa para Helio, as viagens há alguns anos viraram suas grandes paixões. Delas, guarda memórias com riquezas de detalhes de quase todos os roteiros e já experimentou de hospedagem no Palácio Moët & Chandon, na França, a convite da própria marca, até o primeiro hotel 6 estrelas do mundo, na África do Sul. Entre um embarque e outro, as portas em automático de várias primeiras classes de aviões, trens e navios já fizeram o colunista social e a família visitarem quase todos os países do mundo. "Só não fui aos lugares que não queria ir mesmo", brinca.
De todas, conta com mais saudosismo de quando foi com sua Regina à Europa para desfrutar da viagem no Expresso do Oriente, o Venice Simplon-Orient-Express, que vai de Paris a Veneza em 24h. "Não tinha a menor vontade de sair de lá (risos). Cada vagão que a gente avançava era maior o deslumbre. O jantar, o quarto, tudo de primeiríssima", recorda. Só para se ter ideia, hoje, só a passagem desse trajeto custa para lá de 10 mil dólares.
"Tudo isso e mais me faz ser, hoje, feliz. Não desejo o mal a ninguém, não invejo ninguém e sou completamente feliz. Só tenho energia boa. E quem planta o bem...", começa dizendo. "Colhe o bem", deixou para este colunista completar.
