Um porto conhecido e reconhecido internacionalmente pela eficiência no embarque de celulose, do Espírito Santo para o mundo, que se remodelou e diversificou. São outras cargas e mais visão de futuro.
Portocel fica em Barra do Riacho, Aracruz, é reconhecido por sua eficiência operacional e agora está preparado para importação e exportação, longo curso e cabotagem. E são as mais diversas cargas: automóveis (principalmente elétricos), café, produtos do agro, granéis e operações de óleo e gás. Foi um movimento de diversificação que começou em 2019.
O porto opera mais de 300 navios e movimenta mais de 9 milhões de toneladas de carga que chegam à Ásia, Europa e América do Norte. Com o Brasil, a ligação de Portocel é pelas BR-101 e 262 e ainda via estrada de ferro Vitória-Minas. Um ramal chega diretamente ao porto.
Com tantas possibilidades, Portocel ocupa um lugar de destaque na malha portuária do ES. E à frente da operação está o gerente executivo Alexandre Billot Mori. Formado em Ciências Contábeis, está na Portocel há quase 20 anos e já prepara para dobrar de tamanho nos próximos 10 anos.
Veja abaixo a entrevista:
Portocel está preparada para o boom logístico que a gente vive hoje no Estado? Qual o papel do porto nesse contexto econômico?
Respondendo de forma objetiva, sim, a Portocel está preparada para esse momento que o Espírito Santo está vivendo e que o setor demanda. Desde 2019, antes mesmo desse cenário atual, já vivíamos essa condição de demanda e uma necessidade de capacidade portuária que estamos materializando agora.
Por isso nos preparamos, ressignificando e transformando o nosso negócio em um porto aberto às oportunidades.
Como foi a decisão de deixar de ser um porto exclusivo para celulose e diversificar para atender outros setores?
Essa decisão foi fruto de uma grande discussão interna e de análises de mercado. Desde a sua fundação em 1978, Portocel estava conectada à cadeia logística de escoamento de celulose, acompanhando o crescimento das plantas industriais no Sul da Bahia e no Espírito Santo.
Mas em 2019, percebemos que o escoamento em grande escala de celulose não seria mais tão frequente no curto prazo. Assim, apresentamos aos acionistas uma proposta para transformar o porto em um negócio mais diversificado, atendendo às demandas de outros setores.
Quais produtos se tornaram o foco da Portocel após essa diversificação?
Hoje, além de celulose, movimentamos rochas ornamentais, produtos siderúrgicos, automóveis, café, peças offshore e outras cargas compatíveis com nossa infraestrutura. No futuro, acreditamos que o agronegócio, especialmente a movimentação de grãos, se tornará um dos principais focos.
O aumento da produção agrícola no Brasil e a necessidade de escoamento eficiente tornam esse setor uma grande oportunidade.
O que precisa ser feito no Espírito Santo para que o complexo portuário atenda às demandas futuras?
Já estamos vendo muitas iniciativas positivas, como obras de infraestrutura, rodovias e ferrovias em desenvolvimento. Exemplos incluem os contornos norte e sul de Aracruz, o Contorno do Mestre Álvaro, além de renovações na malha ferroviária.
Também é essencial que o setor privado e os órgãos públicos continuem colaborando para implementar soluções estratégicas e garantir a competitividade logística da região.
Qual a importância da inovação no setor portuário, especialmente na Portocel?
A inovação é essencial para transformar e tornar o setor portuário mais competitivo. Em Portocel, implementamos soluções como o calado dinâmico, que mede em tempo real a profundidade da água, e um spreader automático patenteado que revoluciona o carregamento de celulose.
Também estamos desenvolvendo um veículo autônomo que será pioneiro na América Latina, além de sistemas de visão computacional para monitoramento de 100% do porto. Essas iniciativas combinadas tornam Portocel um exemplo de inovação disruptiva.
Quando veremos esses veículos autônomos em operação?
Esperamos que em 2025 já possamos ver esses veículos em operação. O projeto está bastante maduro e é desenvolvido em parceria com empresas capixabas, o que nos orgulha muito.
Quais os principais desafios de integração entre os portos do Espírito Santo e as malhas rodoviárias e ferroviárias?
Precisamos modernizar e ampliar as ferrovias, como a FCA, e melhorar a malha rodoviária com duplicações e áreas de apoio. Uma conexão eficiente entre porto, ferrovia e rodovia é fundamental para trazer competitividade.
Projetos como os contornos norte e sul de Aracruz e melhorias nas BRs 101 e 262 são cruciais para garantir que o Espírito Santo se consolide como um hub logístico.
O governo criou o programa estruturante ParklogBR/ES, focado na melhoria das vias de acesso e na revitalização da região Norte do Estado. Como você acredita que isso pode impactar o escoamento de cargas e o desenvolvimento de portos como Portocel?
Primeiro, acredito muito em iniciativas estruturadas como essa. Quando todos os stakeholders se reúnem estrategicamente para pensar no futuro e capturar oportunidades, temos tudo para um case de sucesso.
Não conheço no Brasil uma iniciativa com esse modelo, que une visões de futuro, desenvolvimento e a necessidade de avanço, não apenas para o Espírito Santo, mas também para outras regiões.
O ParklogBR/ES vai além de melhorar conexões e infraestrutura. É preciso um plano de desenvolvimento e zoneamento de mobilidade. Devemos combinar esforços do setor produtivo, sociedade civil e governos para acelerar processos, como licenciamento ambiental e implantação de projetos. Essa é uma oportunidade que não podemos perder.
O Parklog tem potencial para ser um exemplo de sucesso logístico e portuário, posicionando o Espírito Santo de forma diferenciada em relação ao país e ao mundo.
Você fala muito sobre olhar para o futuro, mas gostaria que fizesse um exercício de olhar para o passado. Desde que você entrou no setor portuário, em 1999, o que mudou até hoje?
Mudamos a forma como qualificamos e enxergamos resultados. Antes, as atividades dependiam muito de esforços braçais. Hoje, temos equipamentos semiautomáticos e gestão baseada em inteligência de dados, exigindo profissionais mais capacitados.
O setor também aprendeu a dialogar melhor e a buscar soluções colaborativas. Percebemos que o porto é um meio, não um fim, e que precisamos de conexões e regulações ágeis. Isso fica claro com iniciativas como o ParklogBR/ES, que demonstram como o setor evoluiu e se modernizou.
Falando de qualificação, como está o cenário no setor portuário? E como Portocel lida com o “apagão de mão de obra” que ocorre no Espírito Santo?
Não é diferente no setor portuário, mas em Portocel adotamos uma abordagem diferente desde 2019, quando decidimos ressignificar nossa estratégia. Identificamos que a complexidade crescente exigiria profissionais qualificados e engajados.
Então, decidimos investir internamente em treinamento e qualificação, promovendo alianças e parcerias. Nosso foco é encontrar profissionais alinhados aos valores da empresa e capacitá-los para o nosso negócio.
Por exemplo, criamos programas de desenvolvimento para diferentes níveis da organização, incluindo projetos para qualificação de mulheres como operadoras. Isso fortalece a inclusão e a diversidade. Nosso lema é ajudar e ensinar quem deseja crescer conosco.
Como é a relação da Portocel com os governos federal, estadual e municipal?
Sempre adotamos um diálogo aberto e propositivo, com responsabilidade. Apontamos dificuldades, mas também propomos soluções. Tivemos uma conexão forte com o município durante a pandemia, por exemplo, e isso ajudou a transformar a empresa.
Também participamos de iniciativas como o ParklogBR/ES e o Movimento Empresarial Espírito Santo em Ação, sempre buscando promover o desenvolvimento de forma responsável e sustentável.
A segurança jurídica é frequentemente apontada como um diferencial do Espírito Santo. O que você acha?
A segurança jurídica é um fator que atrai grandes investimentos para o Estado. Desde os anos 2000, houve um reposicionamento em direção à responsabilidade fiscal e ao desenvolvimento sustentável.
Mesmo com desafios como a reforma tributária, o Estado tem buscado soluções criativas, como a aposta em logística, para se reposicionar e manter sua competitividade.
Como os empresários do setor logístico devem se preparar para aproveitar as oportunidades?
Planejamento é fundamental. É preciso refletir sobre o futuro, mesmo sem poder prevê-lo, e preparar uma cesta de ações para momentos de dificuldade.
Na Portocel, desde 2019, nos planejamos para expandir além do Espírito Santo. Já estamos operando em Santos e pensando em novos passos. Nosso objetivo é sermos reconhecidos nacionalmente pela nossa expertise e crescimento sustentável
Olhando para 2035, vislumbramos uma Portocel maior, desenvolvida e orgulhosa de sua evolução.
Como as lideranças empresariais podem fazer a diferença no ES?
Precisamos continuar desenvolvendo lideranças com visão sistêmica, que compreendam o impacto de suas decisões no tempo e no espaço. Fóruns como o Espírito Santo em Ação e os projetos de formação de jovens líderes têm um papel fundamental.
Além disso, é essencial que as lideranças sejam humanas e promovam um ambiente positivo, que inspire, conecte e transforme as pessoas.
Como isso vai acontecer?
Para mim, será através da combinação de políticas públicas e privadas que conseguem destravar e capturar todas essas possibilidades.
Precisamos pensar em como combinar o setor produtivo com a sociedade civil e em como destravar e acelerar os processos de licenciamento e implantação. Tudo isso, trazendo uma reflexão para todos os stakeholders e agindo de forma ágil, porque não podemos nos permitir perder essa oportunidade.
Como você avalia o impacto dos benefícios fiscais?
Benefícios fiscais são importantes como uma condição de transição, mas não podem ser eternos. O exemplo do Fundap no Espírito Santo é uma boa referência, pois ele trouxe infraestrutura logística que deixou um legado.
Negócios precisam ser sustentáveis sem depender de benefícios fiscais permanentes, e é essencial que esses incentivos sejam utilizados para promover o desenvolvimento estrutural e não apenas vantagens de curto prazo.
Fazendo um exercício de futurologia, como será a Portocel do futuro?
Onde tiver celulose no Brasil, a Portocel quer estar. Mas hoje, o porto não é só de celulose. Não tem o “ou”, é o “e”. No Espírito Santo, especificamente em Barra do Riacho, Portocel vai dobrar de tamanho em 10 anos.
A Zona de Processamento de Exportação é uma possibilidade para Portocel?
Sim. Uma ZPE atende a toda uma região. As opções estão disponíveis. A zona de processamento pode ter a instalação de indústrias, exportação ou importação. Vai depender muito da vocação ou expertise de cada porto.
Olhando para aquela região de Aracruz, de forma geral, vejo retroárea, complexo portuário, um já existente e outro em construção. Falando especificamente da Portocel e da Imetame, em construção, é fato que o porto vai sair.
Eu fico orgulhoso, enquanto capixaba, de ter uma empresa capixaba entregando esse investimento, mesmo em uma condição de incerteza.
Alexandre Billot Mori é gerente executivo da Portocel
Assista abaixo a entrevista na íntegra: