Entrevista de Domingo

Antonio Toledo: "Não existe empresa forte em ecossistema fraco"

CEO da Timenow, uma das maiores empresas de gestão de projetos do país, exalta ambiente de negócios no Estado. Além disso, destaca a importância da inovação e da gestão de pessoas para tocar os negócios.

Para Antônio Toledo, é preciso apostar na inovação sem deixar de olhar para as pessoas. Crédito: Reprodução de TV
Para Antônio Toledo, é preciso apostar na inovação sem deixar de olhar para as pessoas. Crédito: Reprodução de TV

A execução de grandes projetos industriais sempre desperta expectativa. O anúncio de investimentos bilionários e a geração de milhares de empregos geram entusiasmo. Porém, entre planejamento e realidade há uma distância. 

Projetos ligados, por exemplo, à siderurgia, mineração e à indústria de celulose demandam não apenas recursos financeiros, mas também profissionais altamente qualificados, bem como uma gestão eficiente para garantir que tudo saia conforme o esperado.

A Timenow é uma empresa capixaba, especializada em gestão de projetos. E com experiência em iniciativas de grande porte. Com 29 anos de atuação e presença em cinco países, a empresa já executou mais de 15 mil projetos para clientes de peso, como Vale, ArcelorMittal, Suzano, EDP e Braskem. 

Com esses números, a empresa se consolida como uma das maiores empresas de engenharia consultiva do Brasil. O CEO da empresa, Antonio Toledo, acredita que a inovação é a chave para se manter no topo do mercado. E mais do que ser referência, a empresa quer ser cada vez mais global.

Veja abaixo a entrevista com o CEO da Timenow, Antônio Toledo:

Como uma empresa como a Timenow pode surgir no ES?

A gente às vezes se esquece de algumas condições que são muito boas para o empreendedor aqui no Espírito Santo, principalmente para o empreendedor que olha para a cadeia industrial. O Estado, apesar de ser pequeno, tem empresas gigantes há muito tempo, como a ArcelorMittal, antiga CST, Vale, Suzano, antiga Aracruz, Samarco, Petrobras, dentre outras grandes indústrias. 

Isso permitiu que a Timenow, há 29 anos, pudesse trabalhar para essas empresas, que são algumas das maiores do Brasil e do mundo. Esse ecossistema, ainda que dentro do Estado, foi nos dando musculatura. Foi dando entendimento das melhores práticas de gestão de projeto, de engenharia, e com o passar do tempo isso nos qualificou para atuar também fora do Estado.

Hoje atuamos em mais de 15 estados do Brasil, somos  2.500 colaboradores, engenheiros, engenheiras, técnicos, analistas, uma mão de obra extremamente qualificada. Certamente esse ambiente industrial do Espírito Santo, lá atrás, há quase 30 anos, foi o que permitiu aos nossos fundadores se desenvolverem e criar a musculatura para a gente estar hoje no Brasil todo e até fora do país.

O que o ambiente ensina para o dia a dia?

Sem dúvida nenhuma, ensina muito. E eu acho que essa é uma dica para todos os empreendedores que estão começando: trabalhar com parceiros de excelência, com empresas que te estimulam a desenvolver e a adotar as melhores práticas. Isso cria uma base muito forte para as empresas. 

Na medida em que você trabalha, por exemplo, para a Suzano ou para a Vale, você está convivendo com as melhores práticas dentro de um ambiente industrial gigante. São empreendimentos que permitem o desenvolvimento do fornecedor. 

Quando você se predispõe a estar com os melhores, é natural que, com o tempo, você também se torne um dos melhores naquilo que faz.

Quando você está com os melhores, com o tempo se torna um deles

Como você vê o ambiente institucional do ES hoje?

Se não fosse um ambiente institucional muito mais seguro, maduro e estruturado, empresas como a Timenow talvez não tivessem se desenvolvido da forma que se desenvolveram. Isso nos leva a refletir sobre como podemos construir um país mais positivo para os negócios. 

Um estado onde o crime organizado tem uma participação ativa pode inibir investimentos, já que os investidores buscam segurança pública e institucional.

No Espírito Santo, temos um ambiente institucional saudável, um estado superavitário e um Fundo Soberano que investe em negócios. 

Além disso, temos o Bandes, que fomenta empreendimentos. Essa é uma condição que viabiliza o crescimento dos negócios aqui.

O que significa ter “impacto positivo” e ser relevante, global e digital até 2030?

Para nós, relevância significa aumentar cada vez mais a capacidade de criar um impacto positivo na sociedade. Não buscamos ser os maiores, mas sim a empresa que, de forma relevante, gere impacto positivo. 

A Timenow é uma das fundadoras do Base 27, que contribui para que o Espírito Santo seja um dos estados mais inovadores do Brasil. Para nós, impacto positivo significa fazer com que o ambiente em que estamos evolua. 

Não existe empresa forte em ecossistema fraco. Se o ecossistema não for forte, ele acabará comprometendo o desempenho da empresa.

Qual o impacto da inovação para o negócio?

Nascemos prestando serviço de forma diferenciada, estruturando paradas industriais de maneira inovadora. Com o tempo, estruturamos processos para transformar a inovação em alavanca de crescimento. 

Hoje, desenvolvemos mecanismos que permitem florescer ideias, que depois são implantadas e executadas. Nesse sentido, até mesmo em movimentos de intraempreendedorismo.

Somos muito pragmáticos: inovação só tem valor se o cliente percebe e se melhora o negócio. Caso contrário, é apenas firula.

Você falou de pragmatismo. Isso não entra em conflito com inovação?

Esse é um ponto que precisamos desmistificar. Fizemos parcerias com instituições como a Fundação Dom Cabral, que reforça que inovação precisa gerar valor. O processo inovador pode levar tempo e exigir ajustes, mas, no final, deve criar um resultado positivo. 

Se a inovação não estiver inserida na estratégia da empresa, ela se torna algo apartado, sem contribuição real para o negócio.

Como você vê a pauta ESG?

Nos grandes empreendimentos, é impossível dissociar o projeto da pauta ESG. Indústrias de mineração, siderurgia, petroquímica, papel e celulose, entre outras, causam impacto. A abordagem ESG busca mitigar esses efeitos. O mundo hoje não permite projetos industriais sem conexão com ESG. O que estamos vendo é a necessidade de trazer pragmatismo para essa pauta. 

O custo do capital está alto no Brasil e no mundo, o que exige que os negócios equilibrem sustentabilidade e viabilidade econômica. Antes de ESG, falávamos em sustentabilidade, um termo mais compreensível. 

Precisamos entender que os negócios dependem do mundo e vice-versa. Nesse sentido, isso cria uma dinâmica sustentável de longo prazo. Se conseguirmos enxergar dessa forma, o impacto será muito mais efetivo do que apenas seguir modismos de terminologias corporativas.

Qual deve ser o papel de uma liderança em relação à transparência?

Eu acho que essas coisas não estão dissociadas. Eu acredito, e isso faz muito parte dos valores da Timenow.  Negócios que não têm o entendimento da importância do compliance, de transparência, são negócios que não serão sustentáveis no longo prazo. E a gente viu um pouco disso na Operação Lava-Jato.

Eu acho que quando a gente busca atalhos, mecanismos que às vezes trazem um resultado de curto prazo, certamente isso não será sustentável a longo prazo. Os fundadores da Timenow, Francisco e Sérgio, têm uma história que eu peguei um pouco pra mim. Quando eles foram fundar a Timenow, mais lá atrás, para você fundar uma empresa, você tinha que ir ao despachante para te ajudar com toda a parte burocrática. Hoje, aqui no Espírito Santo, tá bem mais fácil fazer isso. 

O despachante, o contador, virou para eles e falou assim: “Como é que vocês vão querer trabalhar? Vai ter por fora, vai ter por dentro, vai ser tudo por fora?” Naquela dinâmica do que passa no caixa, do que é a caixa dois. E que provavelmente era uma conversa que acontecia com todas as pessoas que estavam abrindo o negócio. 

Francisco e Sérgio não tiveram dúvida: nós vamos construir um negócio 100% por dentro, por mais difícil que isso seja no começo. E talvez, não à toa, a gente tenha hoje 29 anos. 

Eu acho que a sustentabilidade também faz parte de ser sustentável com as boas práticas no seu negócio, ter compliance, seguir as leis, seguir os rituais. Eu costumo dizer: a lei tá muito difícil, a lei é contra o empreendedor. 

O ambiente para mudar isso é a urna. Votar melhor na próxima eleição e depois cobrar de quem você votou que ele crie um ambiente legal, mais favorável ao negócio, e não de andar à margem da lei.

Como você lida com a carência de profissionais? Vocês vivem isso?

A gente vive em alguma medida. Como empresa, a gente tem cada vez mais tentado se tornar uma boa marca empregadora. 

A Timenow tem um posicionamento muito forte nas redes sociais. O próprio escritório fica lá no prédio do Hub Base27 e é um muito mais para fomentar as interações do que aquele escritório clássico. Costumo dizer que a gente chama lá de Future Now. É muito mais um ponto de encontro e de colaboração. 

A gente tem práticas de desenvolvimento de liderança, práticas de desenvolvimento dos nossos colaboradores no nível mais de especialista e técnicos. 

Tudo isso forma, desenvolve a mão de obra e deixa a empresa mais atrativa. Isso no ambiente micro, que é o que a gente pode fazer sem depender de ninguém. Porém não é suficiente. Mesmo fazendo tudo isso, em alguns momentos a gente tem dificuldade de achar talento. 

De forma um pouco mais coletiva, principalmente com alguns clientes, a gente tem tentado desenvolver alguns programas de planejadores com a Suzano, com a Braskem. Tem um projeto que a gente desenvolve com a Veracel, lá no sul da Bahia, que envolve também a comunidade. No entanto, no fim do dia, esse problema é um problema estrutural.

Se o poder público não vier com a gente, com o papel de formar uma mão de obra cada vez melhor classificada, qualificada, isso vai virar um gargalo para o Brasil. E eu acho que a gente está muito próximo desse momento.

Você já viveu a situação de não conseguir pegar um projeto ou ter dificuldades por falta de mão de obra?

Não, no limite dessa situação nós não vivemos. Eu costumo dizer que a mina da Timenow são as pessoas e a capacidade de a gente atrair talentos, desenvolver e estimular a evoluírem. É uma coisa que a gente investe muito. 

A gente tem algumas dificuldades em algumas regiões geográficas, mas isso ainda não é um limitador para os projetos.

Qual o pulo do gato para ter sucesso em 29 anos de existência?

Ainda que investimos muito em inovação, em tecnologia, em gestão do conhecimento, essas coisas são importantes. No entanto, eu diria que a condição essencial não é essa. 

A condição essencial e fundamental para o sucesso do negócio da Timenow está nas pessoas, está no jeito que a gente se relaciona com os nossos colaboradores. 

O sucesso está na cultura que foi criada desde a origem da empresa. 

Como você vê a empresa no futuro?

Nós temos um plano muito bem estabelecido que a gente chama de Plano 2030. O objetivo, como eu disse, é ser cada vez mais relevante, gerando um impacto positivo maior cada vez para a sociedade, nos tornarmos globais. Nesse sentido, a gente já está nos Estados Unidos, a gente já está também iniciando o desenvolvimento de negócios na Europa.

Antonio Toledo é CEO da Timenow

Veja abaixo a entrevista completa: