Adriana Calcanhotto lança álbum e confirma show no ES: "Escolhi ser feliz"
Aos 57 anos de idade, artista refletiu, de 2016 para cá, sobre vida e obra para espelhar os sentimentos em "Errante", lançado no último dia 31. Turnê vai rodar até a Europa
Adriana Calcanhotto é expert em tomar decisões.
Certas ou erradas, para ela, não tem problema ter que dar um passo para trás ou mudar o pensamento para o futuro. Progredir - e cantar - é só o que ela não abandona de jeito nenhum. "O importante não é chegar e nem a chegada. É o caminho", reflete em bate-papo exclusivo com a Coluna Pedro Permuy.
E é esse o tom que a artista dá a “Errante”, seu novo álbum recém-lançado, em que a artista harpeja por todas essas personagens que carrega dentro da própria personalidade. Nas canções (inéditas e autorais), conta os maiores e mais notáveis casos da vida e obra de um jeito poético que só ela, também, conseguiria fazer.
Aos 57 anos de idade, ela “escolheu ser feliz”, como ela mesma diz durante a entrevista ao Folha Vitória.
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“(O álbum) tem canções de 2016 até 2021, mas muitas coisas eram relativas ao que eu refleti durante a pandemia. Da falta da estrada, me deparei com o fato de que sou uma alma nômade, que estava isolada, confinada em casa… Me pegava sentindo falta da estrada, do bom, dos perrengues, da parte chata… Dizia: ‘E se a vida estivesse normal, onde eu estaria?’. Estaria perdendo uma conexão, em um aeroporto, perdendo a mala que sumiu… Até isso parecia mais interessante do que não estar em movimento. O importante não é o chegar e nem a chegada. É o caminho”, reflete.
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Até engrenar na turnê de divulgação de "Errante" - que vai rodar até na Europa -, Adriana vai levar alguns anos, mas adianta que o Espírito Santo está na rota da agenda de shows. "O 'Errante' com certeza irá para Vitória", confirma.
Gal Costa também fará parte desta nova etapa de Adriana: a cantora sairá em turnê, em breve, para cantar sucessos que marcaram a carreira de uma das divas da música popular brasileira.
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“O legado (da Gal) é gigantesco. Não dá nem para a gente mensurar, quer dizer, é demais. A gente não distanciamento para entender o tamanho do legado dela. Eu sempre ouvi Gal, desde criança, depois na adolescência ouvia tudo dela, seu todos os arranjos de cor, cada instrumento… E, depois, no Rio de Janeiro, conheci Gal. A gente não era íntima, mas rolava afeto, amor, tínhamos temperamentos parecidos, librianas, era muito gostoso estar com ela.
Pedro Permuy: COMO FOI O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE ERRANTE?
Adriana Calcanhotto: Eu fui para o estúdio com um material inédito, que é uma novidade para mim. Nunca tive 18 canções inéditas. Eu fui sem nenhuma ideia do que seria o álbum, uma experiência nova. Estava com material, de compositora, inédito e vamos para o estúdio. E depois do confinamento, de não poder encontrar… E aí, estávamos isolados em casa e depois nos isolamos no estúdio, juntos, para tocar. Gravamos esse material que eu tinha. Como não tinha uma data, fiquei com tudo, ouvi, tirei uma canção, fiquei com as 11 que ficaram e fui fazendo um recorte. E fui entendendo o que era o disco, ao contrário de outros discos. Foi o inverso. E fiquei ouvindo as 11 canções e não conseguia achar um nome, foi difícil. Levou muito tempo e eu não ficava contente com nada… Até que um dia a gente conversou, falando sobre nome e quando eu vi Errante escrito eu falei: ‘É isso’.
PP: POR QUE ERRANTE, ENTÃO?
AC: Têm canções de 2016 até 2021, mas muitas coisas eram relativas ao que eu refleti durante a pandemia. Da falta da estrada, me deparei com o fato de que sou uma alma nômade, que estava isolada, confinada em casa… Me pegava sentindo falta da estrada, do bom, dos perrengues, da parte chata… Dizia: ‘E se a vida estivesse normal, onde eu estaria?’. Estaria perdendo uma conexão, em um aeroporto, perdendo a mala que sumiu… Até isso parecia mais interessante do que não estar em movimento. O importante não é o chegar e nem a chegada. É o caminho. Só a canção Nômade que é de 2021 que arremata isso tudo. Mas tudo é consequência do que eu vivia.
PP: MISTURAR ERRANTE, A PALAVRA, COM ALGUNS DOS VERSOS QUE JÁ LI DAS MÚSICAS E DA CONSTRUÇÃO QUE ELAS COMPÕEM PODE SUGERIR QUE AOS 57 ANOS VOCÊ ESTEJA EM UMA FASE PÓS-APRENDIZAGEM DA VIDA. É ISSO?
AC: Descobertas e confirmações que eu descobri… Mas já era uma afirmação, eu já estava apontando para algo que eu queria, que eu sabia que eu ia fazer, que um dia eu ia andando pelo mundo. Isso que tem acontecido, umas confirmações… Eu vou lá entender o que é, de onde veio… Mas muitas canções já traziam isso mesmo desde antes da pandemia, que seria antes desse momento.
PP: E O QUE ACHA QUE FOI O PRINCIPAL QUE APRENDEU NESSES ANOS TODOS?
AC: Muita coisa (risos). Acho que uma oportunidade de ter tempo, de pensar, de deixar o planeta respirar, de pensar sobre certezas, que eram absolutas e não tinham sentidos… Acho que teve um lado muito positivo do sentido da reflexão para quem aproveitou. Muita gente não aproveitou, teve gente que negou, tem de tudo. Mas acho que para quem encarou como uma oportunidade, foi bastante rico.
PP: VOCÊ TAMBÉM MESCLA VÁRIOS SONS, COM ELEMENTOS DE ÁUDIOS, INFLUÊNCIAS DE VÁRIOS PAÍSES COM ESSES VERSOS QUE FAZEM ESSE CONVITE À REFLEXÃO… O OBJETIVO DE EXPLORAR TUDO ISSO, JUNTO, É…?
AC: Acho que não… São depoimentos e eles são tão, assim, depoimentos… Que o que acontece é que as pessoas se identificam.
PP: E A VIDA PESSOAL DA ADRIANA CALCANHOTTO, DESCOBERTAS, VIVÊNCIAS… ISSO REFLETIU NO QUE ERRANTE VAI ABORDAR?
AC: Essa questão de identidade dos antepassados, por exemplo, foi uma confirmação. Deixei de ter a dúvida. Eu deixo de ser outras possibilidades. E aí acho que estou falando de mim, mas de uma forma que as pessoas se identificam, porque é algo como identidade enquanto gênero, cidadã, até geracional, minha idade.
PP: SE ARREPENDE DE ALGUMA COISA?
AC: Eu acho que a confirmação da escolha que fiz, quando eu digo que escolho alegria, é porque escolho aquela maneira de olhar, no sentido de que a gente come as coisas para processá-las e devolvê-las ao mundo de um jeito que só a gente pode… E não da forma que isso era há 100 anos, mas como isso vem se transformando. Revisto pelo tropicalismo, pelo Emicida, por vários artistas, pelo modernismo… E todas as questões de reantropofagia. Eu escolhi a alegria. Gosto desse jeito de olhar para o Brasil. E coisas que eu não escolhi convergem com coisas que eu escolhi, como escolhi errar pelo mundo cantando canções. Sem saber eu já tinha errância no meu sangue como herança.
PP: E GAL COSTA TEM UM PAPEL IMPORTANTE NESSE TRABALHO, INCLUSIVE COM DEDICAÇÃO QUE GANHA DE VOCÊ. COMO DEFINE SUA RELAÇÃO COM ELA E O QUE AVALIA DO LEGADO QUE ELA DEIXOU?
AC: O legado é gigantesco. Não dá nem para a gente mensurar, quer dizer, é demais. A gente não distanciamento para entender o tamanho do legado dela. Eu sempre ouvi Gal, desde criança, depois na adolescência ouvia tudo dela, seu todos os arranjos de cor, cada instrumento… E, depois, no Rio de Janeiro, conheci Gal. A gente não era íntima, mas rolava afeto, amor, tínhamos temperamentos parecidos, librianas, era muito gostoso estar com ela. E aí recebi esse convite para esse tributo, com tudo dela, equipe, diretor, e eu sou uma pessoa que é fã de Gal, que vai para o palco conduzir aquilo tudo.
PP: E COMO ESPERA QUE O PÚBLICO RECEBE ERRANTE? COMO ESTÃO AS EXPECTATIVAS?
AC: Olha, é uma parte muito interessante que é o processo de construção de um álbum, ainda mais as composições que fiz sozinha… Não deixa de ser solitário. E agora vai cair no mundo e não dá para saber. Então, estou aqui esperando para saber. Se vai bater no coração das pessoas… É bom não saber.
PP: SÓ PARA NÃO DEIXAR OS FÃS CAPIXABAS DE FORA… HÁ DATA DE SHOW PREVISTA PARA O ESPÍRITO SANTO, TEVE ALGUMA RELAÇÃO COM O ESPÍRITO SANTO PRESENTE NESTA ETAPA DA VIDA E OBRA?
AC: Eu sempre vou ao Espírito Santo, sempre vou a Vitória, levo meus shows, gosto muito daí. Eu adoro aquela parte que tem os navios… Eu amo aquilo ali. Estreia em Coimbra o Errante. O Errante com certeza irá para Vitória. Sobre a Gal, vou tentar marcar o que for possível dentro da janela.
PP: E O QUE PODE ADIANTAR DE NOVOS TRABALHOS? OU VAI SE EMPENHAR 100% EM ERRANTE POR ENQUANTO?
AC: O empenho será todo em Errante. A gente já ensaiou, estou apaixonada pelo show. O show veste as outras canções que não são do Errante com a sonoridade que Errante tem, com sopros… Canções que nunca tiveram sopro nas gravações, mas que agora estou realizando isso. E não me pergunte o porquê, porque eu não sei como eu não fiz isso antes (risos). Finalmente fiz, estou apaixonada.
A primeira saída são oito shows em Portugal. Depois volto para o Brasil, depois volta para Europa, depois Brasil, Estados Unidos… Essas turnês vão levar dois anos, mais ou menos isso.