O mercado de tecnologia sorri para o Espírito Santo e aqui grandes empresas surgiram e ganharam o mundo. A varejista Wine, maior e-commerce de vinhos da América Latina, por exemplo. O PicPay foi uma fintech que começou aqui no Espírito Santo. O Will Bank, mais uma fintech da área de tecnologia que começou também no Estado. Todos eles começaram aqui, mas atravessaram fronteiras.
Já ouvimos até que o Espírito Santo tem potencial para ser um “Vale do Silício brasileiro”. Tem muita gente que acha que isso é exagero, mas fato é que o ambiente é favorável ao desenvolvimento de empresas, também de tecnologia no Estado.
É assim que pensa Fabrício França Lima, idealizador da Power Tuning, uma empresa especializada em gerenciamento de bancos de dados e no desenvolvimento de novos produtos.
“Para nós, de TI, qualquer segmento apresenta oportunidades”, afirma.
Fabrício é da área de tecnologia, trabalhou 10 anos na área financeira de um grande grupo varejista do Estado e, de repente, resolveu empreender.
Há mais ou menos dez anos, começou a prestar serviços na área de gerenciamento de dados e hoje está bem perto dos mil clientes, alguns deles gigantes nacionais como Magazine Luiza, Centauro, Ambev, Grupo Havaianas e outros.
Veja abaixo a entrevista com Fabrício França Lima
Como uma empresa como a Power Tuning pode surgir num ambiente como o que o Estado do Espírito Santo oferece hoje?
A Power Tunning surge, assim como outras empresas no Estado, a partir dos profissionais que estão nelas. Temos aqui várias pessoas que são referências, profissionais muito bons.
No meu caso, consegui me destacar na minha área há algum tempo. Trabalhei por 10 anos no Grupo Dadalto, que tinha uma estrutura sólida, e fui me desenvolvendo. Publicava meus trabalhos, e isso me tornou conhecido em todo o Brasil.
A confiança que as empresas passaram a ter em mim me permitiu abrir uma consultoria e prestar serviços remotamente. Isso foi há 10 anos, numa época em que o conceito de home office ainda era pouco difundido. Mesmo assim, conseguimos montar uma empresa 100% remota, algo que hoje é comum, mas era pioneiro na época.
Trabalhar com tecnologia pode ser algo difícil de entender para o público em geral. O que significa isso exatamente e por que o seu trabalho faz diferença?
Tecnologia é algo muito amplo. Muitas vezes, as pessoas acham que quem trabalha com tecnologia sabe consertar computadores ou resolver qualquer problema técnico. Mas a área é dividida em várias especializações: desenvolvimento, infraestrutura, banco de dados, análise de dados, entre outras.
Eu comecei na área de banco de dados como estagiário. Desde então, decidi me especializar e me tornar referência nessa área. Hoje, a Power Tuning atua principalmente em duas frentes: o monitoramento e a otimização de bancos de dados.
Toda empresa possui um sistema que registra dados, como os de uma venda em uma loja, por exemplo. Essas informações são salvas em um banco de dados, e se ele não estiver funcionando bem, a empresa pode perder vendas.
A Power Tuning ajuda a manter esses bancos rápidos e disponíveis. Por isso, grandes empresas como Magazine Luiza, Centauro, Marisa, Havaianas e muitas outras confiam em nós.
Você mencionou grandes empresas como Magazine Luiza e Grupo Havaianas. Qual é o peso de atender empresas desse porte?
Atender grandes empresas, como o Grupo Magalu, são desafiadoras, porque elas possuem diversas áreas internas, cada uma com demandas específicas.
Nós, por exemplo, trabalhamos com o setor administrativo deles, oferecendo suporte especializado. Nossa função é complementar o time interno, e isso exige excelência técnica.
Sem uma área comercial estruturada até recentemente, como essas grandes empresas chegaram até ao seu negócio?
Elas nos encontraram por meio de indicação e da nossa presença online. Sempre mostramos nosso trabalho com conteúdos, podcasts e lives.
A qualidade e a confiança que geramos no mercado levam os clientes a nos recomendarem. É o nosso histórico que fala por nós.
Como você vê o cenário para empreender no Espírito Santo?
Certamente está melhor do que há 10 anos. Na época, sair de uma posição de liderança na empresa onde eu trabalhava, para empreender, foi assustador, mas me preparei financeiramente e já tinha clientes.
