A indústria de alimentação no Estado é gigantesca. Para se ter ideia, as 10 maiores empresas do segmento movimentaram mais de R$ 4 bilhões em 2023, dado mais atualizado segundo o Anuário IEL das 200 Maiores Empresas.

E é impossível citar essa indústria tão ativa e pujante sem falar da Buaiz Alimentos. É a terceira maior do setor no Espírito Santo, com receita superior a R$ 370 milhões no ano passado. E são 83 anos de história.

Agora, a estratégia é ampliar atuação em outros estados e de avançar no processo de internacionalização. A empresa já ocupa mais espaço nos mercados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais.

Quem está à frente da Buaiz Alimentos há nove anos é Eduarda Buaiz.  Mas, antes, ela já exerceu muitas funções na empresa familiar. Conhece de perto muitos setores, tem o DNA do fundador, o avô Americo Buaiz, e tem a missão de liderar a empresa em um momento em que se projetam voos mais altos da indústria.

Veja abaixo a entrevista completa:

Vem mais crescimento por aí?

Com certeza. Nós já começamos 2024 comemorando grandes conquistas e finalizando o orçamento de 2025 com metas ousadas de crescimento. É uma trajetória de mais de 80 anos do Grupo Buaiz, da Buaiz Alimentos.

O que você viu de mudanças no mercado durante os anos em que está no grupo, considerando também que é um negócio familiar?

Eu tenho 25 anos de grupo, sendo nove anos à frente da Buaiz Alimentos. É algo que vivi desde sempre, porque cresci ouvindo sobre o negócio nas refeições em família. O grupo tem 83 anos de história, o que traz uma grande responsabilidade de continuidade. O que percebo é que a inovação é essencial.

Por exemplo, nos últimos nove anos, fizemos muitas mudanças. Reformulamos nossa marca, que era azul com uma colher de pau, para um design moderno em vermelho. Alteramos embalagens das linhas Regina, Numero 1 e Mistura para Bolo. Lançamos mais de 20 produtos, como farinhas especiais para pizza e pastel, além de farinhas gourmet. 

Na linha de Mistura para Bolo, criamos parcerias, como a com a Flávia Gama, e lançamos produtos inovadores, como brownie e cookies. Na área de café, desenvolvemos a linha Sentidos 100% Arábica e o café Sentidos Caparaó.

Você mencionou inovação e ampliação do mix de produtos. O grupo está em um momento de expansão? O que significa isso?

Sim, nós somos capixabas de coração, mas queremos conquistar outros mercados. Já somos líderes no Espírito Santo e temos uma forte presença no Rio de Janeiro, onde somos líderes em vendas de mistura para bolo. Queremos expandir ainda mais no Rio, além de crescer na Bahia, Minas Gerais e São Paulo.

No âmbito internacional, participamos de feiras em Nova Iorque, Peru e Chicago. Nossa primeira etapa foi avaliar a aceitação dos produtos. Agora estamos prontos para negociar no exterior.

Como a Buaiz Alimentos se preparou para essa expansão e internacionalização?

Começamos a nos preparar em 2017, com investimentos que já ultrapassam R$ 150 milhões. Construímos uma nova fábrica de mistura para bolo, aumentamos a capacidade do moinho, fizemos melhorias na recepção de trigo e adquirimos novos terrenos para silos de armazenamento. Além disso, estar próximo ao porto é uma grande vantagem logística.

O que o mercado do Espírito Santo ensinou e foi útil para dar esse passo?

O maior ensinamento foi equilibrar tradição e inovação. Mantemos a ligação emocional com nossos consumidores, ao mesmo tempo em que oferecemos produtos novos e de qualidade. Essa combinação é o que nos dá a confiança para avançar.

Quando você percebeu que era hora de expandir? 

Já tínhamos uma presença inicial em estados vizinhos como Rio, Bahia e Minas.

Com o aumento da capacidade produtiva, o Espírito Santo ficou pequeno para nossos planos.

 

O sucesso dessa expansão depende muito de planejamento. Como isso é feito?

Planejamento começa com números. Venho da área financeira e sempre digo que tudo começa com um orçamento detalhado e um plano de investimentos. Depois, é essencial investir nas pessoas. São elas que fazem a diferença no processo.

O consumidor internacional tem uma cultura diferente. Como vocês lidam com isso?

Nossa ideia não é mudar a cultura local, mas adaptar nossos produtos ao que já consomem. Por exemplo, o mercado americano já aprecia brownies e cookies. Recentemente, lançamos um brownie para airfryer exclusivamente lá, um produto que foi muito bem aceito.

No Espírito Santo, vocês testam produtos antes de expandir para outros mercados?

Sim, todos os nossos produtos são testados pelos capixabas. Nossa fábrica está aqui, então começamos tudo no Espírito Santo. É o nosso laboratório natural.

Você foi eleita líder empresarial no setor de alimentos, um reconhecimento atribuído pelos próprios empresários do Espírito Santo. O que significa para você esse prêmio?

Para mim, é motivo de muito orgulho. Nossa empresa tem 83 anos e começou com meu avô, um industrial visionário, que deixou um legado até hoje muito lembrado. Meu pai também diversificou o Grupo Buaiz, incluindo comunicação, shopping e, mais recentemente, educação. Minha missão é continuar esse legado com inovação e gestão humanizada. 

Algo que me enche de alegria é termos sido eleitos seis vezes consecutivas pelo Great Place to Work. Fomos reconhecidas como uma das 20 melhores empresas para se trabalhar no Espírito Santo, o que reforça que estamos no caminho certo.

