Você sabe qual é o maior grupo empresarial do Espírito Santo? Certamente passaram aí na sua cabeça uns quatro ou cinco grupos gigantes capixabas, mas eu acho que você pode ter deixado o maior deles mesmo, de fato, de fora.

O maior grupo empresarial do Espírito Santo, de acordo com o patrimônio líquido pelo anuário IEL, 200 maiores e melhores empresas, é o Sicoob do Espírito Santo. São mais de 800 mil associados e valor superior aos R$ 25 bilhões em ativos. 

O Sicoob está em 72 dos 78 municípios capixabas e tem a maior rede de atendimento entre as instituições financeiras privadas no Espírito Santo.

A cooperativa de crédito muitas vezes funciona como varejista, muitas vezes como banco de fomento e também está intimamente relacionada à atividade agropecuária no Estado. 

À frente dessa máquina de fomentar a economia regional está Bento Venturim. O presidente do Sicoob-ES é de Venda Nova do Imigrante, começou na instituição no nascedouro, na década de 1980.

A cooperativa sempre teve relação direta com a cultura de café no Estado, mas foi além.

E Bento se mistura um pouco com essa história e foi de Venda Nova para São Gabriel da Palha, um dos lugares mais importantes do mundo quando se fala de cultura cafeeira. Saiba como foi essa jornada e como a pequena cooperativa se transformou em um gigante da economia capixaba.

Confira nesta Entrevista de Domingo

Quais são as diferenças do Sicoob-ES para bancos tradicionais? 

Nós poderíamos citar várias diferenças. Três das principais, eu caracterizo assim: nós somos os donos dessa instituição financeira, qualquer um dos associados pode se candidatar a presidente da instituição.

Somos usuários, somos clientes, usamos a nossa instituição financeira e somos os administradores. Não só recebemos os resultados como dividimos as sobras com os nossos associados posteriormente.

Também temos alguns valores que nós levamos para as comunidades e essa participação está dentro dos princípios do cooperativismo.

Temos muitas atividades sociais dentro do decorrer do nosso trabalho para fazer o desenvolvimento de cada região onde nós estamos.

Então, achamos que participamos muito do desenvolvimento do Espírito Santo por causa dessas ações que nós fazemos no nosso Estado. 

Ser dono do banco e ter que administrar, dividir lucros… isso não é uma responsabilidade maior? 

Isso aí é tudo aquilo que nós achamos que faz realmente a diferença.

Quando constituímos a nossa cooperativa, pensamos que estávamos assumindo uma grande responsabilidade porque tínhamos em mente que iríamos trabalhar num conjunto de pessoas que queriam ver um resultado positivo e queriam não só ver o seu desenvolvimento, mas queriam ver o desenvolvimento da comunidade de um modo geral. 

Como o Sicoob-ES vê o momento econômico do Espírito Santo hoje? 

Nós estamos passando por um momento bastante virtuoso, né? Depois de 2002, nós tivemos aí, no começo dos anos 2000, grandes problemas.

A partir desse momento, tivemos movimentos civis, movimentos privados, o Espírito Santo em Ação, por exemplo, nasceu nessa época, com o intuito de fazer com que o Espírito Santo fosse um estado melhor para fazer negócio.

Os nossos governantes começaram a entender isso e nós estamos vivendo um período virtuoso do Espírito Santo.

Os números estão aí, os dados estão aí, o Espírito Santo vem sendo um ano após o outro, classificado aí como “nota A” em vários pontos.

Nossos governantes estão deixando os empresários evoluírem e estão ajudando, facilitando a vida dos nossos empresários, o que eu acho que é o dever do Estado. 

Onde é que estão as oportunidades aqui no Espírito Santo e como o Sicoob-ES atua nessas frentes?

Oportunidades são diversas aqui no Espírito Santo. Nós temos visto aí a agricultura, a cafeicultura, a fruticultura, toda essa diversidade que nós temos de possibilidades no Espírito Santo.

O Norte do Estado agora está voltando para a cultura do trigo, da soja. Nós temos alguns experimentos de uva também lá na região Norte do Estado. Tem um experimento de maçã lá também. Nós estamos envolvidos nisso porque nós estamos de Norte a Sul do Espírito Santo. 

Estamos sempre atentos e próximos do nosso associado, então nós sabemos daquilo que ele tem necessidade.

 

Nas enchentes de Mimoso do Sul, que aconteceram numa sexta, na segunda-feira nós estávamos com uma linha de crédito de R$ 25 milhões à disposição dos nossos associados, a juro zero, para eles recomeçarem.

Inclusive o nome do programa é Recomeçar, exatamente para as pessoas terem esse acolhimento. No Espírito Santo nós temos um gargalo que já estamos discutindo com o  Centro do Comércio do Café.

Fizemos uma carta aberta aos nossos produtores sobre a questão da logística dos portos do Espírito Santo.

Nós temos um litoral maior do que as nossas fronteiras terrestres e temos dificuldade com portos. Estamos melhorando, mas temos oportunidade de melhorar muito mais, especialmente nessa direção. 

Você acha que o maior desafio hoje no Espírito Santo é escoar essa produção que a gente tem? 

Nós temos uma oportunidade de ouro nas mãos aqui no Espírito Santo. Nós podemos escoar a produção de Minas Gerais, do Centro-Oeste por aqui, por que nós temos que ir para Santos ou Paranaguá para exportar os nossos grãos, os nossos cafés?

Se a gente tiver a logística bem traçada aqui, nós vamos voar.

 

Nós já estamos no caminho, nós estamos lá no porto da Imetame, em Aracruz, que está sendo construído e é uma maravilha de empreendimento.

Mas, nós podemos melhorar e temos que melhorar, mesmo porque até chegar lá nós temos gargalos de rodovia, nós temos gargalos de ferrovia, mas estamos caminhando. 

Qual é a relação do Sicoob-ES com o empresário capixaba? Como é que a instituição se alinha às necessidades do mercado? 

Como eu já disse, nós estamos próximos do nosso associado, seja ele pessoa física ou seja ele pessoa jurídica, seja um empresário, seja ele um trabalhador, um funcionário público.Então, nós estamos atentos a todas as necessidades. E com isso nós podemos atendê-los naquilo que eles tiverem de demanda.

No que precisar, o Sicoob está pronto para atender. Nós temos, inclusive, linhas de crédito, orientação, consultoria especializada para os nossos associados naquilo que ele estiver precisando desenvolver na sua atividade.

O que você acha que falta para o empresário capixaba? 

O empresário capixaba é muito bom. Mas sempre tem espaço para melhorar muito. Acho que o que podemos ter é maior cooperação entre as categorias profissionais.

Nós podemos fazer empreendimentos que sejam voltados para o desenvolvimento econômico e social fazendo o completo desenvolvimento das pessoas no nosso Estado.

Como é o ambiente de negócios aqui no Espírito Santo? 

Nós temos conversado muito com os governos para que o ambiente de negócios seja bom. 

Como é um ambiente de negócios bom?

Os governos não precisam ajudar as pessoas a se desenvolverem. É só dar oportunidade e desburocratizar.

Nós temos visto, por exemplo, no meio rural. As autorizações para você fazer irrigação, para você fazer reserva de água. Isso era uma burocracia que a gente não conseguia fazer, a não ser na marra, a não ser sem autorização.

Hoje, você faz isso com tranquilidade. Por quê? Porque nós conseguimos fazer com que o Estado entendesse que aquilo lá não faz mal.

Claro, precisa ser bem feito e essa é uma das coisas que nós precisamos melhorar no nosso empresariado, nas pessoas, nos produtores, para a gente fazer as coisas bem feitas.

Porque se você faz uma barragem bem feita, uma represa bem feita, ela não vai dar problema. Ela tem muito menos chance de dar problema.

Nós não temos problema de crise hídrica, nós temos problema de administração dos recursos hídricos. Então, quando falta água, é problema de administração dos recursos hídricos. 

Onde está o crédito para favorecer esse ambiente e como o mercado pode ter acesso a esses recursos? 

O Sicoob-ES tem recurso para todos, tem linha de crédito para todas as necessidades dos nossos empresários.

Temos um sistema ainda bastante burocrático, ainda temos algumas linhas de crédito que são bastante engessadas, vamos dizer assim. Se você não couber ali, você não leva o crédito.

Um Pronaf, por exemplo, tem que ter as características próprias. Tem uma taxa de juros bacana, mas você tem que se enquadrar ali. Se você não se enquadrar, você não leva.

Então, o que nós temos de dificuldade, às vezes, é a pessoa saber fazer conta daquilo que você precisa, saber o custo da sua produção, essas coisas às vezes fazem muita falta.

Então, me parece que isso aí que falta, e aí às vezes a pessoa diz que não tem o crédito, que não tem o recurso porque ele não tem a orientação de como chegar até esses recursos. Me parece que o gargalo é mais por aí, e não a falta de recurso. 

Qual é a relação do Sicoob-ES hoje com os governos federal, estadual e os governos municipais? 

Nós temos uma instituição que é supra-cooperativa, não é só das cooperativas de crédito, é de todo sistema cooperativo brasileiro, que se chama Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).

Então, nós entregamos para a OCB esse relacionamento com os governos, e especialmente governo federal, nas três esferas, executivo, legislativo e judiciário.

Basicamente, a OCB faz isso para a gente e nos estados e municípios a OCB estadual faz também.

Para onde mais o Sicoob-ES planeja crescer?

A instituição planeja crescimento para todas as áreas. Nós nascemos no agro, mas hoje nós somos do mundo. Estamos aí na indústria, no comércio, na prestação de serviços.

Hoje não temos restrição, exceto algumas coisinhas do poder público, mas no privado nós estamos aí. Nós temos todos os produtos e todos os serviços que uma pessoa jurídica ou uma pessoa física tem necessidade. Então, o nosso planejamento é trabalhar nessa direção aí com todos esses atores.

E, especialmente, nós estamos retornando com força para o agro porque nós tínhamos perdido algumas oportunidades de estar com a nossa origem.

Hoje, nós estamos vendo muito mais pressão em cima dos governos para fazer os planos safras, a aplicação de recursos disponíveis para o desenvolvimento das nossas economias no campo.

Estamos voltando com força para o crédito rural. 

 

Pela sua experiência de mercado, o que você acha que o empresário capixaba precisa ter de qualificação para aproveitar as oportunidades que a gente vê hoje no Estado? 

Nós já falamos um pouquinho sobre isso. Precisamos que o empresário se qualifique sim mas, principalmente, que conheça de perto o seu negócio, esteja focado no seu negócio, saiba o custo daquilo que produz, que desenvolve.

Tudo isso é fundamental para que ele possa precificar no final. Se não,  o produtor vira especulador e a especulação não está dentro da programação do Sicoob.

Como as lideranças do setor financeiro podem fazer a diferença no Estado hoje?

Colocando à disposição os recursos que são geridos, de forma também a saber dos limites, dos seus ganhos, precificar bem a mercadoria para colocar à disposição.

Você precificando corretamente, colocando esses recursos à disposição, você certamente estará participando do desenvolvimento da sua região, do seu Estado. 

Independente da carteira do Sicoob-ES, você vê o ES com recursos disponíveis para investimento? 

Nós vivemos num mundo muito globalizado, né?

Então, os recursos do Espírito Santo podem até ser insuficientes para os grandes, mas não acredito que seja, e nós temos as nossas instituições aqui no Estado preparadas para fazer o desenvolvimento. E temos aí o BNDES.

Não é por falta de recursos que nós não estamos mais adiantados.

 

Às vezes, aquela coisa que eu já disse, o produto ou serviço é mal precificado, mal planejado e esse pode ser um dos nossos maiores pecados.

Acho que muitas vezes pode faltar projeto no Estado. E isso tem a ver com o que estamos dizendo sobre planejamento.

Se você não tem bons projetos, não tem dinheiro que dê. E projetos, planejamento, educação, desenvolvimento, isso aí, acho que é um pacote que faz o desenvolvimento. 

Bento Venturim é presidente do Sistema de Cooperativas Financeiras do Brasil no Espírito Santo (Sicoob-ES)

Veja abaixo a entrevista na íntegra:

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