Ele está à frente de um grupo empresarial que resolveu arregaçar as mangas, partir para ações reais e mudar o ambiente de negócios no Espírito Santo. Era uma época diferente, com desafios que iam além de decisões empresariais. O Estado sofria com a atuação do  crime organizado e o caos na administração pública no final dos anos 90 e início dos anos 2.000. Foi nesse contexto que surgiu o Movimento Empresarial Espírito Santo em Ação, que hoje tem no comando Nailson Dalla Bernadina.

O grupo se consolidou e hoje é uma referência em governança e na identificação dos temas sensíveis da nossa economia. Com pensamento voltado para os rumos que precisamos seguir para colher os frutos não só no presente, mas  principalmente no futuro.

E por falar em futuro, já está em curso o desenvolvimento do ES 500 Anos. Um plano com ações estratégicas de olho em 2035. Esse plano é uma colaboração do governo do Estado com o setor produtivo, representado pelo ES em Ação.

Como funciona o Plano ES 500 Anos?

O Espírito Santo em Ação, junto com outros atores, já constrói uma tradição de planejamento de longo prazo. Esta é talvez a segunda grande missão do movimento empresarial após o nosso início naquele momento muito complexo do Estado, de baixa institucionalidade, quando aquele grupo de empresários se juntou para pensar uma condição de  Estado que pudesse ter pilares para o desenvolvimento. Que é a segurança jurídica, respeito a contratos, lideranças e entidades honestas, pautadas em pautas públicas e coletivas.

A pauta do planejamento é perseguida há muitos anos pelo ES em Ação. Conseguimos trabalhar num planejamento chamado 20/25, depois no plano 20/30, que está em vigor, e agora a gente tem essa parceria com a Secretaria de Estado de Planejamento. Estamos representando o Fórum Estadual das Federações. O Plano ES 500 Anos é um documento plural, um planejamento que todas as pessoas podem participar. A gente tem um site próprio que recebe contribuições e também temos várias rodadas de validação desse planejamento de longo prazo.

O olhar é de como podemos potencializar a aplicação das nossas potencialidades estaduais.

 

O Espírito Santo é pequeno, está organizado, tem um bom capital de empreendedores, com muitas boas vocações e o plano procura reunir esse histórico de planejamento que nós temos, mas olhando com essas novas variáveis de futuro. Um futuro em que a inteligência artificial já chegou, outras várias novas tecnologias também. Um futuro em que todos são bastante antenados com questões digitais, que tem uma reforma tributária pra chegar que pode impactar muito o nosso Estado. Então o objetivo do ES 500 Anos é que a gente, como sociedade, olhe para o que pode mover o Espírito Santo no sentido de continuar sendo competitivo, atraindo novos investimentos.

Qual o papel da classe empresarial no desenvolvimento desse documento?

Primeiro, a gente tem muitos diagnósticos. O que a gente precisa agora é escolher, ter os focos de atuação, e acompanhar a execução. Por exemplo, na área de infraestrutura, o Espírito Santo já tem projetos sendo implantados na área portuária, o que é muito importante. Projetos em desenvolvimento na área ferroviária, para fazer essa conexão. Temos projetos e algumas outras iniciativas sobre rodovias e a gente sabe que precisa dessas conexões. Já tivemos o planejamento e agora temos o equipamento que é o novo aeroporto, muito importante que já tem alguns anos que foi instalado. Quando falamos de planejamento de Estado, a gente ainda carecia de um aeroporto em melhores condições.

Estou falando um pouco da área de infraestrutura, de todas essas conexões, porque essa é uma temática que abre muitas outras oportunidades.

 

Isso reduz o custo do empreendedor, porque a logística fica mais fluida, atraindo turistas para o Espírito Santo para visitar nossos locais, não só na região metropolitana, como em todo o nosso território que tem muitas belezas naturais. Tem história, tem cultura, e a gente precisa melhor comunicar, mas também ter uma infraestrutura de atendimento. Nós do setor empresarial estamos motivados a colaborar com essa pauta feita a várias mãos. Se a sociedade se empoderar de pautas dessa natureza, tenho certeza que o Espírito Santo vai continuar dando passos largos em ser um estado competitivo.

Eu falei de uma pauta aqui que é a infraestrutura, mas nós temos, no ES em Ação, uma pauta muito importante que é a Educação. A Educação no Estado teve evoluções, principalmente na educação pública e a gente percebe pelos indicadores do Ideb que vem melhorando. O projeto de educação em tempo integral está sendo implementado na rede estadual e em vários municípios. Nós entendemos que para ter um Estado competitivo, promissor e atrativo para investimentos, nós precisamos continuar investindo fortemente na educação. E essa é uma responsabilidade de todos.  

Como é a ação do grupo para alinhar medidas que favoreçam o desenvolvimento empresarial do Estado?

Essa organização dos empresários e da sociedade para buscar pautas comuns é talvez o grande diferencial do ES em Ação. A articulação e a interlocução entre o setor público e o setor privado. E para para que isso aconteça, uma ação concreta, é necessária a constituição da rede empresarial. São associações, algumas já existiam até antes do ES em Ação, outras estão sendo estimuladas em todo território capixaba, reunindo empreendedores. Pessoas comuns, que estão no seu dia a dia, trabalhando na sua atividade, mas que fazem uma reflexão mais ampla, sobre como podemos coletivamente pensar num Estado melhor. Desta forma a gente tem uma construção coletiva em todo o Estado. Essa é uma grande entrega do movimento empresarial. Hoje somos mais de 600 voluntários que estão juntos, por pautas comuns, por pautas do bem.

O ES tem empresas antigas. Como você enxerga essa peculiaridade do mundo empresarial capixaba?

Eu enxergo com muito bons olhos, porque a gente tem que trazer novos investimentos, mas também precisamos valorizar todos esses grupos que formaram história aqui no Estado, alguns deles mantendo aqui suas sedes, suas operações mesmo tendo atuação em todo território nacional e até fora do país. Temos grandes plantas industriais que são muito importantes para o Estado.

É importante trazer para o público em geral o valor agregado dessas grandes plantas ao longo do tempo. Desde a erradicação do café, na década de 1960, até o momento atual. Como essas grandes plantas foram importantes para sustentar o crescimento e a urbanização do Espírito Santo. Esses grandes grupos empreendedores capixabas, encontrando esse bom ambiente, tendem a fazer novos investimentos, reinvestir  e toda a sociedade sai ganhando com isso.

A gente teve o momento das grandes plantas industriais, mas agora a gente vê muitas pequenas empresas surgindo e crescendo, até sendo negociadas com gigantes de fora. Chegamos ao momento dos pequenos no Estado?

A gente chegou a um momento de equilíbrio e temos os que surgiram  pequenos aqui que não são mais pequenos. Porque a gente tem uma veia empreendedora no Estado. É só olhar a característica dos imigrantes, dos empreendedores gigantes de hoje que começaram pequenos lá atrás. Eu acho que o ES é um estado de oportunidades independente do porte ou do tamanho do empreendedor. A gente vê isso acontecer no dia a dia. Grandes redes que estão surgindo, que no passado eram pequenos negócios.

Com a capacitação, com a educação e com o ambiente de negócios propício, todos saem ganhando. 

 

Porque onde tem uma grande empresa, tem toda uma ramificação. Essa grande empresa não é sozinha, tem toda uma rede de fornecimento, todo um ecossistema. Mas, essas oportunidades precisam estar num ambiente onde elas vão prosperar. E por isso o ES se apresenta com um ambiente propício a essa prosperidade, com bastante diálogo e com uma gestão pública que a gente percebe que está organizada. Isso é muito positivo para os negócios.

Como é a relação do Es em Ação com governos hoje?

A nossa proposta como movimento empresarial é colaborar com projetos de evidência, com articulação entre os setores público e privado, que nada mais é do que o diálogo qualificado, com propostas técnicas, com evidências sobre algum tema específico. Aí a gente tem ações em curso com algumas secretarias, trabalhamos com algumas pautas junto ao governo do Estado.

Temos um diálogo também na Assembleia Legislativa para entender quando temos algumas questões específicas, sempre de forma muito transparente e muito aberta. Projetos em comum que fazemos com os municípios, junto com a Transparência Capixaba, que a gente tem de mostrar como o município está na visão do cidadão. 

Para que lado o Estado tende a crescer? 

O agronegócio tem oportunidades no todo, dentro da cadeia produtiva algumas cadeias já estão mais avançadas, outros nichos para poder atuar. Mas eu volto a falar do capital intelectual.

Eu acho que o ES pode continuar investindo e ser um polo de entrega de serviços para outros territórios.

Hoje o trabalho híbrido funciona muito bem, o Estado é um ótimo lugar para se viver. Antigamente era difícil brigar com outros estados por causa das oportunidades de trabalho, mas hoje o ES já entra nesse rol que acolhe pessoas que podem se conectar e trabalhar para outros lugares a partir daqui. Mas, não posso deixar de voltar ao tema do turismo, que é uma proposta importante, que deixou de ser aposta e já é uma realidade em vários lugares.

Claro que precisa de muito investimento, precisa colocar esse planejamento em prática, as pessoas precisam entender o potencial que é o negócio do turismo que é uma atividade importante aqui do ES. Sem deixar de falar das cadeias tradicionais. A gente tem todo efeito das mudanças climáticas, a importância da sustentabilidade, mas nós temos aqui um polo de óleo e gás importante que precisa ser cuidado, que precisa ser explorado adequadamente. 

Também temos as grandes plantas industriais que estão fazendo agregação de valor e gerando outros negócios. Acho que não tem uma bala de prata, para apostar em um negócio. O ES tem que continuar diverso, atrativo, aberto ao novo, usar dessas novas tecnologias a seu favor para ganhar tempo e mostrar de forma equilibrada alguns caminhos para o Brasil, especialmente na gestão quando a gente fala de contas públicas.

A reforma tributária assusta o setor produtivo?

Acho que a gente tem que fazer um corte aqui. A reforma tributária no Brasil, em linhas gerais, é muito bem aceita e necessária. Nós vivemos, como já  foi batizado por muitos economistas, num manicômio tributário no país, com um custo de prestação de contas ao fisco enorme, por uma forma equivocada de tributação, construída ao longo do tempo.

O setor produtivo está muito seguro de que a gente precisa de uma reforma tributária.

A outra parte é que essa reforma carece de muitos entendimentos. De qual o tamanho da carga, de como alguns setores terão o desdobramento dessa carga. Eu vejo que a gente precisa ficar atento e acompanhar todos os passos. Tanto no impacto direto nos nossos empreendimentos quanto no impacto no ambiente do Espírito Santo. Uma vez que essa mudança da base de cálculo da arrecadação passa da origem para o destino, essa mudança é muito preocupante para o ES de acordo com estudos da Secretaria de Estado da Fazenda. 

Você acha que a política pode atrapalhar os negócios?

Sim. A má política, só de bastidor, de baixa transparência, ela afasta investimentos. Atrapalha o empreendedor demais. A boa política, a que dialoga, que entende as demandas, que antes de tomar a decisão, de publicar uma nova lei, avalia os reflexos e a efetividade dessa legislação, é a que tem impacto positivo na vida das pessoas. Temos que lembrar que nós precisamos da política, a sociedade se organizou dessa forma. E a melhor forma que nós encontramos foi a democracia e a da administração por meio de nossos representantes. Não conheço outra forma melhor em que as coisas possam funcionar.

A gente precisa valorizar a boa política, valorizar o diálogo e políticas públicas que tenham evidências, que tenham muitos exemplos no mundo, no Brasil, no Espírito Santo. Não precisamos inventar nem ser autorais em muitas coisas. Podemos acelerar o nosso aprendizado vendo em outros locais que já ocorreram e aplicando aqui no nosso território, aqui no nosso país. 

Qual a marca que você quer deixar como gestor do ES em Ação?

Eu espero deixar como legado essa escuta ativa, que já era característica do movimento, mas de forma mais plural, ouvindo todos os tipos de empreendedores. Espero que a entidade tenha uma capacidade ainda maior de execução e de chegar ao final com entregas  consistentes.

Nailson Dalla Bernadina é presidente do Movimento Empresarial Espírito Santo em Ação, diretor executivo do Sicoob/ES,  graduado em Ciências Contábeis e especialista em Gestão Empresarial, Cooperativas de Crédito e Gestão de Negócios.

Veja a entrevista na íntegra:

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