Você mencionou a importância de uma gestão humanizada. Como isso reflete no dia a dia da empresa?

Nós implementamos o “Café com Eduarda”, onde eu converso diretamente com colaboradores de diferentes áreas, sem a presença de gestores.

Essas reuniões geraram ideias incríveis, como o “Wise Tour”, que permitiu que nossos funcionários conhecessem outras unidades do grupo. Pequenas ações como essas fortalecem a percepção de que são as pessoas que fazem a diferença no resultado final.

Essa abordagem gera resultados visíveis na produtividade e no ambiente de trabalho?

Com certeza. Grandes empresas já têm cargos dedicados à felicidade dos colaboradores, e isso não é à toa. Passamos muito tempo no trabalho, então é essencial que o ambiente seja agradável.

Sempre digo que se o colaborador não estiver feliz, deve repensar sua trajetória. Quero que todos tenham a mesma paixão que eu tenho por essa empresa.

Existe algo que você nunca abre mão na sua liderança?

Não abro mão de estar próxima aos colaboradores, de ouvir e aprender com eles.

Liderança é conquistada, não dada. Sempre temos algo a aprender e melhorar.

 

O setor de alimentos é tradicional e majoritariamente masculino. O que significa para você, como mulher, ser reconhecida como líder empresarial?

É desafiador. Ainda há muito a ser feito em termos de igualdade de oportunidades. Em muitos setores, inclusive o nosso, ainda existe machismo.

Já vivi situações absurdas, como em congressos onde ignoraram meu papel de liderança por ser mulher. 

Acredito que precisamos falar sobre isso e abrir portas para outras mulheres. Na Buaiz Alimentos, temos equidade entre homens e mulheres nos cargos de gestão, o que reforça nosso compromisso.

Você precisou adotar uma postura mais dura no início da carreira?

Sim, no início, senti que precisava me masculinizar para provar meu valor. Hoje, após 25 anos, isso mudou. Posso liderar de forma mais leve e feminina, imprimindo um toque diferenciado na gestão.

Você foi a primeira mulher da família a ocupar um cargo de direção. Como foi esse processo?

Nossa família tem raízes libanesas, onde os homens tradicionalmente lideravam os negócios. Fui pioneira ao abrir esse caminho, o que exigiu muita dedicação e foco.

Quando me formei na PUC, recebi uma oferta de trabalho no Rio, mas meu pai me chamou de volta e me deu uma oportunidade no grupo.

Foi o início da minha trajetória, que começou na área de comunicação e, posteriormente, evoluiu para cargos de maior responsabilidade.

Como é ser gestora em uma empresa familiar, em um grupo tão grande? Como é isso para você?

Eu lido muito bem. Quando falamos de oportunidade, tive a oportunidade de crescer, mostrar meu valor e olhar para frente com a missão de garantir que essa empresa viva mais 83 ou 100 anos. 

O desafio é identificar o que precisamos fazer para que isso aconteça. Grupos familiares que resistem por tanto tempo são poucos. Muitos acabam sendo vendidos ou simplesmente encerram porque as novas gerações não têm interesse em continuar.

Como você se policia para que isso nunca aconteça?

Em primeiro lugar, é essencial ser profissional. Você não pode perder a visão de liderança e gestão. É necessário investir em inovação, nas pessoas que trabalham com você e nos novos produtos.

Não adianta alcançar reconhecimento e parar de olhar para frente. A missão de dar continuidade à empresa exige um trabalho constante.

Como você acha que uma gestora nessa posição precisa se preparar? Que dicas você daria para um gestor enfrentar o mercado atual?

O primeiro ponto é a formação técnica. No meu caso, em 2016, precisei assumir novas responsabilidades e fui buscar especialização na Suíça, em moagem de trigo, para compreender toda a cadeia, do campo ao produto final. 

Para liderar, você precisa saber do que está falando.

 

Além disso, o exemplo arrasta, e o aprendizado constante é fundamental. É importante ouvir pares e gestores para traçar o melhor caminho.

Você acha que as mulheres precisam se esforçar mais hoje para se destacar no mercado?

Não acho que as mulheres precisam de formação melhor para conseguir emprego. Isso seria uma visão machista. Nós já somos a maioria nas universidades. A questão é a falta de oportunidades. 

Onde estão as líderes femininas? Muitas vezes, elas não recebem chances devido a preconceitos, como a ideia de que a maternidade pode afetar o desempenho. Sou mãe de dois filhos e sou presente, dando conta de tudo.

O que tem da Eduarda à frente da Buaiz Alimentos?

O amor pelo que faço, a paixão pelo trabalho e a proximidade com nossos funcionários. O sentimento de pertencimento que eles têm é raro, com muitos trabalhando aqui há décadas.

Também há minha escuta ativa, vontade de fazer mais e melhor, e meu compromisso em fazer a diferença na vida das pessoas.

Que marca você quer deixar?

De ter feito a diferença na vida das pessoas. Isso é o que me move.

Como se faz a diferença na vida das pessoas?

Através da postura, da liderança, das oportunidades que ofereço. O líder pode fazer muito e sempre há espaço para fazer mais.

Onde você quer chegar?
Não penso muito sobre isso. Não tenho a ambição de que “o céu é o limite”. Se continuar fazendo o que faço da forma como faço, já sou e serei muito feliz.

Eduarda Buaiz é vice-presidente e presidente do Conselho na Buaiz Alimentos

Veja abaixo a entrevista completa em vídeo:

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