Hoje, o Estado oferece mais oportunidades, com muitas empresas de TI surgindo e profissionais de referência empreendendo. Além disso, a área de TI tem a vantagem de ser escalável e não exigir um capital inicial tão alto quanto outros setores.
E quanto ao ambiente de negócios no Espírito Santo? O que você percebe de diferente?
O ambiente está crescendo. As empresas estão investindo mais em TI, há grupos de gerentes de tecnologia se reunindo e fornecedores se unindo para fortalecer o mercado local. Isso cria um ambiente promissor.
A Power Tuning, por exemplo, está expandindo sua atuação no Estado para a área física, mesmo tendo nascido com foco remoto.
Quais são as principais oportunidades no Estado atualmente?
Há muitas áreas promissoras, como o Porto da Imetame, por exemplo, que vai gerar grande movimentação. O turismo, que ainda pode ser muito explorado, e a logística. Tudo isso, de alguma forma, vai demandar tecnologia. Para nós, de TI, qualquer segmento oferece oportunidades.
E você está preparado para esse crescimento?
Estamos nos preparando ativamente. Criamos a Universidade Power Tuning para formar nossos profissionais desde o básico. Essa é a forma de garantir que estamos prontos para atender a demanda do mercado.
Como você se alinha às necessidades de mercado?
Estamos sempre nos alinhando ao mercado conversando diariamente com os clientes. A empresa começou com foco em monitoramento de um banco de dados específico, o SQL Server, mas o mercado foi pedindo mais.
Com isso, expandimos nosso leque de opções para ajudar os clientes, mas sem perder a qualidade. Na nossa empresa, cada área tem uma pessoa referência no assunto, garantindo excelência no atendimento.
Nosso foco é sempre ouvir as dores dos clientes e nos adaptarmos às mudanças de maneira estratégica.
O que falta para o empresário capixaba?
Na minha opinião, faltam mais eventos, incentivos e treinamentos locais. Muitas vezes, precisamos ir a São Paulo para participar de feiras e cursos importantes. Trazer mais oportunidades como essas para o Espírito Santo ajudaria a fomentar o crescimento dos empresários locais.
Como você vê o mercado de tecnologia no Espírito Santo?
O mercado de tecnologia ainda parece distante do público em geral, mas isso não é exclusivo do Espírito Santo, é uma percepção em todo o Brasil. O que falta é educação sobre o que é TI e suas possibilidades.
TI não é uma bolha, é uma oportunidade. É o presente e continuará sendo o futuro
Profissionais de TI que se dedicam podem crescer rápido, mas precisam ser muito bons em suas áreas específicas.
A demanda por profissionais capacitados continua alta, e o mercado segue crescendo, especialmente com inovações como inteligência artificial.
Existe um “apagão de mão de obra” na área de TI no Espírito Santo?
Sim, há uma dificuldade para encontrar bons profissionais em TI, assim como em outras áreas. O que muitas empresas estão fazendo, inclusive nós mesmos, é formar novos talentos. Isso gera oportunidades para quem está começando, seja com formação técnica ou autodidata.
Na área de dados, por exemplo, há diversas especializações: administradores de banco de dados, engenheiros de dados, analistas de dashboards, entre outros.
O segredo é ser muito bom em uma área específica para conquistar uma vaga e, depois, expandir o conhecimento.
Os salários em TI são realmente atrativos?
Os salários em TI podem ser muito atrativos, especialmente para profissionais referência na área.
Muitos estão conseguindo empregos no exterior, recebendo em dólar, o que torna os rendimentos muito altos comparados à média brasileira. No entanto, alcançar esse nível exige dedicação, estudo e prática.
Existe dinheiro para o desenvolvimento de empresas de tecnologia no ES?
O mercado de startups cresceu bastante no Estado, com hubs como Fonte, Base 27 e o Hub de Linhares. Apesar disso nós, da Power Tuning, nunca buscamos investimentos externos. Crescemos de forma orgânica.
Hoje participamos de hubs para expandir nossa rede de contatos e fortalecer nossa presença local, mas investir em outras startups não está nos nossos planos no momento.
Quais são os maiores desafios do Espírito Santo hoje?
Segurança é o maior desafio. O Espírito Santo tem clima bom, praias lindas e muita qualidade de vida, mas a questão da segurança precisa ser resolvida para atrair mais pessoas e empresas.
E na sua área, qual é o maior desafio?
O maior desafio é se reinventar constantemente.
O mercado de tecnologia muda muito rápido, e é preciso estar preparado para o próximo passo antes que o atual modelo de negócios fique obsoleto.
Por isso, estamos sempre analisando tendências e desenvolvendo novos produtos, com a ajuda de um time capacitado e motivado.
Como um empresário pode desenvolver o “olhar do dono” nos funcionários?
Na área de TI, é mais fácil criar essa mentalidade, pois os profissionais conseguem ver o impacto direto do trabalho deles na empresa.
É importante dar espaço para que os funcionários empreendam internamente, oferecendo participação nos lucros e incentivando ideias. Isso gera engajamento e senso de pertencimento.
Que tipo de qualificação o empresário capixaba precisa para aproveitar as oportunidades?
É fundamental ter conhecimento sobre todas as áreas de uma empresa, como financeiro, jurídico, administrativo e vendas.
Quando comecei, precisei aprender muitas coisas sozinho, mas se tivesse buscado essa qualificação antes, poderia ter crescido mais rápido.
Hoje há mais cursos e oportunidades, e o empresário precisa aproveitar isso para pensar de forma estratégica e evitar erros no caminho.
O que a dinâmica atual do mercado exige de profissionais bem sucedidos?
O mercado exige duas coisas principais: habilidades pessoais, como boa comunicação e capacidade de trabalho em equipe, e habilidades técnicas específicas.
O profissional precisa se destacar na área que escolheu, estudar o que os melhores do mercado estão fazendo e buscar se especializar para alcançar o sucesso.
Como você acredita que as lideranças empresariais podem fazer a diferença no ES?
Gerando emprego. As lideranças podem fazer suas empresas crescerem, buscando qualificação profissional e oportunidades externas.
Quanto mais empregos gerarmos, mais ajudaremos as pessoas ao nosso redor, aumentaremos a receita e promoveremos renda. Esse é um dos melhores caminhos para impactar positivamente.
Com o avanço da reforma tributária, sua empresa pode ser uma solução para outros negócios?
Sim, principalmente porque trabalhamos com dados. Entregamos informações detalhadas sobre o que as empresas vendem, de onde vêm seus dados e o que precisam melhorar. Isso pode ajudar os gestores que não têm uma visão ampla do negócio.
Você acha que a política pode atrapalhar os negócios?
Pode, especialmente com mudanças constantes. Isso afeta o planejamento das empresas. Por exemplo, você se prepara para um cenário e, de repente, tudo muda.
No setor de tecnologia, isso ainda não foi tão sentido, mas alterações na carga tributária, por exemplo, podem impactar contratações e expansões.
O Espírito Santo tem potencial para ser um polo tecnológico, um “Vale do Silício brasileiro”?
Tem potencial, mas precisa investir na qualificação profissional para atender à demanda. Embora o mercado de TI seja global, benefícios e incentivos podem atrair mais empresas para o Estado. Porém, quem já está aqui vai continuar entregando produtos e serviços de qualidade com ou sem incentivos.
Você acredita que o Espírito Santo tem estrutura para isso?
Sim. Temos qualidade de vida, boas faculdades e profissionais capacitados. A infraestrutura e os eventos locais, como o ESX, mostram que o Estado tem condições de atrair e sustentar negócios de tecnologia. O governo é um facilitador e não um bloqueador.
Como garantir que um investimento em TI traga retorno no longo prazo, considerando as rápidas mudanças do setor?
Acompanhamento e gestão. Diferente de imóveis, por exemplo, TI exige reinvenção constante. Investidores geralmente entram, acompanham e mudam seus aportes à medida que as startups evoluem. Para um retorno de 25 anos, a empresa precisa se reinventar continuamente.
Onde você quer chegar?
Minhas metas são de curto prazo, mas quero continuar evoluindo, sem passar por cima de ninguém. Quero equilíbrio entre trabalho e família, com todos ao meu redor felizes. Trabalho porque gosto, então não penso em parar. Quero melhorar um pouco a cada dia.
Fabrício França Lima é fundador e CEO da Power Tuning
Veja abaixo a entrevista completa: