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Live NPC: veja o que é vídeo viral do TikTok que paga R$ 50 mil por dia

Entenda por que cada vez mais influencers aderem às lives NPC, baseadas em gestos repetitivos, estranhos e até bizarros para ganhar dinheiro e seguidores

Redação Folha Vitória

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/TikTok/Montagem FV

Bizarro!

Já pensou em passar horas na frente das câmeras repetindo gestos e sons em troca de presentes e dinheiro? 

Ou ser a pessoa que financia e engaja esse conteúdo?

Pode parecer assustador, mas essa tendência se espalhou rapidamente no TikTok nas últimas semanas. As "lives NPC" estão movimentando milhares de dólares diariamente.

Nos games, a sigla NPC se refere a Personagem Não Jogável, um elemento que desempenha um papel de figurante na história ou tem interações muito limitadas.

De acordo com o Metrópoles, a ideia é imitar os comportamentos limitados desses personagens por horas, retribuindo a presentes virtuais — rosas, chocolate, pirulito, milho, entre outros — até que a exposição monetize o suficiente.

A Fobes afirma que a febre começou em julho, época em que a tiktoker canadense PinkyDoll começou a publicar vídeos nos quais interpreta personagens e reage aos presentes e recompensas de seus seguidores durante as transmissões ao vivo.

Um dos vídeos mais populares, intitulado "Ice Cream So Good", publicado em 20 de julho, já acumulou mais de 100 milhões de visualizações. Nele, PinkyDoll recebe sorvetes virtuais como presentes e reage com a frase que dá nome ao vídeo.

Segundo a Forbes, as transmissões ao vivo se tornaram uma fonte de renda para muitos influenciadores, chegando a render a alguns cerca de R$ 50 mil por dia.

Em uma entrevista ao The New York Times, a pioneira norte-americana compartilhou que faturou 4 mil dólares em uma única live, o que equivale a R$ 15 mil na cotação atual.

Naturalmente, o sucesso da influencer chamou a atenção. 

Motivados a garantir uma renda extra, os tiktokers brasileiros também aderiram à tendência e multiplicaram a quantidade de vídeos desse tipo na plataforma coreana.

Um dos adeptos foi Júnior Caldeirão, que fez questão de divulgar o valor que ganhou em uma única live e como o sistema de recompensas funciona.

“Cada moedinha enviada pelos internautas se converte em diamante para o criador e vale 0,01 centavos de dólar. Só que o TikTok fica com metade disso. Então, líquido, cada um vale 0,005 de dólar. É preciso multiplicar o número de diamantes por esse valor”, explicou em um vídeo, mostrando o resultado do cálculo: US$ 383 em uma hora, valor que convertido ao real dá R$ quase 1900.

“Na live passada eu fiz 41 mil diamantes, nessa live de ontem foram 76 mil. Isso aqui eu me ‘lascava’ o mês todo para ganhar, dessa vez fiz em uma hora”, comemorou.

MOTIVAÇÃO

Lucas Kalango, professor e consultor para negócios e criadores, explicou ao Metrópoles que as lives NPC surgiram naturalmente, seguindo a dinâmica do próprio TikTok.

“É uma comunidade que gosta de consumir lives, assim como dar presentes. Até porque é muito barato comprar esses presentes. O usuário pode comprar um pacote com dezenas de moedas por R$ 5 e distribuí-las entre os criadores de conteúdo (…). A pessoa compra esse entretenimento porque ela quer ver do NPC as reações que ele vai fazer de acordo com o presente que ele dá”, analisa o especialista.

Kalango acrescenta que, embora essas transmissões ao vivo estejam se tornando mais populares, o TikTok começou a limitar o alcance delas. 

“O site também ganha com essas lives. São mais pessoas fazendo, assistindo e presenteando e o TikTok fica com uma porcentagem desse valor. Então, financeiramente, é algo bom para a rede social. Só que a nível de cultura da plataforma e do que eles querem promover não é interessante”, esclarece.

“Vai contra a diretrizes da plataforma que vetam comportamento robótico, artificial e que gera uma gamificação que não é natural, e acabam por incentivar os presentes de uma forma não autêntica. Então meio que você está manipulando o algoritmo para entregar mais da sua live, para ter mais pessoas te presenteando e isso não é legal. Dessa forma, a nível de algoritmo, a pessoa que está fazendo uma live educacional, ensinando algo, não vai conseguir competir com a pessoa que está fazendo o NPC”, explica Lucas Kalango, professor e consultor para negócios e criadores.

O psicólogo Leandro Marques avalia que as motivações dos adeptos das lives NPC, tanto dos criadores quanto dos espectadores, são diversas. “O ser humano gosta de ver o outro passar vergonha. Pegadinhas, lives NPC… É um conteúdo que engaja”.

“Tem também a questão do controle. O personagem da live só fala o que as pessoas mandam. Se eu mando flor, ela fala flor, se eu mando gatinha, ela repete. Então a pessoa por trás da tela se sente no controle”, diz.

Quanto à humilhação de se expor assim online, Marques acredita que o mercado de trabalho no Brasil pode ser muito mais cruel.

“A gente se humilha muito mais para patrão, para cliente, toma esculacho, escuta coisas horríveis. Aquilo ali para o trabalhador brasileiro não é nada. Além disso, o valor está acima da média do que pagam muitos empregos.”

Questionado e criticado por permitir a prática, o TikTok afirmou á Forbers, em nota, que “apoia a liberdade de expressão e a diversidade de conteúdo na plataforma”. A empresa reforçou que “está comprometida em fornecer aos nossos usuários uma experiência segura e inclusiva.”

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