Entrevista de Domingo

Marilúcia Dalla: "Cuidar da saúde é o que nós mais queremos"

A presidente da Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer (Afecc), conta como o hospital com o maior complexo oncológico do Estado pretende se consolidar cada vez mais como referência no setor de saúde capixaba

Marilúcia Dalla foi eleita líder empresarial do ano no segmento saúde e aposta na tecnologia para tornar o Hospital Santa Rita cada vez mais referência no ES. Crédito: Reprodução de TV
Marilúcia Dalla foi eleita líder empresarial do ano no segmento saúde e aposta na tecnologia para tornar o Hospital Santa Rita cada vez mais referência no ES. Crédito: Reprodução de TV

O setor de saúde do Estado é apontado como promissor e com possibilidades que envolvem novas tecnologias, geração de empregos e geração de riqueza. Nesse sentido, lideranças efetivas do segmento podem fazer total diferença na prestação de serviços e na geração de oportunidades. 

Uma dessas lideranças é a presidente da Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer (Afecc), Marilúcia Dalla. A Afecc foi fundada em 1952. No começo, era para acolher pacientes em tratamento de câncer. Em 1970, o Hospital Santa Rita foi inaugurado e passou a ser referência no tratamento de câncer aqui no Espírito Santo. 

Hoje, o hospital reúne o maior complexo oncológico do Espírito Santo e também é voltado a projetos sociais. Tem previsão de ampliação e quer se consolidar como o melhor hospital do Espírito Santo, com atuação semelhante à de grandes centros de excelência em saúde do Brasil e do mundo. 

Para conseguir chegar a esse patamar, é preciso saber lidar com uma doença tá difícil como o câncer. E a experiência mostra que o equilíbrio entre cuidados técnicos e o voluntariado faz muita diferença.

Veja abaixo a entrevista com Marilúcia Dalla:

Como é lidar com os voluntários que trabalham na Afecc? 

Nós temos uma diretoria que também é voluntária, além de diversas pessoas que se colocam para ajudar esses pacientes. Eles ajudam no leito, levam uma palavra, ajudam no lanche que a gente distribui. 

Não é ruim lidar com eles. Eles têm um coração muito voltado para o amor, para o acolhimento. Então, é fácil lidar com eles, é muito bom lidar com eles.

Você acha que é diferente de lidar com funcionários contratados? Existe essa diferença?

Sim, tem diferença. Porém é também da função, das atribuições. A função já traz uma diferença por si só.

Em 2024, você foi eleita líder empresarial no segmento de saúde. Como é liderar o mais importante centro de tratamento de câncer do Estado?

Ao mesmo tempo que traz muita satisfação, traz também uma responsabilidade enorme. O Hospital Santa Rita hoje é o único Cacon do Espírito Santo. É o Centro de Alta Complexidade em Oncologia. Nesse sentido, por sermos essa referência, esse hospital completo, a gente precisa devolver aos nossos clientes um serviço de qualidade. 

Cuidar da saúde é o que nós mais queremos. Cuidar é o nosso lema, é a nossa missão. E cuidar com qualidade, com responsabilidade e compromisso.

E como o Santa Rita está posicionado em relação aos grandes centros nacionais?

Hoje estamos no mesmo patamar dos grandes centros. Dizemos que as pessoas do Estado não precisam mais sair de Vitória. Ou seja, temos uma estrutura muito bem montada, com equipamentos de ponta e um corpo clínico excelente.

Além disso, todos estão em constante capacitação, participam dos maiores congressos. Estamos no mesmo nível das grandes instituições de São Paulo e do Rio.

O que as demandas do dia a dia exigem da gestão do Santa Rita?

Rapidez e assertividade. Lidamos com vidas, então as decisões têm que ser rápidas e certeiras. Também é essencial o acolhimento. Nesse sentido, acreditamos que ele faz parte do tratamento. 

E, claro, muito cuidado com a aplicação dos recursos. Ou seja, investir naquilo que realmente vale a pena.

A transparência é um valor nosso. Temos um orgulho enorme disso.

Uma ferramenta que nos ajuda muito é o “Escritório de Valor”, onde temos acesso, em tempo real, aos dados do hospital. 

Se algo está acontecendo no pronto-socorro, por exemplo, conseguimos ver na hora. Isso facilita muito a tomada de decisão.

Tem diferença gerir uma empresa de saúde em relação a outras áreas?

Na saúde lidamos com vidas. Ou seja, a responsabilidade é ainda maior. Do mesmo modo, um hospital é como uma pequena cidade: tem restaurante, farmácia, consultório, manutenção… tudo. E o mais valioso é a saúde das pessoas. 

Eu costumo dizer que no Hospital Santa Rita nós não tratamos doença – nós viabilizamos saúde.

E como você lida com essa pressão pessoalmente? 

Volta e meia eu preciso de um respiro. O dia a dia é muito corrido. Hoje mesmo eu falei que estou cansada… e é só quarta-feira! 

Eu tenho dificuldade de parar. Trabalho também na Faesa, começo o dia às 7h e só paro às 8 ou 9 da noite. Então quando chega o fim de semana, quando posso, respiro. Leio, fico com minha família, vou para Pedra Azul ou Guarapari. Isso me recarrega.

Quais são os desafios e oportunidades da saúde no ES?

Apesar de ser um Estado pequeno, temos um bom complexo de saúde. O maior desafio é oferecer qualidade e manter um parque tecnológico atualizado. Agora mesmo estamos inaugurando nossa medicina nuclear com PET-CT.

As pessoas não precisam mais ir a São Paulo para fazer esse exame. E estamos começando com cinco pacientes do SUS. Isso nos enche de alegria. Porque é por esses pacientes que nós, voluntários, estamos lá.

Como é equilibrar foco no tratamento oncológico com a necessidade de diversificar os serviços?

Nosso foco é oferecer ao paciente toda a linha de cuidado que ele precisa. Temos neurologistas, cardiologistas, pediatria, maternidade, ortopedia. Tudo com estrutura de ponta. O paciente entra no Santa Rita e tem o percurso completo dentro do hospital, sem precisar “pingar” de lugar em lugar.

Queremos cada vez mais oferecer esse cuidado integral.

E como você avalia a prestação de serviço no ES?

Em alguns casos, deixa a desejar por questões financeiras. Algumas instituições estão com muita dificuldade. E para cuidar, você precisa de investimento e sustentabilidade.

Graças a Deus, o Santa Rita é um exemplo de equilíbrio. Temos funcionários e gestores comprometidos, que vestem a camisa. E isso é essencial: pessoas são o mais importante.

E a concorrência? Ela ajuda a melhorar ou atrapalha?

A concorrência pode puxar para cima, desde que seja saudável. Porém, o mais importante é manter o foco em cuidar com excelência, com qualidade e com compromisso. Esse é o nosso propósito. Concorrência existe e isso é bom.

Eu não vejo a concorrência na nossa área como a do mercado industrial, por exemplo. Vejo, sim, uma concorrência saudável, com todos querendo oferecer o melhor. Nesse sentido, lutar para oferecer o melhor é válido.

Temos bons concorrentes. No entanto somos um hospital independente. A maioria hoje em dia faz parte de grupos, e nossa independência nos permite trabalhar melhor com as operadoras. 

Para onde você acha que a saúde capixaba tende a crescer?

Acho que cada vez mais teremos que crescer pensando nesse tripé: qualidade, acolhimento personalizado e uma estrutura com parque tecnológico de melhor qualidade.

E isso vale para todo mundo. Pensa: se você procura um hospital e sabe que o parque tecnológico está sucateado, que os médicos não são reconhecidos, que não tem uma estrutura legal, você vai preferir outro lugar. Isso é o básico.

O hospital precisa trabalhar isso no dia a dia, para transmitir segurança e qualidade.

Para onde caminha o Santa Rita?

Nosso foco hoje está voltado para dentro. Mês que vem iniciamos a construção do novo pronto-socorro, com entrada voltada para a rua, o que facilita o acesso. Teremos quatro andares de estacionamento, pensamos até em manobristas para agilizar.

Também já estamos em construção da nossa quarta máquina de radioterapia — o que há de mais moderno, com braço robótico. Ela já está conosco, estamos finalizando a casamata, que precisa de paredes de chumbo por causa da radiação. Até o fim do ano deve estar pronta. 

Hoje, 98% das radioterapias do SUS no Estado são feitas por nós. É muita coisa.

Além disso, vamos iniciar a construção do Bloco 16, todo destinado ao SUS, com apartamentos refrigerados de dois e três leitos, com mais privacidade, áreas para lavar roupa, secar — tudo pensado também para quem vem do interior.

E vamos aumentar leitos de UTI, salas de cirurgia. Nosso foco está muito na qualidade e no que podemos melhorar aqui dentro. Claro que observamos o mercado, mas nosso olhar hoje está voltado para dentro.

O mercado fala de um apagão de mão de obra. Isso também acontece com vocês?

Acontece, porém lidamos com isso de forma estratégica. Temos o Instituto Santa Rita, voltado para ensino, pesquisa e extensão. Trabalhamos com nosso pessoal em todas as áreas. Nesse sentido oferecemos cursos, congressos. Em maio, por exemplo, teremos o quarto congresso. Também oferecemos cursos para indústrias e empresas.

Só na área de saúde?

A maioria é na área da saúde, mas também temos cursos na área administrativa e financeira. E oferecemos consultoria para outros hospitais também. O instituto serve para qualificar melhor nosso time, bem como selecionar talentos do mercado.

Tem sido suficiente para suprir a demanda?

Conseguimos aproveitar bem, mas ainda temos demanda reprimida em alguns segmentos.

A faculdade prepara, mas nem sempre entrega tudo que o hospital precisa. Por isso, temos hoje oito programas de residência. 

Uma empresa externa aplica as provas e ranqueia os candidatos, que passam dois ou três anos conosco. Os melhores geralmente ficam.

E como você avalia a formação da mão de obra em saúde no ES?

Falo da nossa, do Santa Rita. Eu mesma me trato lá, minha família também. Confio na nossa equipe. Eles não param: discutem casos em reuniões, dão aula para os residentes, estão sempre estudando. Quando surge algo novo no exterior, eles já sabem. São muito dedicados e procuram se capacitar sempre. Nossa mão de obra é excelente.

Onde você acha que o Hospital Santa Rita vai chegar?

Temos muitos sonhos. Queremos estar sempre entre os melhores hospitais. Não só do Brasil, mas referência fora também. Sermos reconhecidos pela qualidade, pelo atendimento, pelo acolhimento. E sermos sempre a primeira opção do cidadão quando ele precisa de tratamento.

Marilúcia Dalla é presidente da Afecc

Veja abaixo a entrevista completa: