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"Era um lar": entenda a história da Ilha da Pólvora por trás de seu mistério

Fundado em 1925, o Hospital Osvaldo Monteiro tratava doenças respiratórias infecciosas. Desativado na década de 1990, suas ruínas escondem histórias de superação

Leiri Santana

Redação Folha Vitória
Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

Dentre as diversas ilhas que cercam a Grande Vitória, existe uma que intriga os moradores da região, não só pelo seu visual, mas também pelas histórias por trás de sua criação. A Ilha da Pólvora, ou Ilha do Medo para alguns, ficou conhecida por ser um hospital para o tratamento de doenças respiratórias em 1925.

Em completo estado de ruínas, a Ilha fica em frente à orla de Santo Antônio. Ela foi destinada, a princípio, para servir de depósito de armamentos, daí o nome pólvora. 

Mas a região começou a ficar movimentada e com alguns riscos de explosão. A ilha foi doada e nela foi fundado o Hospital de Isolamento da Ilha da Pólvora, no governo de Florentino Ávidos e, anos mais tarde, foi renomeado como Hospital Osvaldo Monteiro, em homenagem ao primeiro dono.

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

A equipe do Folha Vitória foi convidada pela agência de turismo "Lobos Boralá", que realiza passeios dentro da Grande Vitória e também fora do Estado. 

A expedição na Ilha começa às 9h e vai até as 11h, e cada participante paga uma taxa de R$ 35. Para chegar até lá, todos fazem uma travessia de barquinho, que leva em torno de 10 minutos.

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Confira como foi o passeio:

Thiago Soares/Folha Vitória
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Dentre diversas histórias que circulam sobre o lugar, uma das mais famosas é de que a Ilha era para os leprosos, o que não é verdade. Marcus Vinicius Sant'Ana, historiador e mestre em Estudos Urbanos, contou que a ilha onde ficavam pessoas com hanseníase era distante da Pólvora.

"Essa questão dos leprosos foi uma polêmica, pois a Ilha da Pólvora era distante dos leprosos. Lá eram tratadas apenas pessoas com tuberculose, tifo e doenças respiratórias. Mas, oficialmente, o hospital era apenas para doenças respiratórias", explicou o historiador Marcus.

O hospital funcionou até a década de 1990, quando foi desativado pelo governador Albuíno Azeredo, e segue abandonado até o momento. 

Por ter sido designado para o tratamento de doenças respiratórias, como a tuberculose, mortal na época, muitas pessoas acreditavam que a Ilha era a reta final, da qual não era possível sair vivo.

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

O historiador conta que pelo que se tem de informações sobre a Ilha, não se sabe se era uma precariedade do governo, falta de tecnologia ou se as condições da época que geravam esses boatos, mas o tratamento era o melhor que se podia oferecer na época.

"Não era um hospital que se pode comparar a um descaso, a uma carnificina, era mais porque a tuberculose era uma sentença de morte. Os tratamentos não eram como os de hoje em dia, esse medo era mais em cima da doença do que hospital em si", afirma Marcus.

Hospital era um lar

Apesar dos boatos, Marcus explicou que o tratamento no hospital fazia jus às condições da época, isto é, mesmo em casos complicados como os de tuberculose, muitos saíam recuperados. 

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

Uma das técnicas usadas no tratamento era a "fortificação", que se baseava em alimentar os pacientes até que o corpo se recuperasse e se fortificasse para começar a tratar a tuberculose. 

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Existem poucos registros sobre o que era feito na Ilha, mas funcionários e até ex-pacientes afirmam que tudo era realizado de maneira humanitária.

Mariana Elisia San'Ana trabalhou no hospital por mais de vinte anos, começou em serviços gerais e nos últimos anos atuava como auxiliar administrativa. Ela conta que além dos cuidados serem ótimos, a relação entre pacientes, médicos e funcionários era familiar, ou seja, criou-se uma sociedade dentro da Ilha:

"A relação entre nós era muito boa. Éramos uma família. Sempre estávamos juntos, como era um isolamento, não tinha o que fazer, a gente se apegava. Médicos tiram do próprio bolso para ajudar nas despesas. Era um lar", relembra Mariana.

