PEDRO PERMUY

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Após ganhar olimpíada de surdos mundial, capixaba é aplaudida no avião e emociona

Thalita Santos Mozer já levou ouro em competição na Suíça. Agora, voltou ao Espírito Santo com bronze da 24ª Surdolimpíadas após disputa com atletas do mundo inteiro

Pedro Permuy

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Thalita Santos Mozer é uma verdadeira campeã - em todos os sentidos da palavra.

A atleta capixaba que já voltou de competição na Suíça com medalha de ouro, agora, também é bronze das 24ª Surdolimpíadas de Verão, evento que aconteceu do dia 1º ao 15 de maio em Caxias do Sul, no Sul do Brasil. 

Ela foi a única do Espírito Santo a voltar com a vitória da competição que reuniu profissionais do mundo todo. E, no avião embarcando rumo ao Estado em seu retorno, foi aplaudida pela tripulação e passageiros, que emocionaram a jovem com a homenagem surpresa. 

"Foram muitas emoções desde a abertura dos jogos, onde a Ucrânia veio muito bem preparada e levou o maior número de medalhas merecidamente. E a volta no avião... Ver todos os passageiros e tripulantes nos aplaudindo foi algo que jamais imaginei. E confesso que foi indescritível esse reconhecimento. Fiquei sem palavras", declara, em bate-papo exclusivo com a Coluna Pedro Permuy

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E lembra: "Minha equipe foi campeã mundial em 2019, foi linda a nossa vitória como atletas surdos, na ocasião, e a viagem para outro país também foi super legal (para a Suíça), apesar de não ter tido tempo para conhecer. A experiência da viagem foi mágica, mas foi tudo muito difícil. Minha família teve que correr atrás de patrocínio e ajuda de amigos para conseguir recursos para pagar todas as despesas, que não foram poucas, como passagens, estadia, e alimentação". 

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Hoje, ela recebe bolsas atleta do município, governo do Estado e uma mundial. Mas, ainda assim, reclama da falta de valorização e sensibilidade com os atletas da categoria. "Por eu ter sido campeã mundial, hoje recebo uma bolsa atleta internacional, estadual e municipal, mas no início foi muito difícil. Foi muita luta da família e dos amigos principalmente pelas barreiras da comunicação", exemplifica.

 Só consegui o que já consegui pelo fato de minha família não desistir de mim - Thalita Santos Mozer, atleta surda

E, infelizmente, não são pontuais os problemas que os atletas enfrentam. Sobretudo na pandemia, a comunicação foi um dos grandes problemas. Para a entrevista ao Folha Vitória, por exemplo, a jovem de 22 anos de idade teve as respostas às perguntas intermediadas pela mãe, que se comunicou com a filha por libras. 

"São muitas as barreiras, ainda mais nesse período de pandemia, que precisávamos usar máscaras. Isso dificultou muito a comunicação com a pessoa surda que faz leitura labial, como eu. Para mim, foi um período traumático", lembra. 

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Por outro lado, a superação virou praticamente um sinônimo da capixaba, que tem, hoje, o sonho de fazer uma faculdade. "Eu ainda tenho um sonho, que é conseguir uma bolsa em uma faculdade para fazer Educação Física. Minha família, infelizmente, não tem condições de arcar com uma faculdade para mim, mas tenho esperança, sim, de conseguir, como foi com o esporte", adianta.

"TROQUEI AS BONECAS POR BOLAS DE FUTEBOL"

Bonecas não eram prioridade da capixaba. Mas o que ela não ligava para esse tipo de brincadeira, descontava no amor pelo esporte. "Eu sempre amei jogar, desde criança troquei minhas bonecas por bola. Na escola, com 9 anos, eu comecei a jogar no recreio e nas aulas de educação física. Durante 2 anos frequentei escola de futsal, mas jogava com os meninos, porque as meninas não se interessaram pelo esporte. Isso aos 13 anos", recorda.

E continua lembrando: "Depois disso, parei e fiquei até os 16 anos vendo meu sonho ir para o nada. Aí foi quando um técnico da seleção de surdos, tipo um olheiro, veio ao Espírito Santo e gostou do meu futebol. Em seguida, meu primeiro técnico, o Evandro, criou o time da Associação de Integração dos Surdos de Vitória (Asurv). Aí, logo de cara, fomos para Betim, em Minas, e lá perdemos todas (risos). Mas eu tinha esperança de que algo bom ia acontecer...". 

No ano seguinte, Thalita passou a ir para Jundiaí, em São Paulo, para intensificar os treinos e virou uma craque. "Logo depois surgiu o mundial na Suíça e foi fantástico, como disso. Fomos ouro na Suíça", comemora. 

A determinação continua e os planos já são de novos jogos ainda para 2022, como a atleta adianta. 

"Temos o Pam, em Fortaleza, e estou esperando ser convocada. E o plano de sempre é continuar treinando muito e poder representar o nosso município, o nosso Estado e, o mais importante, nosso amado Brasil no mundo. E, claro, conseguir uma bolsa em uma faculdade para eu fazer o curso de Educação Física e me tornar uma profissional para poder trabalhar no que mais gosto de fazer, que é ajudar aos outros que precisam", termina.