Entrevistas

Pablo Lira: "O Espírito Santo é um estado luz no Brasil"

Pablo Lira, diretor geral do Instituto Jones em entrevista ao Valores
Pablo Lira, diretor geral do Instituto Jones em entrevista ao Valores

Dados que apontam caminhos para o desenvolvimento e para o crescimento da economia. Ciência e informação a serviço do crescimento. Tudo isso é matéria prima do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN). A empresa pública fornece informação e conhecimento atualizados sobre o Espírito Santo. Realiza estudos e pesquisas nas áreas econômica, social e territorial. Avalia políticas públicas e dá acesso a tudo isso a qualquer cidadão, por meio de biblioteca e acervo digital.

E à frente desse verdadeiro canhão de informações que fazem a diferença para o desenvolvimento do Estado está Pablo Lira. E ele é categórico em afirmar, com base na ciência, que o Espírito Santo vive o seu melhor momento econômico e social da história. Graças à continuidade de medidas tomadas por governos e setor produtivo ao longo dos últimos 20 anos, pelo menos. E essa não é só uma opinião. É o pensamento de quem tem uma bagagem impressionante de conhecimento.

Veja abaixo a entrevista de Pablo Lira:

Esse boom de desenvolvimento econômico que o Estado vive hoje já estava previsto pelos números lá atrás?

Com base em evidências científicas, a gente pode afirmar que o Espírito Santo vive hoje o seu melhor momento econômico e social das últimas décadas. A gente pode pegar ali do período da redemocratização para cá e este é o melhor momento que a gente vive na história do desenvolvimento econômico do Espírito Santo.

De acordo com dados do IBGE e do Instituto Jones, a economia brasileira em 2023 cresceu 2,9%, enquanto a economia do Espírito Santo cresceu quase duas vezes mais, 5,7%. Também no ano de 2023 o Espírito Santo alcançou a menor taxa de desemprego de toda a sua série histórica, que foi de 5,7%, enquanto a taxa de desemprego do Brasil foi de 7,8%.

Observamos ainda, no Estado no ano passado, redução, no seu menor nível, das taxas de pobreza e extrema pobreza. O Espírito Santo se destaca entre os estados com as menores taxas de mortalidade infantil e junto com Santa Catarina, conseguimos superar a esperança de vida ao nascer dos 80 anos.

Com base nesses dados e evidências científicas, a gente pode dizer que que o Espírito Santo é, hoje, um estado luz no Brasil.

 

Essas conquistas, de todos os capixabas, são resultado de um processo que integrou o governo do Estado, junto com os poderes democráticos e republicanos, setor produtivo e vem com uma integração e sinergia muito positiva desenvolvendo ações estratégicas que possibilitaram a gente nesse patamar diferenciado. 

Qual o papel do Instituto Jones no apontamento das direções para o futuro?

Nossa missão é ser uma instituição de pesquisa que produz dados, informações e também tecnologia que auxiliam o planejamento de estado e também o processo decisório estratégico para o crescimento e desenvolvimento do Estado. Um grande exemplo que a gente tem e está agora em destaque é que o Espírito Santo está atualizando o seu plano de desenvolvimento de longo prazo, que é o ES 500 anos. É um plano que vai traçar as metas, visão, objetivos e missão do Estado até 2035, quando em 23 de maio  o ES completa 500 anos de colonização do solo espiritossantense.

O IJSN está envolvido nesse processo, junto com o governo do Estado, com o movimento empresarial Espírito Santo em Ação, muito importante, estabelecendo as métricas. Quais são os indicadores, onde a gente está hoje e onde a gente quer chegar em relação aos indicadores macroeconômicos como o PIB, PIB per capta, IDH, taxa de pobreza, desemprego, a questão da segurança alimentar? Então todo esse trabalho, lastreado em evidências científicas e fatos, será utilizado para pensar o futuro do Estado e dos capixabas.  

O que os dados de hoje sobre a nossa economia apontam de oportunidades para o futuro?

Apontam que o Estado tem todas as condições de seguir esse caminho de destaque em nível nacional até o final desta década e até 2035. E também destacam os caminhos para impulsionar a nossa economia com o olhar do desenvolvimento regional.

Dá para citar alguns desses caminhos?

Sim. A gente observando a nossa história econômica pode dizer que o Espírito Santo lá entre 1850 e 1950 viveu o primeiro grande ciclo econômico, que foi puxado ali pela cafeicultura. Na década de 60 até o final dos anos 90, o ciclo da industrialização e da urbanização. Nos anos 2000 para cá, a gente tem o destaque do advento do petróleo.

Em 2002, de acordo com os dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo), o ES contribuía com 2% da produção de petróleo e gás do Brasil. 10 anos depois, em 2012, o Espírito Santo passou a contribuir com mais de 15%. Então essa perspectiva do petróleo é um fato que a gente está vendo que desde 2010 para cá e no ES tem um dinamismo próprio.

O advento das energias limpas é real e a gente tem potencial. Tem um mapa da energia eólica aqui no Estado e a gente tem um potencial muito forte para deslanchar também nesse segmento de energias renováveis. E ainda temos  as bases produtivas já estabelecidas por aqui, como a mineração, siderurgia, rochas ornamentais, papel e celulose, indústria metal mecânica, setores de serviços.

Temos instituições que estão ganhando o território nacional com serviços especializados em saúde… educação. Então, temos vários segmentos promissores. O potencial da economia do turismo é enorme e o ES vem se destacando com bons indicadores acima da média nacional, assim como a economia criativa também.

A gente está vivendo no século XXI, a era da tecnologia, a era da informação e a gente vê aqui no Estado o trabalho do governo, do Sistema S, das federações mobilizando o ecossistema da inovação.

 

Podemos perceber o setor de tecnologia e informação gerando um ambiente propício para as empresas capixabas ganharem o mercado brasileiro e mundial. Grandes empresas dessa área da tecnologia da informação, que é esse segmento da economia criativa, estão ganhando mundo. Empresas do setor de vinhos, fintechs, entre outras empresas graças a esse ambiente muito promissor e a esse ecossistema de inovação aqui do Estado.

E desafios? 

Vários desafios. Primeiro, o ponto forte do Estado que é a logística. O Espírito Santo tem estrutura portuária, avanços no setor aeroviário, projetos importantes para ferrovias. Mas a gente depende, para dar um novo salto, do governo federal, da União de maneira geral.

O governo federal tem um passivo com o Estado.

 

Muitas das conquistas que nós temos aqui do ponto de vista da logística foram de lideranças locais. Governantes, setor produtivo… olha o exemplo do Aeroporto de Linhares. A atuação de lideranças locais faz a diferença. Mas, se a gente olha para outros estados, vizinhos nossos, a gente vê uma presença mais marcante do governo federal. Olha que tristeza foi, e graças a Deus foi resolvida, a novela do Aeroporto de Vitória. Se a gente tivesse um olhar mais atento da União, a gente teria esse desafio do aeroporto resolvido em um curto espaço de tempo.

Então é um grande desafio trazer esse olhar do governo federal para a nossa logística, especialmente para a logística rodoviária. Principalmente para as BRS 101, 262 e 259. É inconcebível, pelo potencial logístico que o Estado tem para o Brasil e para o mundo, que o governo federal não dê uma atenção especial para esses desafios da logística que nós temos. 

Que papel a classe empresarial tem no desenvolvimento do Estado hoje?

É central. A gente olhando hoje, principalmente esse último ciclo, que pega de 2000, 2010 para cá, tem que falar que  hoje o ES é um estado luz no Brasil. Mas, há 20 anos, a gente tinha vergonha de falar que é capixaba. Era um Estado marcado pelo crime organizado tomando conta das instituições públicas… era um cenário muito desafiador para o empresariado e a gente teve uma ampla mobilização de lideranças políticas, lideranças democráticas.

A gente não teve um salvador da pátria que tirou a solução de uma cartola.

 

Foi uma solução coletiva naquele período que envolveu o Fórum Reage Espírito Santo, a ONG Transparência Capixaba… na época o ES era o último em transparência no Brasil. Hoje é o mais transparente. E também foi essencial naquele período a mobilização do setor empresarial. O ES em Ação, as associações regionais como a gente tem em Vila Velha, na Serra, em Cachoeiro. Então hoje a gente tem o movimento empresarial em um ambiente propício e também de integração com o governo do Estado e os poderes estabelecidos. 

O Espírito Santo depende mais de ações do Estado ou da identificação de oportunidades por parte de empresários? Por que?

Dos dois vetores. E esse exemplo que a gente tem do Plano ES 500 Anos concretiza isso. O poder público, os governos, caminham junto com o setor produtivo, pensam em estratégias comuns. Só para te dar um exemplo, o planejamento atual, que é o plano 20/30, foi adotado como referência para o planejamento da classe empresarial. As duas vertentes são fundamentais e comungam de objetivos comuns que convergem para o desenvolvimento do nosso Estado.

Podemos afirmar que o Espírito Santo hoje é o porto seguro para viver e atrair investimento.

 

Inclusive a gente tem os números de investimentos  lá no Instituto Jones que apontam que todos os setores econômicos do Estado com previsão de expansão e atração de investimento. Até 2027, são mais de R$ 65 bilhões de investimento público e privado em todos os segmentos e em todos os 78 municípios do Estado. Inclusive esse número tende a aumentar nas divulgações que a gente vai fazer no futuro. Então, é um cenário muito promissor.

Você acha que o melhor programa social é o desenvolvimento econômico? O que dizem os números?

Falando do Brasil a gente fala de uma país que tem desafios históricos, como a pobreza, a miséria. Falando de pobreza a gente fala de pessoas que ganham menos de R$ 664 mensais. Falando de extrema pobreza são pessoas que ganham menos de R$ 268 mensais. Mas, agora, em 2023, a gente chegou ao menor patamar por conta de quê? Políticas sociais voltadas para esse grupo de pessoas vulneráveis. E a outra explicação para a redução da pobreza é o desenvolvimento. É a perspectiva econômica.

Se você tem a economia andando bem, gerando emprego e gerando renda, você também consegue resolver desafios históricos e sociais como a pobreza e extrema pobreza. E cada vez mais a gente vai dependendo menos de políticas de transferência de renda, por exemplo. No atual momento, ainda é necessário no Brasil, e estamos falando de um dos países que tem  a maior desigualdade social do mundo, que tenhamos essas políticas. Mas, com o desenvolvimento, a gente vai dependendo cada vez menos.

Do ponto de vista do desenvolvimento econômico, onde os municípios devem concentrar investimentos? Por que?

Os municípios cumprem um papel muito relevante na educação. E a gente tem exemplos aqui no Estado de políticas estruturais como o Plano Estadual de Educação, que está alinhado ao Plano Nacional de Educação que vai ser revisto agora em 2024. O município tem papel fundamental. Um exemplo é a Escola de Tempo Integral que virou uma política de Estado e a gente conseguiu ganhar um crescimento exponencial nos últimos anos no número de escolas e também nas matrículas, que é um indicador do Plano Nacional de Educação. O Estado promoveu uma ação, junto com os municípios, para ampliar a oferta de educação de tempo integral também no ensino fundamental.

O município também tem um papel essencial no planejamento urbano. Se o município vai receber uma empresa, que tem interesse de se instalar, o primeiro ponto que vai ser demandado é o Plano Diretor Municipal. Eu, como investidor, vou olhar e definir: qual a área daquele município que vou querer me instalar? Qual a mais adequada? Pode ser uma indústria, um comércio…

E aí, se o município tem investimento na política de ordenamento territorial, e isso é um ponto de atenção para o desenvolvimento do Estado, fica mais fácil atrair empreendedores e cuidar desse crescimento ordenado da mancha urbana. Evitar de repetir aqueles problemas que aconteceram nas décadas de 70 e 80 na Grande Vitória e reproduzir nos municípios polos regionais. E qual o caminho? Lançar mão dos instrumentos da política urbana brasileira que estão na Constituição.

O que os números dizem sobre a reforma tributária? O Estado deve temer essas mudanças?

Tem um estudo do IPEA (Instituto de Política Econômica Aplicada) que apontou que o Estado está entre aqueles que teriam algumas perdas. A gente fez um trabalho integrado com o Ipea para monitorar esses resultados, mas o principal fator que a gente tem é essa alteração do local da cobrança do tributo, do local de origem para o local de destino e a gente sabe que o ES tem o potencial produtivo muito forte, mas com o consumo muito menor.

Estamos falando de um Estado que não é tão forte na composição do mercado consumidor nacional. Mas o ES tem esse potencial muito forte de resiliência, de se adaptar às adversidades. E faz toda diferença essa integração de esforços, do setor público com o setor privado, para a gente agregar valor, para a gente ter perspectivas, para atrair investimentos.

Você acha que a política pode atrapalhar o desenvolvimento econômico?

A política pode atrapalhar sim, Nessas duas últimas décadas tem lideranças políticas e empresariais que estão zelando muito bem para o desenvolvimento econômico e social do nosso Estado. Como eu já falei, não existe salvador da pátria, um milagreiro que consegue resolver todos os problemas com um passe de mágica. A gente tem que desconfiar dessas pessoas.

Muitas vezes atores políticos em atitudes de vaidade e individualismo podem tirar o ES do rumo certo que a gente está trilhando.

 

Se nenhum fator atípico acontecer nos próximos anos e nas próximas décadas, o ES vai estar em um lugar ainda melhor do que a gente está vivendo hoje, que já é um cenário muito positivo considerando todos os avanços que a gente vem alcançando enquanto sociedade capixaba.

 

Pablo Lira é diretor geral do Instituto Jones dos Santos Neves, doutor em Geografia e mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Ufes. Tem especialização em Conservação Ambiental e bacharelado em Geografia também pela Ufes, e aperfeiçoamento em Planejamento Urbano pela Universidade de Cergy, na França. Além do comando do IJSN, ele é professor em cursos de mestrado e especialização em instituições públicas e privadas do Estado em temas que vão desde a segurança pública até planejamento urbano e implementação de políticas públicas.

Veja abaixo a entrevista completa em vídeo: