Tudo passa pelas estradas do Espírito Santo. Sejam os passageiros que vão para o trabalho na Grande Vitória, sejam as cargas produzidas aqui que vão para outros estados e países, sejam as cargas que chegam aqui para abastecer o consumidor, a indústria e o mercado de forma geral. 

E para fazer essa roda girar é preciso ter organização e foco em decisões estratégicas. Desde que foi criada, a Federação das Empresas de Transportes do Espírito Santo (Fetransportes) tem o objetivo de melhorar a eficiência e a qualidade da prestação de serviços do setor. 

Do ponto de vista institucional, é olhar para o que o Estado oferece e pensar em soluções e possibilidades para dar vazão às necessidades. E esse olhar acaba tendo um peso maior, já que o Espírito Santo se apresenta como um promissor operador de logística, com possibilidades que se apresentam de forma clara e algumas iniciativas que já são realidade, como obras de novos portos, operação do Porto de Vitória entregue à iniciativa privada, início de operação de aeroportos regionais e concessão de rodovias federais. Ao mesmo tempo, o desafio é enorme quando se fala de condições gerais das rodovias e as idas e vindas para duplicar BR-101, BR-262 e BR-259, as mais estratégicas em terras capixabas.

Inclusive as três grandes vias federais que passam pelo Estado são apontadas por Renan Chieppe, presidente da Fetransportes, como alguns dos maiores gargalos na malha de transportes capixabas. E ele fala isso do alto da experiência de quem está em uma das maiores empresas de transportes do país, o Grupo Águia Branca. 

Chieppe é vice-presidente do grupo, que nasceu em 1946 e atua em todo o Brasil nos serviços de transporte de passageiros, logística dedicada, transporte de carga, aluguel de veículos leves e pesados, terceirização de frotas, plataforma de mobilidade e comércio de veículos. 

E é pela logística pujante que a gente começa esta Entrevista de Domingo!

A infraestrutura do Estado está preparada para esse boom logístico que a gente vive hoje? 

O Espírito Santo tem uma posição muito importante no contexto nacional, geograficamente e em termos de economia também e essa é uma demanda para o Estado. O Estado vem conseguindo desempenhar o seu papel, dentro da perspectiva da logística, mas essa é uma área que precisamos ter atenção, precisamos investir, precisamos nos empenhar para melhorar as competências do Estado.

Nós temos alguns desafios, a gente vê o governo do Estado muito mobilizado em torno desses assuntos, alguns temas são relativos à infraestrutura federal, aliás, boia parte. E não só falando em rodovias mas também portos, aeroportos regionais, tudo isso compõe o arranjo logístico. Então, eu diria o seguinte: O Espírito Santo tem condições, está sendo competitivo, mas ele precisa desenvolver essa área melhor com olhos no futuro.

E como se faz isso?

Essa é uma pergunta que a todo momento se buscam respostas. Eu acho que a interlocução com o governo federal é importante. Os principais desafios são conhecidos e os esforços estão sendo feitos. Nós esperamos que com a participação de todos, com o reconhecimento do governo federal sobre a importância dessas infraestruturas a gente consiga avançar.

Qual o papel do empresário dos transportes na melhora da infraestrutura do Estado?

O empresário no seu papel de operador logístico, participa da interlocução, defende suas demandas e necessidades, contribui. Afinal, somos grandes arrecadadores de impostos. Acho que nosso principal papel é na interlocução. Existem algumas soluções que podem vir da iniciativa privada, como parcerias público privadas ou mesmo com o sistema de concessão de infraestrutura.

Nós temos alguns exemplos disso já, como o aeroporto de Vitória, a própria BR-101 que enfrenta um desafio, agora a Codesa que passa por um momento de transformação, passando a ser defendida pela iniciativa privada. Então esse arranjo tem esse ponto de vista também. Tanto de operador como de investidor mas nós sempre vamos precisar da iniciativa e da modelagem do governo. 

O que precisa ser feito para deixar o ambiente atrativo para o empresário de transportes?

Acho que é esse debate que já acontece. Nós temos, pela Federação, discutido com o Estado a BR 101, a BR 262 e a BR 259, que são os principais eixos rodoviários que nos desafiam hoje.

A gente percebe um empenho muito grande e algumas coisas a gente tem uma boa expectativa.

 

Em relação à BR 101, para ainda este ano, uma espécie de redesenho da equação da concessão. A 262 acho que é mais uma discussão pra o ano que vem. Então, o papel tem sido de debater os assuntos, apontar as demandas, e cobrar do governo o andamento desses temas. 

Como a Federação identifica desafios e oportunidades no ES?

Nosso papel nessa questão é apontar os principais desafios. Nós temos dados de movimentação, de custos e tudo isso impacta a cadeia logística.

Existe um grande desafio quando você depende do governo federal. Brasília às vezes fica um pouco distante do contexto, do que acontece realmente.

 

Então eu acho que a Federação, as empresas, têm procurado sensibilizar mas a gente percebe o governo muito mobilizado em procurar o Ministério da Infraestrutura e a própria ANTT… trazê-los para o debate. A gente percebe que esse debate está acontecendo. A gente fala muito da 101, mas no caso da 262, por exemplo, depois de duas tentativas de licitação mau sucedidas há pouco tempo se descobriu que não tem nem o projeto.

Mesmo que houvesse verbas no orçamento para fazer, não tinha o projeto. As licitações que se pretendiam fazer no passado incluiriam os licenciamentos e os projetos. E como elas não aconteceram, não tínhamos sequer o projeto. Então agora está sendo feito o projeto. Nossa torcida é para que não demore, ande rápido e ao fim a gente consiga ter tudo à disposição da população capixaba e da economia capixaba. 

Esses são os principais desafios?

Acho que sim. Temos grandes desafios de portos e aeroportos. O desafio do Aeroporto de Vitória foi vencido. As vezes as pessoas esquecem o que a gente passava aqui. O Aeroporto de Linhares foi entregue, agora tem um desafio sendo encaminhado para o Aeroporto de Cachoeiro. Nós temos um desafio na parte ferroviária, que é a ligação de Vitória com o Sul do Estado, que é um tema que vem sendo tratado. Mas, são temas de longo prazo.

A gente não deve esperar que tudo isso seja resolvido da noite para o dia.

 

O governo federal também tem seus pensamentos. Enquanto a gente aqui acredita que estas sejam as soluções, a gente não sabe se este é o pensamento da esfera federal. mas a gente tem conversado e debatido todos esses temas. 

Como é o ambiente de negócios hoje no ES em comparação ao que era quando a Federação surgiu?

Não só no setor de transportes, mas o que a gente enxerga é que num ambiente de negócios onde você encontra a serenidade por parte dos agentes públicos, a abertura para o diálogo, o entendimento de que a gente deve buscar o melhor pro Estado, tudo isso cria um bom ambiente de negócios. Isso cria segurança jurídica e uma boa percepção, por parte do empresário. E mesmo se existe algum gap, alguma demanda, ele acredita e vem para o Estado investir.

E você vê, pra essa região Norte do Estado, essa região de Linhares por exemplo. Quanto que a gente recebeu de investimento, novas empresas. Até em todo o Estado. Alguns desafios tiveram que ser superados, para essas empresas virem para cá, até do ponto de vista de infraestrutura mesmo. Mas, quando as empresas observam o Espírito Santo, conversam com quem está aqui, elas passa a acreditar. Nós damos esse depoimento.

Quando nos perguntam sobre investir aqui a gente afirma: O Espírito Santo é o lugar certo para investir.

 

Qual a característica do empresário e das empresas de transportes no Estado?  O que tem de peculiar no nosso mercado?

O Espírito Santo é um celeiro de profissionais e empresas da área de transportes. Tanto na área de passageiros quanto de carga nós temos grandes empresas e grandes histórias que o Brasil todo reconhece. Nós estamos em uma região muito bem posicionada tanto em relação ao Sudeste quanto em relação ao Brasil. Num raio de mil quilômetros a gente alcança todo mundo.

A gente tem Salvador, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro… um pouquinho mais você tem o Sul também. O Centro-Oeste, pelo sistema ferroviário. Em função da nossa posição, em todos os modais nós somos referência tanto de empresas quanto de profissionais.  

Como é a relação da federação com governos hoje (federal, estadual e municipais)?

Os desafios são normais e isso não está na lista dos maiores problemas que temos. Nós consideramos que isso aí vai bem. Nós achamos importante que os órgãos públicos que fazem a gestão relativa ao setor de transportes, que fazem a governança em toda a sua área econômica, escutem, conheçam, tenham contato com a realidade que a gente vive. Acho que isso tem acontecido e eu vejo inclusive na esfera federal.

Acho que nossos desafios no Legislativo são um pouco maiores, porque pela sua natureza é um poder muito mais fragmentado, até pelas suas correntes de pensamento, e nós temos um Judiciário hoje que apita muito o jogo e isso é um desafio. Um exemplo que tivemos agora foi o da desoneração da folha de pagamento. Os 17 setores, regidos por uma legislação, por decisões também do setor público, se preparam para uma realidade e, da noite para o dia, uma decisão monocrática muda tudo.

E isso cria um desafio que, sem entrar no mérito de valor da questão legal, da compreensão da lei, isso cabe realmente às altas cortes se manifestarem e não a mim, mas da noite para o dia muda todo seu programa de gestão e inclusive de financiamento das suas operações.  E isso tem um impacto.

Eu acredito que o empresário, o executivo brasileiro, aprende a conviver com esse ambiente. Acho que não é em todos os lugares do mundo em que as pessoas saberiam conviver com esse tipo de ambiente.

A gente tem conseguido, mesmo com esses desafios que eu comento, falar e ser ouvido.

 

Esse caso que eu citei, da desoneração da folha, as entidades se manifestaram num debate de alto nível, que cabe muito mais às confederações do que às federações, e me parece que estamos sendo ouvidos. Há uma perspectiva de uma moderação do tema. E isso acontece por parte, além do governo, mas graças a uma equipe de brasileiros, executivos que têm folego, desprendimento para ir atrás e superar todos esses desafios.

O que o ES oferece de oportunidades no setor de transportes hoje?

A logística é uma área que tem muita oportunidade. Você tem, a todo momento, cadeias logísticas sendo instaladas. Até outro dia, por exemplo, veículos importados praticamente não existiam aqui. Em pouco mais de uma década se instalou toda uma infraestrutura. Nesse momento veio um boom dos veículos elétricos chineses e o Espírito Santo conseguiu absorver isso.

Então eu acho que nessa área de logística e inúmeros outros segmentos. Na área de mobilidade, nós temos um transporte público bem estruturado no Estado. Existe também a questão da mobilidade individual. Algumas soluções sendo apresentadas, lançadas, com uso de tecnologia, com possibilidade de propriedade de veículos tanto leves como pesados. No geral, o Estado tem grandes oportunidades tanto na mobilidade urbana quanto na logística. 

Como as lideranças empresariais podem fazer a diferença no Estado?

Eu acho que sucesso você pode ter a partir de um cliente muito satisfeito, que tenha uma relação permanente e que gere uma carteira de negócios sólida. Eu acho que a grande força de um empreendimento, de um empreendedor, é focar no cliente e atende-lo da melhor forma, encantando e entregando acima do que ele requer. Acho que a melhor forma de fazer isso é com uma boa capacidade de investigação, é estar aberto a novos modelos.

Acho que os empresários, em geral, têm uma tendência a serem muito conservadores, gostam muito de repetir a fórmula de sucesso. A gente tem que ter a capacidade de fazer aquilo que a gente já fez com sucesso e de fazer o novo. Olhar o que o cliente quer agora e o que ele vai querer no futuro. É ter essa “ambidestria”, fazer aquela atividade tradicional bem feita, isso não é favor nenhum, não é vantagem nenhuma. Isso é para se manter no mercado. Mas, a conquista do mercado vem pelos diferenciais. As lideranças empresarias precisam compreender que o sucesso vem do tradicional bem feito e também do novo que você agrega ao seu processo. 

Renan Chieppe é presidente da Federação das empresas de Transportes do Espírito Santo e vice-presidente da Águia Branca

Veja abaixo a entrevista completa:

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