Dentre tantos boatos de maus-tratos, Mariana conta que na época, aquele era o melhor tratamento possível. Quase como um retiro, a Ilha era uma esperança e não uma sentença do fim.

Casos dignos de comemoração

Como em todos os hospitais, a vida e a morte coexistiam na Ilha, mas dentre o sofrimento, alguns casos eram dignos de comemoração. 

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

Um deles é o de Ari dos Santos, que foi internado na Ilha em 1979 sem muitas expectativas de vida. 

Sua filha, Denisia do Santos, conta que antes de ir para o Hospital Osvaldo Monteiro, Ari havia sido mandado para um hospital em Colatina, onde teve reação a uma medicação para tuberculose.

"Ele estava com tuberculose e teve uma alergia severa ao medicamento. Ficou cheio de feridas no rosto, na boca, era uma coisa muito feia. Em Colatina, ele ficou no isolamento e a gente entendeu que era para ele morrer", relembrou a filha.

Denisia conta que o caso do pai era terminal, os médicos já haviam sinalizado que ele era o terceiro caso dessa alergia ao medicamento e os outros dois não resistiram. 

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

Diante da situação, um dos médicos resolveu transferi-lo para a Ilha da Pólvora, como uma alternativa de tratamento.

"Na Ilha, o tratamento foi diferente... Eu lembro que um senhor que ficou no quarto com o papai contou que colocaram até aquela cortina de isolamento. Eu não sei o que aconteceu ali, mas pelo que me lembro, eles passavam um pano por dentro da boca dele para tirar as feridas e ele começar a se alimentar para ficar forte. Esse colega de quarto contava que papai gritava de dor, mas que era o único jeito dele melhorar", explicou.

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Quando ele chegou na Ilha, a filha conta que o hospital era bonito, muito bem cuidado e que o tratamento era feito nas melhores condições na época. 

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

Ari ficou internado por cerca de três meses, a filha relembra que em poucas semanas ele já estava alimentado, andando, conversando, engordando e se recuperando da tuberculosa. 

Denisia lembra como se fosse ontem sua chegada na Ilha, a roupa que estava usando e como pai chegou:

"A Ilha era linda, era tudo muito bem cuidado, as pessoas eram agradáveis. Papai foi muito bem tratado. Ele tinha que ficar sozinho, né? Mas eu e mamãe ficamos tranquilas, sempre que tinha visita ele estava cada vez mais. Ele saiu de lá totalmente saudável e curado".

Além de Denisia que relembrou da recuperação do pai, Mariana que trabalhou como auxiliar administrativa também se recordou de casos que pareciam não ter solução, mas que se recuperaram de forma rápida e saudável.

Mariana que também ajudava na preparação dos alimentos, explica que o processo de fortificação era o mais importante, afinal, as pessoas com tuberculose ficavam fracas por não conseguir se alimentar e consequentemente acabam falecendo. 

"Os alimentos chegavam em um barquinho, eu que separava, cuidada de tudo. A gente sempre insistia na alimentação deles, eu fazia um mingau grosso pra eles ficarem fortes, era isso que fazia eles saírem dali com vida. Eu via gente chegar e não dava dois dias de vida, mas a maioria saia totalmente recuperada", explica a auxiliar.

Os mistérios por trás da Ilha

Muitos acreditam que os mistérios que cercam a Ilha são histórias de terror, mas pelo contrário, o único mistério é o que será dela. Por ser uma propriedade privada não se tem informações concretas, registros, número de pacientes, a data precisa em que o hospital abriu ou que fechou. 

Mesmo com a fama de assombrada, a Ilha da Pólvora carrega diversas memórias de superação, além do hospital, ela foi um lar. Não só para os pacientes, mas para todos que trabalharam no local.

Atualmente a Ilha da Pólvora é aberta para visitação e também serve de campo de batalha para partidas de paintball e airsoft.

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