Entretenimento e Cultura

Comédia com texto de Martha Medeiros mostra caos da vida moderna

O espetáculo nacional "Simples Assim" será apresentado no teatro Sesc Glória, em Vit´ória, nesta sexta (26) e sábado (27), às 20h, e domingo (28), às 19h

Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória
Foto: Dalton Valerio

Um casal que se interage somente pelo celular. Uma mulher que contrata uma dublê de si mesma para assumir seus compromissos no dia-a-dia. Uma jovem que decide viajar para Marte e abandonar o amante. Em comum nessas histórias, o caos da vida moderna a partir de um questionamento constante: onde foi parar a simplicidade nas relações humanas?

É o que tenta responder o espetáculo nacional "Simples Assim", com apresentações nesta sexta (26) e sábado (27), às 20h, e domingo (28), às 19h, no teatro do Sesc Glória, em Vitória. A comédia é baseada em textos e crônicas da badalada escritora Martha Medeiros. O texto foi adaptado pela própria autora, ao lado de Rosane Lima.

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Sob direção de Ernesto Piccolo, que trabalha no palco pela quarta vez com a obra de Martha (entre elas, o sucesso "Divã", com Lilia Cabral), a montagem trata as questões dos dilemas contemporâneos com muito humor e afeto, bem ao feitio da autora, uma das mais celebradas cronistas da atualidade. 

"Entre várias complicações que temos feito em nosso dia-a-dia, eu acho que a comunicação interpessoal é uma das que está sendo abalada. Deveríamos nos dedicar mais a dizer o que a gente sente, o que a gente pensa", destaca Martha, em bate-papo com o Folha Vitória

A comédia é marcada por histórias entrelaçadas. As duas coletâneas em que a peça se baseia reúnem cerca de 200 crônicas e dessa pesquisa resultaram dez cenas que são um retrato das relações interpessoais no cotidiano atual.

Dalton Valerio
Dalton Valerio
Dalton Valerio
Design Turbilhão de Ideias
Dalton Valerio

O elenco conta com Georgiana Góes, Maria Eduarda de Carvalho e Mouhamed Harfouch, sob a direção de Ernesto Piccolo. A idealização e concepção do projeto é do produtor Gustavo Nunes, em uma produção original da Turbilhão de Ideias.

O projeto nasceu de uma ideia do produtor, que viu potencial nas crônicas de Martha para gerar um espetáculo sobre a vida caótica e hiper conectada que vivemos na atualidade. A parceria entre os dois rendeu ainda duas temporadas da web-série “M de Martha”, no YouTube, e o curso “A Arte da Crônica”, na Plataforma Xpertise, além de outros projetos em parceria.

A peça estreou em 2019 e sua temporada passou por São Paulo, Belo Horizonte, Palmas, Fortaleza, Porto Alegre, Brasília, Uberlândia, Goiânia, Curitiba, Belém, Campinas e Ribeirão Preto, em um total de 68 apresentações. 

Confira entrevista com Martha Medeiros:

Foto: Carin Mandelli

1 - Em “Simples Assim”, a peça aponta as contradições presentes na vida moderna e nos relacionamentos contemporâneos. Partindo do título do espetáculo e tendo em vista os personagens, no quê as pessoas andam complicando na arte de viver?

MARTHA MEDEIROS: O que está acontecendo é que as pessoas estão se comunicando de uma forma muito miserável: muito resumidas, muito sintéticas. Talvez por influência dessa comunicação abreviada que temos hoje, tecnologicamente falando. Tudo é muito objetivo e rápido e já supomos o que as pessoas vão entender o que estamos falando. Entre várias complicações que temos feito em nosso dia-a-dia, eu acho que a comunicação interpessoal é uma das que está sendo abalada. Deveríamos nos dedicar mais a dizer o que a gente sente, o que a gente pensa. Fazer disso uma entrega para outra pessoa para que ela nos compreenda melhor e para que o diálogo seja mais rico entre todos nós. Entre amigos, familiares e entre a sociedade mesmo. Neste aspecto, estamos falhando. Estamos muito telegráficos e pouco dedicados a uma comunicação mais expandida.

2 - A tecnologia, o mundo virtual, as redes sociais mais complicaram do que facilitaram nossos relacionamentos?

As redes têm elementos muito favoráveis para alavancar negócios, aproximar pessoas, muitos aspectos positivos. Até a informação (porque não é só fake news que se tem nas redes sociais), tem muita informação de qualidade. Mas também tem esse aspecto que está glorificando o artificial. Temos inteligência artificial, que é algo novo. Não sabemos o quanto vai colaborar ou subtrair conteúdo do nosso dia-a-dia. Esse mundo artificial me deixa um pouco apreensiva porque existe o amor artificial, o ódio artificial. Daqui a pouquinho, vamos nos habituar a uma vida robotizada mesmo. Não podemos perder a essência da existência que é o que nos torna humanos.

3 – Suas crônicas provocam uma identidade imediata no leitor. Você vislumbra essa força também no palco ao assistir às adaptações que fazem para o teatro de suas obras?

Total! É algo maravilhoso um escritor vivenciar. Quando escrevemos um livro, não sabemos a reação do leitor, se ele gosta ou não, se ele abandonou a leitura. E o teatro propicia isso: a gente perceber a emoção coletiva da plateia. É uma energia muito forte e, sem dúvida, que dá para perceber o quanto o espetáculo está seduzindo a plateia e o quanto as pessoas estão motivadas durante aquela uma hora e meia em que a peça acontece. É muito emocionante!

4 – Em “Simples Assim”, a adaptação teve sua colaboração? Como foi o processo? Ou você deixou a cargo da equipe e só conferiu nos primeiros ensaios?

Desta vez, eu me envolvi um pouco mais do que nos espetáculos anteriores. Eu participei das primeiras leituras, conversei com a Rosane Lima (foi ela quem desencadeou todos os esquetes) e acompanhei seu trabalho. Dei alguns pitacos mas realmente a Rosani fez um trabalho espetacular de adaptação. A única diferente é que desta vez eu acompanhei mais o processo e acho que o resultado ficou positivo.

5 – Este é o seu quarto texto dirigido pelo Ernesto Piccolo no teatro, todos bastante elogiados pela crítica. Um deles foi o sucesso “Divã”, que depois rendeu um filme e uma série na TV, com Lilia Cabral, também de sucesso. Dá para desvendar o que trabalho do diretor faz que resulta em montagens memoráveis?

Acho que eu e o Neco (Ernesto Piccolo) temos uma infinidade grande no que diz respeito a ir direto ao ponto. Não sou uma pessoa que se afasta muito do meu foco. Se quero falar tal coisa, eu falo, eu digo, eu escrevo. Que é também uma maneira simples assim de se comunicar com o meu público-leitor. E o Neco, da mesma forma, quando dirige um espetáculo, ele é muito básico, de uma certa maneira. Claro que o espetáculo tem cenografia, figurinos, iluminação, marcação, trilha sonora. Tem tudo isso que enriquece muito. Mas a mensagem dada é muito bem direcionada. Ela não se perde em alegorias e coisas assim. Acho que eu e Neco acabamos encontrando um tom muito parecido. Eu escrevendo e ele dirigindo. Fora que o Neco é um ser humano maravilhoso, de um senhor coração, uma pessoa que se dá bem com os outros, que sabe se relacionar. Então, ele consegue motivar o elenco e se torna amigo das pessoas. Ao mesmo tempo em que ele tem um pulso firme, sabe o que quer, sabe o que extrair de cada ator e atriz podem dar para o espetáculo, ele faz com pulso firme mas, ao mesmo tempo, com ternura também. A gente precisa disso: sempre equilibrar os polos, ser firme mas, ao mesmo tempo, ser terno. 

Serviço:

Simples Assim

Texto  e adaptação: Martha Medeiros e Rosane Lima. 

Direção: Ernesto Piccolo.

Elenco: Georgiana Góes, Maria Eduarda de Carvalho e Mouhamed Harfouch.

Quando: sexta (26) e sábado (27), às 20h. Domingo (28), às 19h. 

Onde: Teatro do Sesc Glória, Av. Jerônimo Monteiro, 428, Centro, Vitória.

Classificação: 12 anos

Duração: 75 minutos

Ingressos:  balcão, R$ 50 (inteira)  e R$ 25 (meia); mezanino, R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia); plateia, R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia).

Vendas no site: https://www.lebillet.com.br/

Bilheteria do teatro: a partir das 10h da manhã.

Presença de intérprete de libras no dia 28 de maio.

Informações: (27)2142-5350 e wbproducoes.com

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