As escolas particulares são referência para a educação do Estado. Hoje são pouco mais de 350 no Espírito Santo e por elas passa o futuro da economia capixaba. 

As instituições privadas de ensino, desde a pré-escola até a educação superior, são atendidas pelo Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe), uma instituição fundada em 1962.

E entre os objetivos do Sinepe estão buscar reconhecimento e brigar pelo desenvolvimento sustentável das instituições capixabas. 

À frente da instituição está Moacir Lellis, que é parte da história do sindicato e da própria educação do Espírito Santo. Ele é fundador da Escola São Geraldo, muito tradicional em Cariacica e que virou faculdade, depois encampada pela Multivix. 

Confira nesta Entrevista de Domingo

Qual é o papel dos gestores de educação no desenvolvimento dos objetivos que a escola tem que ter? 

O papel é essencial para o desenvolvimento da escola. Reunimos em torno de 170 gestores das escolas, desde educação infantil, fundamental 1, fundamental 2, ensino médio e ensino Superior, em um evento nosso que foi lá em cima em Pedra Azul.

E para você ter uma ideia, além dos palestrantes de alto nível, quem falou sobre o mundo, o Brasil e para onde caminhar foi o ex-ministro Paulo Guedes. Então, veja a nossa preocupação de capacitar gestores.

Em novembro nós vamos ter o summit, que vai ser um encontro só para gestores e que nós vamos ter conteúdo da área financeira.

Eu falo muito para os nossos associados que eles têm que gerir a escola como uma empresa. Então, nós temos que qualificar o gestor não só na parte educacional, que é a atividade fim, como também na parte financeira. O gestor tem que conhecer o todo, não só o educacional, mas a parte administrativa da sua instituição. 

O Espírito Santo alcançou algumas das maiores notas do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do país. Qual é o papel das escolas particulares nesse resultado?

Considero que temos um papel fundamental nesses resultados. Para você ter uma ideia, no ensino fundamental 1 nós das instituições privadas tivemos a nota 7,6.

Está acima da média nacional, que é 7,2. E se você for comparar os países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que é a Finlândia, a Dinamarca… nós estamos próximo deles.

Então, veja como isso interfere lá para o Ideb do Estado. No ensino médio, o Estado teve 4,8. Nós tivemos 5,8. Nós contribuímos.

E fundamental 1 e 2, entra a nota também das escolas municipais, que é quem tem maior número de escolas nesse segmento. Quando você faz a média, nós diminuímos, mas a nossa é bem acima. Ajuda a puxar para cima. 

O que essas notas do Ideb ensinam para a gente e para a educação do Espírito Santo?

Ensinam que estamos no caminho, mas que ainda há muito a fazer. No ensino médio, a nossa meta  é 6,4 e nós estamos com 5,8. Acho que isso é um reflexo ainda da pandemia.

Nós melhoramos em relação a 2021, que era 5,6, mas precisamos ir além. E naquele ano nós pegamos aquela rebarba da pandemia.

O aluno que entrou em 2022 no primeiro ano do ensino médio, tinha lá a mudança para o novo ensino médio. E o governo, o que faz? Em vez de promover apenas um alinhamento, foi lá e modificou tudo. Esse ensino médio que está voltando aí é aquele antigo.

Nós, no Sinepe, temos um programa em que visitamos os países que se destacam no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) e nós fomos para esses locais.

Quando nós estivemos na Polônia, lá em 2016, eles tinham um ensino médio que é esse que nós voltamos agora. Eles apenas reformularam. Só que lá eles já estavam fazendo um terceiro realinhamento. Porque você não pode mudar tudo.

Imagine esse aluno que começou em 2022, agora em 2025 vai mudar tudo? Então o governo federal vai fazer um programa de formação de professores.  Vamos reformular, mas não mexer em tudo como se mexeu agora. Mesmo assim cabe a nós nos adequarmos à nova realidade. 

A tecnologia na sala de aula é aliada ou é uma distração? 

Nós temos que agregar, né? Eu, quando estava lá na frente da minha instituição, em um belo dia, o professor veio falar assim:  O celular está atrapalhando… isso e aquilo.

Eu falei que a gente tem que agregar. Você é professor de História? Vamos fazer uma pesquisa com o celular.

O jovem hoje está muito antenado, ele é protagonista.

 

O professor tem que estar à frente dele. Eu acho que é positivo o uso da tecnologia na sala de aula desde que o professor também evolua e cresça com as tecnologias.

Eu costumo dizer que nós ainda estamos na educação do século XX. Canso de falar que nós temos que mudar. O mundo é outro. A inteligência artificial está vindo aí.

Daqui a mais ou menos 700 ou 800 dias ela vai mudar as áreas de educação e saúde. Serão as mais impactadas. Mas isso não quer dizer que o ser humano vai deixar de ter sua atividade. Pelo contrário. Nós temos que evoluir. 

