Uma entidade com 52 anos de atuação em defesa de um modelo de negócios que cresce e que marca a história econômica do Espírito Santo.
É o modelo cooperativista, que começou no campo capixaba, onde permanece muito forte até hoje, mas que também já ganhou os meios urbanos do Estado.
E quando se fala de cooperativismo, é preciso falar do Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras do Espírito Santo, a OCB-ES.
No Espírito Santo, a entidade, que tem atuação nacional, reúne 112 cooperativas registradas com 832 mil cooperados. São quase 12 mil trabalhadores empregados.
A organização capixaba atua em conjunto com instituições nacionais, com o mesmo modelo de negócios.
Quem fala sobre esse modelo e o impacto para a economia do Estado é o Carlos André Santos Oliveira, diretor executivo da OCB-ES.
“Carlão da OCB”, como é mais conhecido, está na organização desde 1997 e sempre teve uma relação próxima não só com o cooperativismo, mas também com o empreendedorismo. Ele ainda faz parte do Conselho Administrativo do Sebrae.
Confira nesta Entrevista de Domingo
O que o cooperativismo representa para o ambiente de negócios do Espírito Santo hoje?
O cooperativismo tem uma participação muito relevante na economia do Espírito Santo.
Em 2023, nosso anuário revelou a força desse modelo: 17 das 200 maiores empresas do Estado são cooperativas, incluindo o Sicoob, o maior grupo genuinamente capixaba há dois anos consecutivos.
Isso mostra o impacto direto no PIB estadual e o potencial de desenvolvimento econômico do cooperativismo.
O cooperativismo é um sistema diferente do tradicional. O que caracteriza esse modelo?
Nosso modelo é baseado nas pessoas. Dezenas, centenas ou milhares de CPFs se unem para formar um CNPJ – a cooperativa.
Esse modelo, que nasceu na Europa no século 19 e chegou ao Brasil há 125 anos, é extremamente inclusivo e moderno. Ele permite atuação em diversos setores: crédito, agro, transporte, saúde, habitação, entre outros.
As cooperativas capixabas começaram no campo, mas e hoje? Elas já ganharam as cidades?
Sim, o cooperativismo capixaba começou no interior, com cooperativas agropecuárias, como a Selita, que tem 86 anos.
Hoje, essas cooperativas se expandiram para as regiões metropolitanas, especialmente com o segmento de crédito, que agora tem livre admissão para pessoas físicas e jurídicas.
Como a OCB avalia o momento econômico atual do Espírito Santo?
É muito positivo. Esse ambiente atrai investimentos e facilita o desenvolvimento econômico. Apesar dos desafios da reforma tributária, o turismo surge como um setor estratégico e promissor para o Estado.
Nos últimos 24 anos, o Espírito Santo se tornou um modelo de boa governança no Brasil.
Quais são as principais oportunidades para cooperativas no Espírito Santo hoje?
As oportunidades estão no agro, crédito, saúde, habitação, transporte, educação e agora também no turismo, com a criação da primeira cooperativa de turismo do Estado. O turismo tem potencial para ser um vetor econômico muito importante.
E qual o papel da OCB nesse processo?
Atuamos fomentando parcerias e oportunidades entre cooperativas, setores públicos e privados. Trabalhamos para conectar as cooperativas às necessidades de mercado, promovendo capacitação, assessoria e acesso a recursos financeiros.
Falando em recursos, há dinheiro disponível para o desenvolvimento das cooperativas no Estado?
Sim, temos recursos nas cooperativas financeiras, nos bancos estatais e privados. A OCB também auxilia na identificação e intermediação de oportunidades para as cooperativas.
No passado, o cooperativismo enfrentou desafios no Espírito Santo. Como a OCB superou isso?
Criamos a Certificação de Regularidade Técnica (CRT), que monitora e orienta as cooperativas, garantindo governança e práticas éticas. Desde a implementação, nunca mais enfrentamos problemas similares no estado.
Como é a relação da OCB com o governo e instituições públicas?
Temos uma relação republicana e transparente com os governos federal, estadual e municipais, além do Judiciário. Esse diálogo é essencial para mostrar os benefícios do cooperativismo e avançar com nossa agenda, como vimos recentemente na reforma tributária.
Por que essa conversa com entes públicos é importante?
É importante para que o ente público conheça o nosso modelo societário, o cooperativismo, a OCB e os nossos resultados. Mostramos de forma constante para eles e seus assessores, estabelecendo uma agenda de trabalho e diálogo.
