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Inocentes acústico: Clemente Nascimento fala sobre como é tocar punk rock desplugado

O vocalista da banda contou sobre como surgiu a ideia, além dos mais de 40 anos de estrada

Guilherme Lage

Redação Folha Vitória
Foto: Alexandre Wittboldt

O que você estava fazendo em 1978? Aliás, você já era nascido nesse ano? Quando o punk rock começou a fervilhar no Brasil, importado dos Estados Unidos e Europa, um rapaz de São Paulo já estava fazendo som. 

Clemente Nascimento fez parte do Restos de Nada, e hoje também divide a guitarra e o vocal com Philippe Seabra na Plebe Rude, deixando claro que as tretas e porradarias entre punks de São Paulo e Brasília ficaram lá atrás. 

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Mas foi com os Inocentes, banda que lidera desde 1981, que firmou seu nome na história do rock n'roll brasileiro. Hinos como "Pânico em SP" e "Pátria Amada" são cantadas a plenos pulmões por bêbados e sóbrios em cada casa de show, bar ou viela do país. 

Agora, estes clássicos serão tocados no violão. A banda inclusive, já divulgou a primeira faixa desplugada dessa nova fase de trabalho, uma versão de "São Paulo", clássico do 365, que Clemente ajudou a produzir nos anos 1980. 

Dono da risada mais icônica do rock nacional, o músico contou que a ideia de soltar a guitarra e empunhar o violão surgiu ainda na pandemia. Naquele tempo, não dava para subir no palco, o jeito era tocar de frente para uma câmera, com viola na mão. 

"Cara, a ideia surgiu durante a pandemia, eu costumava fazer várias lives e o povo curtia. O pessoal da banda viu e achou legal, tive até que reaprender algumas músicas, cantava diferente", contou. 

Dali para frente, não foi preciso mais usar máscaras e nem tocar virtualmente para o público, mas a ideia de gravar um disco acústico não deixou de existir e logo, toda a banda estava junta para gravar o registro. 

O álbum funciona como um compilado da banda, como explica Clemente, um apanhado dos 43 anos de carreira do grupo paulista. 

"Tem vários lados B, que ficaram meio quietinhos, não cabem num determinado momento da banda e a gente achou legal registrar essas músicas, elas soaram legais. O legal desse projeto é que quando você tira a guitarra, a gritaria, tira esse estereótipo punk, a música continua sendo forte, isso que é legal, isso que é uma porrada no meio do estômago. Ela não perde a força do discurso, do arranjo, da melodia", afirma. 

Mas num catálogo musical que se estende por mais de quatro décadas, como, afinal, escolher quais faixas estarão no disco? E logo de cara, uma versão de outra banda. 

A escolha talvez tenha pego alguns fãs desprevenidos, e foi realmente meio que de última hora, segundo Clemente. Mas os fanáticos não se preocupem, os clássicos estarão todos lá. 

"Cara, engraçado, a gente nem ia gravar São Paulo, sabia? A gente tinha tanta vontade, porque eu produzi eles em 87 e foi a primeira música que estourou. A gente acabou regravando ela quando fez um tributo ao punk, fizemos versões de várias bandas. Essa música ganhou tanto corpo que muita gente acha que é nossa ". 

Para quem já está na estrada há tanto tempo, há alguns macetes para sobreviver no negócio. Quando uma banda tem hits, é quase que obrigatório que os toquem, pois como avisa Clemente: o público cobra. 

"Uma vez a gente ficou um tempo  sem tocar Pânico em SP, a galera queria matar a gente (risos). É aquela coisa, há uma exigência do público, o público acaba cobrando". 

O público, na verdade, já tem se acostumado e aprovado a direção acústica. Três músicas já foram apresentadas em um show no Sesc Campo Limpo, em São Paulo e a experiência foi catártica. 

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Com participação de Ariel Uliana, inconteste embaixador do punk rock no Brasil, com quem Clemente dividiu o palco durante os tempos de Restos de Nada, aconteceu a primeira degustação.

"Eu toquei ontem e todo mundo saiu cantando, a gente fez no Sesc Campo Limpo, com participação do Ariel, eu não consegui nem cantar, todo mundo cantava, o público estava bem mais alto que eu (risos)".

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