Mas a escola está preparada para receber a inteligência artificial hoje? 

As escolas estão se preparando porque sabem que em poucos dias, se não se prepararem, vão morrer. Está todo mundo se preparando. 

Como é o ambiente de negócios para escolas privadas hoje no Estado? 

Quando nós fizemos esse fórum de potencialidades chegamos à conclusão de que o Espírito Santo do futuro tem muito potencial em vários segmentos e na educação não é diferente.

Aqui, no Estado, as nossas escolas são de modo geral empresas familiares e a sucessão é uma das coisas que mais preocupa. Porque o tempo vai passando, as empresas não pensam nisso e os grupos podem simplesmente se desfazer.

Nós conhecemos muitas empresas que eram potências… O grupo Matarazzo de São Paulo, a família Guinle. A primeira geração plantou, a segunda colheu e a terceira não tem o que fazer. Aí os grupos acabam morrendo. 

Nós chegamos à fase das grandes redes de ensino do país aportarem de vez do Espírito Santo?

Alguns já estão aqui. O grupo que comprou o Leonardo Da Vinci é uma rede inglesa que tem escola em 24 países. Tem o grupo que comprou a Primeiro Mundo, que tem 104 escolas a nível de país. Mas não é fácil você comprar uma escola aqui no Espírito Santo. Por serem empresas familiares, não é fácil.

Outras grandes instituições já tentaram se aventurar aqui e não conseguiram. Eu vou te dar o meu exemplo. Eu sou o criador da Faculdade São Geraldo, que hoje é a Multivix Cariacica. Aquilo é como se fosse um filho. E quando eu fiz a cisão, não foi fácil.

Mas eu via que o mercado estava muito competitivo, porque o ensino superior era muito competitivo. As nossas escolas são de excelente qualidade. A educação básica e superior do Espírito Santo é de excelente qualidade. 

Como é a relação do setor com os governos? 

A relação é a melhor possível. Nós, ao longo do tempo, conseguimos ter uma aproximação e o secretário Vitor de Ângelo é o que mais visibilidade deu ao Sinepe. É um parceiro.

Com relação, por exemplo, à Prefeitura de Vitória, a secretária Juliana Rohsner também é próxima e a gente contribui bastante com a gestão da capital.

A relação também é a melhor possível com o Conselho Estadual de Educação, Ministério Público. Somos parceiros, claro, sempre cumprindo com as nossas obrigações. 

Para que lado o Espírito Santo tende a crescer? Quais são as áreas com maior potencial hoje no Estado? 

O Espírito Santo já tem uma tendência para a logística. Nós temos os portos, acho que os melhores portos estão aqui, a não ser Santos e Paranaguá, mas o resto está aqui. Tem uma grande mineradora, uma grande produtora de aço.

As nossas instituições sempre observam e pesquisam o que o mercado precisa. Qual é o profissional? Hoje, para um país crescer, ele precisa de muito profissional nas áreas de engenharia. Todos os profissionais são necessários, mas as áreas de engenharia precisam mais.

Nós vamos fazer um trabalho agora com a Secretaria de Ciências e Tecnologia, mais o Movimento Empresarial Espírito de Santo em Ação sobre isso. Porque hoje o jovem não quer fazer, por exemplo, a engenharia.

E precisamos estimular os nossos estudantes a fazerem essa formação. Nós temos um programa com o governo do Estado que é o Nossa Bolsa, em que o governo paga 100% nas faculdades particulares.

Às vezes, nós não conseguimos preencher as vagas. Como nós temos instituições praticamente no Estado todo, ele tem uma capilaridade atendendo quase todos os municípios. Precisamos estimular essa qualificação cada vez mais

A política deve fazer parte do ensino? 

Eu fico preocupado quando vejo, às vezes, algum gestor nosso que diz que não quer saber de política. Eu falo para ele então não reclamar daquele deputado federal, daquele deputado estadual.

Às vezes sou meio rígido quando um gestor fala para mim que não quer saber de política. A educação tem um papel primordial, porque se nós não tivermos lá políticos e que tenham conhecimento da função, dificilmente nós vamos ser bem sucedidos. 

A política tem que estar em todo lugar.

 

O que a gente deve fazer e o que esse setor de educação deve fazer em relação à formação de professores e líderes? 

Hoje, a formação é um dos problemas. Temos que oferecer formação contínua a nossos educadores e investir pesado nisso.

Eu falo muito para os nossos gestores, falávamos dois anos atrás e essa é uma realidade. Se não dermos atenção a esse profissional, daqui a três, quatro anos nós não vamos ter professores.

Nós vamos ter aluno e não vamos ter professor, porque nós temos que valorizar o profissional da educação. Dar condições a ele, porque o professor vive 24 horas a escola. Eu digo o seguinte: a escola é o professor.

Moacir Lellis é presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe)

Assista a entrevista completa abaixo:

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