Às vezes, as agendas andam em uma boa velocidade; outras vezes, não tão rápido quanto gostaríamos.
Recebemos alguns “nãos” – isso faz parte da democracia –, mas também obtemos “sins” e avanços importantes. Sempre de forma republicana e transparente, o que é essencial.
Hoje, as agendas conseguem avançar no sentido de levar as cooperativas do Espírito Santo ao patamar que elas desejam?
Sim, na maioria das vezes nossas agendas estão avançando muito bem. Um exemplo recente foi a reforma tributária no Congresso Nacional.
Nossa agenda avançou surpreendentemente, mesmo enfrentando poderosos adversários do nosso modelo societário – o que é normal na democracia.
Avançamos na Câmara, mas ainda temos batalhas no Senado para manter conquistas e ajustar pontos importantes, especialmente nos ramos agro e saúde.
Com diálogo nacional e local, aqui no Espírito Santo, temos conseguido avançar.
Quais são os maiores desafios para as cooperativas no Estado?
O maior desafio é o desconhecimento do nosso modelo societário. Grande parte da população ainda não entende o cooperativismo.
Como resolver isso?
Estamos realizando campanhas publicitárias e estudando formas de tornar o cooperativismo mais conhecido.
Não é simples e exige recursos financeiros que não temos disponíveis, mas, com criatividade e parceria das cooperativas, estamos planejando ações mais visíveis para 2025 e 2026.
Por que a população deveria conhecer melhor esse modelo?
Quem conhece o cooperativismo se apaixona. É um modelo societário único, onde você é dono, participa dos resultados e tem um atendimento diferenciado.
No Espírito Santo, muitas conquistas, como a casa própria, vieram do cooperativismo.
Produtos de agricultura familiar, como leite e queijo, chegam à mesa das pessoas graças às cooperativas. É um modelo que transforma vidas e merece ser mais conhecido.
Pela sua experiência, o que o empresário capixaba precisa para aproveitar oportunidades?
Precisa focar em inovação e gestão de pessoas. A inovação é crucial, mas a gestão de pessoas faz a diferença, especialmente para reter talentos.
Sem uma boa gestão, nenhuma empresa, grande ou pequena, prospera no longo prazo.
Isso vale para todos os empresários ou só para cooperativas?
Vale para todos. No cooperativismo, temos nos especializado em gestão de pessoas, e os resultados são reconhecidos, como mostram as pesquisas do GPTW (Great Place to Work).
A OCB oferece formação para empresários e gestores?
Sim, por meio do SESCOOP, nosso braço de capacitação. Ele treina colaboradores e cooperados das cooperativas. Gestão de pessoas, compliance e governança são nossas prioridades.
Por que esses pontos são tão importantes?
Sem uma boa gestão de pessoas e compliance, nenhuma cooperativa avança. Ética, probidade e transparência são pilares fundamentais do nosso crescimento.
Como as lideranças do setor cooperativista podem fazer a diferença?
Com um cooperativismo forte, moderno, inovador e ético. O exemplo das lideranças inspira a base, e isso é crucial para o avanço do modelo.
Você acha que o sistema cooperativista está preparado para a reforma tributária?
Sim, estamos bem preparados. Tivemos embates na Câmara e saímos vitoriosos em muitos pontos, mas a batalha no Senado continua. Precisamos estar atentos para manter as conquistas e avançar em ajustes.
A reforma tributária é positiva?
Sim, é um avanço na simplificação, mas poderia ser melhor se reduzisse a carga tributária e o tamanho do Estado. Mesmo assim, é um passo importante.
Como a OCB define sua agenda com os agentes políticos?
A agenda é definida com as cooperativas estaduais e levada à OCB Nacional. Trabalhamos de forma ética e republicana, dialogando com todos os espectros políticos.
A Comissão Permanente de Cooperativismo na Assembleia Legislativa faz diferença?
Sim, é única no Brasil e tem sido essencial para discutir temas relevantes e destravar pautas importantes.
Sobre benefícios fiscais, como você avalia a questão no Espírito Santo?
Foram essenciais para o desenvolvimento do Estado e outros locais, mas, numa reforma justa, precisam ser eliminados.
O Espírito Santo está preparado para essa transição graças à gestão fiscal exemplar.
Qual o futuro das cooperativas no Espírito Santo?
O futuro é promissor, com desafios e oportunidades. Estamos preparados para avançar com determinação e otimismo.
Carlos André Santos Oliveira, o “Carlão da OCB”, é diretor executivo da OCB-ES
Veja abaixo a entrevista completa: