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Sucesso na internet, Irmã Selma faz show em Vitória

Freira criada e interpretada por Octávio Mendes é a estrela da peça de humor, atração no Centro Cultural Sesc Glória, em Vitória, nesta sexta (05) e sábado (06)

Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação
Irmã Selma (interpretada por Octávio Mendes) é a freira mal-humorada que quer ganhar a vida contando piada

O ator e humorista Octávio Mendes retorna mais uma vez a Vitória com o espetáculo "Irmã Selma". O show de humor marca os 20 anos de criação da personagem que dá título ao espetáculo. 

Ela ganhou grande repercussão no grupo Terça Insana e depois se transformou em sucesso na internet, virando meme e gerando mais de 10 milhões de visualizações no YouTube. A freira e outros personagens são atração nesta sexta (05) e sábado (06), às 20h, no Centro Cultural Sesc Glória, em Vitória, com produção local da WB Produções.

Irmã Selma é uma freira que não tem a mínima vocação para fazer rir e acha uma grande perda de tempo contar piada. Mesmo sendo extremamente mal-humorada, ela não desiste. A reação da plateia sempre surpreendeu Mendes. 

"Eu fico extremamente grato em ver como as pessoas gostam dela. E é incrível como riem de alguém que detesta o riso, de alguém que é bem ardilosa, ranzinza e rancorosa. Eu criei esse personagem imaginando tudo o que não se encontra na postura de um humorista. Veio logo a ideia de uma religiosa, insatisfeita com a vida mas determinada a cumprir sua missão", recorda.

Ele conta que criou a religiosa depois de ver uma entrevista do cineasta Steven Spielberg. "Ele falou sobre o processo de criação ao escrever os roteiros de seus filmes. Disse que mais importante que a própria história é a curva emocional que ela provoca nas pessoas. Veja o filme 'ET - O Extraterrestre': na prática, é uma história de um menino que encontra um alienígena. Mas olha como essa relação dos personagens tem momentos de humor, de suspense, de drama, de comédia. Isso desperta inúmeras emoções. Tudo o que te emociona, você nunca mais esquece", explica.

Daí nasceu a irmã Selma, uma religiosa que faz o que mais odeia: trabalhar num teatro. "Quis fazê-la bem rancorosa, bem má. Até pedi ajuda a uma religiosa de verdade. Perguntei se era pecado uma freira fumar. Ela me disse que não, não era pecado: só fazia mal a saúde (risos)", relata.

A figura da religiosa, segundo o ator, não é crítica à Igreja Católica. "Não é minha intenção ofender nenhuma religião, tanto que sou de família católica, embora recentemente eu me voltei para o Espiritismo. Selma é daquele jeito porque é da natureza dela, não porque ela é freira. Seria assim se estivesse em qualquer outra profissão", compara.

Dentro desse processo, Mendes diz que todos os personagens do espetáculo seguem essa regra: fazer rir, mas sem ofensas a ninguém. “Eles são escritos por causa de conflitos existenciais e servem como crítica a certos estereótipos. Cada um tem a sua levada e acabam fazendo críticas atemporais. Pensei até em mudar o texto mas vi que o que eles apontavam há 20 anos continua firme, sob outra roupagem. Ou seja, não ficaram datados porque também mexem com questões de afeto”, explica.

Outro personagem é Walmir, um ex-gay ou um “recente heterossexual" que afirma que “mudou de vez”. “Nesse papel, minha crítica não vai para a questão de se assumir ou não mas, na verdade, para a dor de se ter que se esconder. Claro, avançamos muito em aceitação pela comunidade LGBT mas ainda há pessoas que sofrem. Esse sofrimento muitas vezes e provocado por uma parcela que ainda carrega preconceito mas demonstra de forma latente”, desenvolve.

A peça também traz Mendes interpretando uma apresentadora de um programa de TV sensacionalista, a jornalista Mônica Goldstein, que não satisfeita em dizer com quantos tiros a vítima morreu chega até a descrever o caminho feito pela bala no corpo do assassinado. “Esse tipo de programa é um prato cheio para qualquer humorista. Aliás, neles, é difícil competir com a realidade. A ficção fica para trás. Incrível como eles não saíram de moda e continuam firmes no estilo de TV que temos no país”, comenta.

Foto: Divulgação
Mônica Goldstein é uma apresentadora de TV que pinta e borda num programa sensacionalista

Outra personagem é Xanaína, uma prostituta que achou que poderia seguir carreira na música. “Xanaína é minha crítica a um jeito simplório e superficial de se fazer música, feita por pessoas que acham que acham que é só chegar, assumir um microfone e pronto, tá tudo ok, sem nenhum tipo de preparo e estudo. Logicamente, há pessoas com talento nato, diploma não é o fiel dessa balança, mas ultimamente estamos muito expostos a pessoas que fazem sucesso sem ter talento algum", descreve.

E na área da música, o humorista faz uma homenagem à Maria Bethânia com a sua impagável Maria Botânica. A própria cantora não viu mas quem é próximo dela conferiu e gostou. "Um dos irmãos dela (não, não é o Caetano) viu e adorou. E o diretor dos espetáculos dela, o Fauzi Arap, viu, gostou e comentou comigo que a Botânica tem um aspecto da Bethânia: faz o que quer no palco, não segue roteiro", complementa.

Para Octávio Mendes, seus personagens ajudam as pessoas a desopilar o fígado em tempos cada vez mais difíceis. "Eu pensava em aposentar essa turma antes mesmo da pandemia, partir para outra peça, mas o público pedia sempre eles. Veio então a covid, todo mundo tomou aquele baque, ficando isolado, carregando um cotidiano ainda mais pesado. Pensei então que esses personagens passaram a ficar indispensáveis pra gente desligar um pouco a chave e encarar nossa realidade. Todo mundo tem problemas, mas é bom quando a gente pode deixar tudo de lado por alguns instantes. E quando consigo despertar isso nas pessoas, sinto que minha missão foi cumprida", reforça.

IRMÃ SELMA

Direção e interpretação de Octávio Mendes
Quando: sexta (05) e sábado (06), às 20h 
Onde: Centro Cultural Sesc Glória
Endereço: Avenida Jerônimo Monteiro, 428, Centro, Vitória.
Classificação: 14 anos
Gênero: comédia
Duração: 90 minutos
Intérprete de Libras na apresentação de sábado (06)
Ingressos: plateia R$ 100 (inteira) R$ 50 (meia) para plateia
R$ 80 (inteira) R$ 40 (meia) para mezanino
R$ 50 (inteira) R$ 25 (meia) para balcão
Vendas no site lebillet.com.br ou na bilheteria (somente no dia do evento) a partir das 13h.
Mais informações em wbproducoes.com 
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